No último domingo (20), o povo equatoriano foi às urnas decidir o seu próximo presidente. Com 85% dos votos apurados, Luisa González, candidata do Movimento Revolução Cidadã, liderou a disputa com 33% dos votos. Daniel Noboa, empresário, ficou em segundo lugar, com 24% do total. Com isso, a eleição se encaminha para seu segundo turno, marcado para 15 de outubro.
“Pedimos a união de todos os equatorianos: setor privado, setor público, todas as forças do país para construir essa visão de pátria que nos dê condições dignas para todos e não apenas para um pequeno grupo”, disse González, a primeira lugar a disputar o segundo turno em eleições presidenciais no Equador.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, 82,26% dos eleitores compareceram às urnas. A população votou não só para eleger o presidente, como também para eleger 137 deputados e para vetar ou não, em um plebiscito, a exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuní, na Amazônia.
Em relação ao plebiscito, ainda segundo o CNE, 59% dos eleitores responderam “sim” para acabar com a exploração no Bloco 43, um grupo de campos de exploração de petróleo localizados no parque. Uma derrota grave visto que o Bloco 43 fornece 12% dos 466 mil barris de petróleo produzidos por dia pelo Equador. Os cidadãos de Quito, capital equatoriana, também rejeitaram o avanço da exploração mineral no Chocó Andino, localizado a cerca de 40 quilômetros do centro da cidade.
Os eleitores puderam escolher entre oito candidatos: Luisa González, do movimento Revolução Cidadã; o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner, da aliança Actuemos; Jan Topic, da coalizão Por um País Sem Medo; Daniel Noboa, da Ação Democrática Nacional, Yaku Pérez, da aliança Claro que se puede; Xavier Hervas, do movimento Renovação Total (RETO); o jornalista Christian Zurita, que substituiu o assassinado Fernando Villavicencio; e Bolívar Armijos, do grupo Amigo.
Villavicencio apareceu nas urnas porque as cédulas de votação haviam sido impressas antes de sua morte. Nesse sentido, ele ficou em terceiro lugar nas eleições, com 16,08% – votos que, por óbvio, irão para Zurita. Em quarto lugar está Jan Topic, com 14,6%.
Quem é Luisa González
González é do mesmo partido de Rafael Correa, ex-presidente do Equador, e, portanto, sua escolha para o pleito. A relação entre Correa e Luisa é estreita, ela já afirmou que ele será seu assessor caso ganhe e recebe amplo apoio do ex-mandatário equatoriano.
Ela é advogada com mestrado em Economia Internacional e Desenvolvimento pela Universidade Complutense de Madri, já tendo ocupado vários cargos durante a presidência de Correa, incluindo a chefia do Ministério do Trabalho. Em 2021, Luisa conquistou uma cadeira no parlamento como candidata pela União pela Esperança. Este foi seu último cargo público antes de lançar-se como candidata à presidência após o atual presidente, Guillermo Lasso, dissolver o parlamento.
Para o pleito desse domingo, González foi eleita nas prévias de seu partido em 10 de junho deste ano após a renúncia de Jorge Glas ao posto em decorrência das investigações que ocorrem contra ele – investigações provenientes da mesma farsa jurídica que obrigou Correa a viver em exílio.
“Vamos pegar o touro pelos chifres e vamos enfrentar as causas que geram violência e criminalidade , como a fome, a pobreza, a falta de educação, a falta de oportunidades”, disse González em 10 de junho ao ser anunciada candidata.
Apesar de se considerar de esquerda, a candidata é extremamente religiosa. Ela se recusou a usar um colete à prova de balas durante a campanha após o assassinato de Villavicencio. “Tenho fé em Deus, é ele quem nos protege”, disse. Por conta de sua fé, ela é oposta à legalização do aborto, chegando a afirmar que uma pessoa progressista não necessariamente precisa ser a favor da legalização do aborto.
De onde Daniel Noboa surgiu?
Daniel Noboa cheira a golpe. Durante as pesquisas eleitorais, seu nome nem mesmo aparecia entre os cinco primeiro colocados. Em uma pesquisa divulgada no dia 09 deste mês, por exemplo, enquanto González tinha 24% das intenções de voto, Noboa não conseguia alcançar nem mesmo os 3%. Em outra pesquisa, a esquerdista chegava a quase 30% dos votos, com o filo-imperialista Yaku Pérez em segundo lugar, com 14,42% dos votos, e Sonnenhalzner com 12,36%. E Noboa? Estava na categoria “Outros”, angariando, com outros dois deputados, 6,76% dos votos.
Ou seja, o empresário foi de uma das últimas colocações do pleito para o segundo lugar e, consequentemente, o segundo turno. “Não será a primeira vez que um novo projeto usa o establishment político. Esse frescor em fazer política é o que nos trouxe até aqui”, afirmou o candidato, caracterizado pela imprensa como “a surpresa” da votação. Esse tipo de colocação antissistema, inclusive, também é típico dos candidatos artificialmente impulsionados pela burguesia durante as eleições.
Filho de um dos homens mais ricos do Equador e cinco vezes candidato presidencial Álvaro Noboa, Daniel concorreu pela coalizão Ação Demorática Nacional (ADN), que inclui um partido fundado pelo primo do ex-presidente Lenín Moreno. Ele representa o maior grupo monopolista de todo o país, o grupo Noboa.
Em 2021, ele foi eleito deputado por Santa Elena com o apoio do movimento Ecuatoriano Unido. Durante sua passagem pelo serviço público, manteve participação em duas empresas: a Logic Choice, dedicada ao transporte de cargas pesadas, e a Nobexport, empresa bananeira.
Fica claro que Noboa não é um candidato antissistema. Muito pelo contrário, faz parte de um dos grupos mais poderosos do Equador, grupo que teria todas as condições de manipular as eleições para que Daniel fosse para o segundo turno, aproveitando, com isso, o assassinato de Villavicencio para angariar apoio da direita.
As próximas semanas até o segundo turno devem deixar mais claro qual a jogada da burguesia, mas, até agora, os acontecimentos dos últimos anos na América Latina indicam que Noboa, a “surpresa” do pleito, é um golpe da burguesia para levar a votação e derrotar a esquerda aliada de Correa.