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Confusão política

Esquerda na imprensa burguesa? Arma para infiltração ideológica

A burguesia se utiliza de esquerdistas dispostos a cumprir o papel de joguetes para infiltrar a esquerda e o movimento operário. A confusão é um entrave ao avanço da luta

A confusão política é uma arma de guerra da burguesia contra os trabalhadores, e a imprensa burguesa é mestra em alastrá-la. No último sábado, 28 de outubro, o sociólogo esquerdista Muniz Sodré publicou coluna na Folha de S.Paulo intitulada “Barbárie tem fonte, mas não tem identidade”. Peça chave na difusão das confusões, que se poderia chamar ilusões, empecilhos para a organização dos trabalhadores, são intelectuais e entidades da esquerda que difundem as confusões boladas pela burguesia como válidas e centrais para a luta dos explorados. É esse o caso dos esquerdistas colunistas da Folha, vamos ao texto.

“Até agora, as sínteses de especialistas sobre o conflito entre Israel e o Hamas acentuam expressões fortes e pessimistas como ‘abismo de ódio’ e ‘nenhuma porta de saída’.”

De início, é importante colocar: as “expressões fortes” apontadas não têm significado algum. São vazias de conteúdo. Não há algo concreto que as embase ou que demonstrem. O uso desse tipo de jargão é despejado na esquerda para que ela utilize um pensamento que por si é destacado da realidade, portanto incapaz de interpretá-la.

“Unânime é o reconhecimento enfático da barbárie perpetrada pelo Hamas contra a massa desarmada de mil e quatrocentos israelenses, embora a mesma ênfase arrefeça quanto à morte por bombardeios de mil e novecentas crianças, dentre um total de seis mil palestinos”

O autor, então, passa a estabelecer uma realidade falsa, pura propaganda imperialista, como fato. Barbárie do Hamas? Uma pessoa de esquerda jamais poderia afirmar tal absurdo. Com o risco da falta de originalidade, já dizia Luiz Gama: “O escravo que mata o seu senhor, seja em que circunstância for, o faz sempre em legítima defesa.” A situação do Hamas e do povo palestino, embora não idêntica, é análoga. A Faixa de Gaza é um campo de concentração, que seus habitantes se revoltem contra aqueles que os massacram, é não apenas natural, mas justo, completamente justificado, e não há nada que possam fazer para que seus atos, nesse sentido, sejam considerados como barbárie.

Aqui, a denúncia do não reconhecimento da morte dos palestinos é uma farsa utilizada para traficar a política imperialista para o seio da esquerda, é o que definiria o texto como “esquerdista”. Não há denúncia real, basta ver o título e o início do texto, dúbios, e tal dubiedade política se dá porque, para o “esquerdista” do imperialismo, não é possível tomar uma posição real em defesa daqueles que são esmagados por seus (do autor) próprios mestres. Seguem outros truísmos (afirmações colocadas como verdadeiras sem demonstração de por que o seriam).

“Barbárie tem fonte, mas não tem identidade. Nem se avalia por números.”

Que quer dizer isso? Qual é a fonte? O que se quer dizer com identidade? Seria explicitado ao longo do parágrafo? Não.

“O extermínio massivo no Oriente Médio é tão bárbaro quanto o terror semanal na zona oeste ou na Baixada Fluminense, as endêmicas mortes de crianças por balas aleatórias, as execuções de turistas na paisagem carioca. O que assombra a consciência global é o estado de desvario em que a dizimação do outro parece destino irrecorrível. É a condição convulsa da guerra perpétua.”

As execuções de turistas aqui ficam como um ponto fora da curva, porque de fato não são algo nem perto de tão corriqueiro quanto os outros fatos. Nos detenhamos na rotina (na existente) da violência apontada pelo colunista da Folha. Quem pratica o extermínio no Oriente Médio agora? A base militar dos EUA na região, chamada “Israel”. O sionismo, a política imperialista. De onde vem o terror semanal na Baixada Fluminense e as mortes de crianças por “balas aleatórias”?

As balas “aleatórias” têm a mesma “aleatoriedade” que as operações policiais, que não são tão “aleatórias” assim. E o terror na Baixada Fluminense é praticado por serviçais da burguesia. Ao fim e ao cabo, quem manda em ambos é o imperialismo. Caso subamos a escada de mandantes, daqueles que determinam essa política de terror contra a população pobre, até o topo, chegaremos aos mesmos que impõem o terror em Gaza. Ora, então a barbárie não só tem fonte, mas tem identidade, e a identidade da mesma é o imperialismo.

“O que assombra a consciência global é o estado de desvario em que a dizimação do outro parece destino irrecorrível. É a condição convulsa da guerra perpétua.”

Que seria a consciência global? E porque uma estrutura na escrita que parece feita para não ser compreendida? Também o formato acadêmico da escrita é uma forma de disfarçar a política imperialista que está sendo colocada, para enganar os incautos.

Bom, vamos traduzir: “o que assombra as pessoas no mundo é o estado de delírio em que a aniquilação do outro parece um destino inevitável”. Quem são essas pessoas que estão assombradas? Podemos supor que o próprio autor projete aqui seu pensamento e, portanto, demonstra não compreender a situação. Agora vejamos com cuidado:

Estado de delírio em que a aniquilação do outro parece um destino inevitável.” Enxuguemos. “Delírio em que a aniquilação do outro parece inevitável.

Existe uma doutrina política apenas que coloca esta questão: o marxismo. Segundo a qual a burguesia inevitavelmente deixará de existir, onde as lutas se dão como desenvolvimento histórico do embate entre as classes sociais, do avanço das forças produtivas. Ou seja, diz o autor: o marxismo é um delírio. Parece algo não relacionado, mas não é.

O cenário na Palestina é colocado de maneira análoga à luta de classes. Interesses opostos estão colocados, e o interesse da minoria dominante e exploradora se garante pela força de armas e dinheiro, pela força do imperialismo, é uma extensão deste. Já o povo palestino é composto de trabalhadores que querem sobreviver dignamente apenas.

A única solução para o conflito é o fim da classe dominante. Não existe outro meio. É importante destacar aqui: no caso, o imperialismo é representado não pela população que se encontra em “Israel”, mas pelo Estado de “Israel”, que inevitavelmente acabará. Em outras palavras, Muniz Sodré diz que é um erro colocar em questão o fim da base militar dos EUA no Oriente Médio, único caminho real para a paz na região.

A tal guerra perpétua assinalada por ele se resolverá apenas pelo fim do conflito, quando os explorados depuserem os exploradores, de modo que não haja mais a contradição. Os palestinos são apoiados pelos explorados de todo o mundo. A decadência do imperialismo aponta para o fim da “guerra perpétua”.

O artigo continua para falar em “fanatismo religioso” dos sionistas, “desconfiança dos árabes”, uma bobajada. Para definir a questão, basta recorrermos à fala do presidente dos EUA, Joe Biden, em 1986:

“Se olharmos para o Oriente Médio, Eu acho que já está na hora que paremos — aqueles de nós que apoiamos, como a maior parte nós apoia, Israel neste parlamento — de pedir desculpas por nosso apoio a Israel. Não há desculpa a ser dada. Nenhuma. É o melhor investimento de US$ 3 bilhões que nós fazemos. Se não houvesse uma Israel, os Estados Unidos teriam que inventar uma Israel para proteger seus interesses na região.” E reforça: “Os Estados Unidos teriam que ir e inventar uma Israel.”

Muniz Sodré coloca que “Israel” foi formado através de guerras com o apoio dos EUA, para assegurar o domínio colonial da região, mas a coisa sempre fica aquém de chegar no ponto fundamental. Novamente, logo após essa “denúncia”, uma denúncia farsesca, Sodré foge do ponto e joga uma confusão política para encobrir a realidade:

“É a lógica colonial na nova ordem pós-racial (pós-Segunda Guerra) da tomada de terras: constrói-se um Estado de colonizadores brancos à revelia da população nativa.”

O motivo da questão é racial para o autor, não econômico. Portanto, basta que todos sejam antirracistas, e o mundo viverá em paz. Não há interesses materiais conflitantes, não o imperialismo. O colunista cita de passagem o ponto econômico para sair ruidosamente rumo a uma viagem ao mundo da fantasia.

As confusões políticas propagadas pela burguesia devem ser desfeitas de maneira total e completa. São não simples confusões, mas armas de guerra da burguesia, impulsionadas com dinheiro, cargos e etc. Não à toa um texto de nível tão baixo, e de um esquerdista, foi publicado num dos jornais da burguesia. O objetivo é rebaixar toda a esquerda e o movimento operário. A imprensa operária, no entanto, e o próprio desenvolvimento da luta de classes, já escanteiam as ideias joguetes do imperialismo.

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