Presente no Foro de São Paulo, o Diário Causa Operária entrevistou Carlos Castaneda, Secretário de Relações Internacionais da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional de El Salvador.
Diário Causa Operária: Você pode falar sobre a situação política em El Salvador agora? Como está a luta da esquerda?
Carlos Castaneda: Em El Salvador estamos vivendo uma situação extremamente complexa porque em quatro anos o atual regime desmantelou completamente as instituições do país. Ele é Presidente da República, é magistrado, é deputado, é prefeito, é juiz, é tudo do país. Essa é uma característica do regime autoritário e absolutista que vigora em El Salvador e a situação é delicada. No início deste mês de junho, foram aprovadas na Assembleia Legislativa duas reformas para reduzir 84 deputados para 60 deputados e reduzir 262 governos, prefeituras municipais para 44 prefeituras municipais, sob estudo de cálculos eleitorais e excluir, anular a oposição e o força esquerdista da FMLN.
Nesse sentido, é um controle absoluto do Governo do Estado e um elemento muito delicado. Existe um regime de exceção, há um estado de sítio permanente. Claro que a FMLN é da posição de que os criminosos devem ser punidos. Mas por que então 20.000 inocentes estão presos quando os dados oficiais são de 67.000 capturas? Por que então esses inocentes ainda estão na prisão? Por que eles estão presos? Por que eles estão forçando a família dessas pessoas inocentes a não poder ver seus parentes? Que liberdades? Que liberdade de expressão? Agora, quando as pessoas estão assustadas como resultado disso, elas não podem denunciar porque estão com medo. Esse é o regime de exceção.
Ser jovem em El Salvador é ser suspeito de ser criminoso. E isso não pode ser. Quando falamos sobre o desmonte do quadro institucional, estamos falando dos direitos humanos, do estado de direito e a justiça social. A manipulação, a guerra da imprensa é tremenda, está murchando nosso país. Mas, pouco a pouco, a reação popular, a reação social, sindical vai ecoando seu próprio descontentamento.
No ano que vem são as eleições presidenciais, no dia 4 de fevereiro, eleições para presidente e para deputados à Assembleia Legislativa. E, nesse sentido, a população e o trabalho conjunto da FMLN com as organizações sociais, com as organizações populares, com os sindicatos, com as cooperativas, vão dar o tom para que o povo possa dar uma resposta esmagadora. Já medindo que tudo que o governo tem executado é totalmente contrário às necessidades populares. O custo de vida é um assunto delicado, já não se come três vezes [ao dia] em El Salvador. Há famílias que comem uma vez e meia. E a situação rural no campo é muito mais complicada. Há fome, já não se pode comprar tortilhas, milho e feijão, que é a alimentação básica da nossa população, sobretudo no campo, onde o acesso ao rendimento é extremamente delicado. Já não se pode comer sem poder manter uma família de cinco ou seis membros da família. Essa é a situação em El Salvador. Apelamos ao povo salvadorenho para que dê uma resposta adequada na próxima disputa eleitoral.
Diário Causa Operária: E qual a importância do Foro de São Paulo para a luta da esquerda em El Salvador?
Carlos Castaneda: Somos 127 organizações, partidos, movimentos, integrantes do Fórum de São Paulo. E este é um cenário ideal necessário para unir, para compartilhar os objetivos comuns da luta latino-americana e caribenha. Então estamos falando de 127 organizações. E quais são as demandas das organizações do Foro? Por mais articulação entre nós, mais solidariedade diante dos problemas comuns que sofre a região da América Latina e Caribe. É a coesão das forças revolucionárias e progressistas de esquerda.
Por isso, devemos exaltar esta organização do PT do Brasil hoje com a organização do XXVI Foro de São Paulo. Porque aqui, precisamente, um plano de ação para todo o ano nos permite não só o acompanhamento, mas também a solidariedade, franca solidariedade, o internacionalismo que este tipo de forças políticas que combatemos e lutamos por uma mudança de regime, uma mudança social, uma mudança radical nas nossas sociedades. Demonstrou-se que o capitalismo não resolve os problemas das pessoas, muito pelo contrário, agrava-os, exacerba-os. E temos de ter respostas para estas situações que têm a ver com toda a sociedade.
Mas é a sociedade latino-americana e caribenha, com nossos irmãos que nos acompanham da Europa, dos Estados Unidos, do Canadá, nessas lutas do Foro de São Paulo.
Diário Causa Operária: Qual é o papel dos Estados Unidos nessa situação em El Salvador? Como eles influenciam a situação política?
Carlos Castaneda: Continuamos sendo influenciados. Embora tenha havido uma independência formal dos Estados Unidos, ainda somos colônias, eles continuam nos tratando como de periferia. Não somos importantes para eles, não somos necessários. O que importa para eles é o controle dessas repúblicas centro-americanas. Em particular, eles têm uma política neocolonialista, porque se realmente fosse algo além disso, os resultados já teriam sido vistos. Mas em 200 anos não vimos resultados, vimos calamidades e continuamos a ver calamidades, ou seja, aproveitar os bens naturais de nossos povos, de nossos países. Isso é o imperialismo. A natureza do imperialismo é minar a soberania, minar os recursos naturais de cada país, subjugar-nos, submeter-nos a um regime formal, mas, na prática, é imperialista.