Soube que um rapaz, que vi nascer, está jogando (e bem) futebol. Acho até que parte importante da criação de um bom brasileiro é jogar bola. A formação de um brasileiro passa, inevitavelmente, pelo futebol, de um jeito ou de outro.
Mas de qualquer maneira, ainda sobre o rapaz. Idas e vindas, puxando papo com ele, durante a trilha do Pico do Jaraguá, que é parte da 46ª universidade de férias do PCO, fomos conversando, quando pode, porque o moleque é ligeiro.
No topo do pico, quando eu já não conseguia saber se vivo estava, tendo calafrios em meio ao calor, sem saber como desceria aquilo, ele estava lá, sempre com tênis de futebol, correndo. O moleque que só anda com tênis de futebol, para escola, cinema, para rua, para casamento, sempre com tênis de futebol, tem futuro.
Enfim, tasquei a água dele, que parecia não ter muita necessidade e quase acabei com ela numa talagada só. Pedi desculpas e disse que ia encher. Já mais para lá que para cá, avancei:
“Treinando muito?”
“Sim”. Poucas palavras, mais uma característica de um futuro bom jogador de futebol.
“Onde?” Perguntei. Sabendo que ele é de Brasília (DF), e eu tendo nascido e criado naquela terra, pensei: Gama? O meu amado Taguatinga Esporte Clube (TEC)? Brasiliense? Times de outros estados que lá estão? Onde estava treinando aquele canela seca?
“Escolinha do PSG”, me respondeu.
Claro que fiquei meio paralisado com a informação. Estava cansado, com um sol de 40º na moleira, acabado, e ouvi que um garoto que vi crescer está treinando na escolinha do PSG. Esse PSG, o do Neymar. Eu reformulei a pergunta e tive a mesma resposta.
Ok, beleza, parabenizei.
Mas fiquei pensando que, de fato, eles, os grandes capitalistas do futebol, não estão perdendo tempo. Se era caro comprar os jogadores dos times nacionais ainda na base, mais em conta é já ter a garotada em sua escolinha tipo exportação. Só o PSG tem mais de 20 escolinhas de futebol espalhadas pelo Brasil. Barcelona já tem as suas também, e acho que todo grande time gringo tem suas bases instaladas no Brasil.
Lá de cima olhei a São Paulo gigantesca e fiquei pensando em que pé está isso. Se estão levando tudo mesmo, a molecada, os campos, os estádios, os times, absolutamente tudo. Você sai de uma derrota do Hexa e o falecimento do Rei Pelé (cuja cobertura do PCO foi a maior de todas), e entra o ano com a escola do PSG no seu encalço levando embora um garoto que você viu nascer.
Tirei um cochilo, pensando em problemas, e em como a gente pode ajudar na defesa do futebol brasileiro. A revista Zona do Agrião está tentando cumprir este papel, e chega à sua terceira edição. As coberturas do PCO sobre o futebol também são fundamentais. Com a ida para o funeral do Pelé a gente conseguiu firmar outro militante como amante do futebol e, claro, do Santos. Também pensei, pensando em outros problemas, em assaltar uma lotérica. Não foi um bom cochilo.
Bom foi ver os jogos da Copinha. Isso deveria fazer parte do calendário escolar, assistir a esses jogos. Meu Flamengo caiu para o Avaí… será que é difícil esse campeonato? Será que os gringos se dariam bem aqui, no Brasil, em qualquer série? Acho que não. E, na verdade, a copinha só dá esperança de que, apesar do PSG e da gringaiada toda, o Brasil ainda é uma formação industrial de craques, e o Hexa vem. Um alento, finalmente.