Ao contrário do que fez diante da guerra da Ucrânia, quando responsabilizou os países ricos pelo conflito e se negou a sancionar a Rússia, o governo Lula tem adotado uma posição lastimável diante do conflito entre palestinos e israelenses no Oriente Médio.
Embora árabes e sionistas vivessem em guerra havia décadas, o ataque bem sucedido das organizações armadas do dia 7 de outubro marcou uma nova etapa na conflito. Pela primeira vez, grupos como o Hamas tiveram êxito em um ataque de grande envergadura no território ocupado por Israel, o que fez com que as tensões se escalassem.
Assim que aconteceu o ataque, o governo decidiu condenar o “terrorismo” do Hamas – uma posição profundamente reacionária. Afinal, o povo palestino sequer tem um exército – os grupos guerrilheiros são a única forma de se defender do massacre realizado pelo exército israelense, que é equipado, apoiado e financiado pelos Estados Unidos. Condenar a reação do Hamas era o mesmo que condenar um judeu que se levantasse contra os nazistas em um campo de concentração.
Acontece que a posição do governo Lula era ainda pior, pois ao associar o Hamas ao “terrorismo”, o governo estava assinando embaixo de uma gigantesca campanha de calúnias que viria a seguir. A imprensa imperialista – a mesma que tanto difamou os governos do PT – vem, há semanas, disseminando todo tipo de mentira dos órgãos de inteligência do Estado de Israel.
Pior ainda para o governo ficou após Israel se valer do ataque dos guerrilheiros para bombardear civis e até usar armas de fósforo branco. Até o momento, enquanto o governo teve a capacidade de rapidamente condenar o Hamas, não se mostrou capaz de denunciar que o que está acontecendo em Gaza é um genocídio.
A política do governo Lula é uma capitulação diante da pressão que está sofrendo internamento pela direita. Para evitar um maior choque com os setores que sabotam o seu governo, decidiu esperar uma solução “diplomática” – isto é, uma solução na Organização das nações Unidas (ONU), onde quem comanda são os Estados Unidos e os países ricos. É até possível que, diante da crise que o genocídio palestino está causando, a ONU até tome alguma medida paliativa. No entanto, nenhuma medida que não seja a condenação total do genocídio em Gaza e o rompimento das relações com Israel seria uma medida efetiva.
Enquanto a ONU se diz estarrecida com determinados aspectos do conflito, o povo palestino está morrendo como mosca. A posição do governo, além de ser extremamente negativa para o movimento operário internacional, pois age em cumplicidade com o massacre de um povo oprimido, ainda dificulta a sua própria situação. Se persistir com essa política, o governo poderá perder o apoio de setores importantes de sua base e facilitar o caminho dos setores golpistas da esquerda nacional, que querem se aproveitar da posição do governo para fazer campanha contra ele.