O homem que foi preso na segunda-feira (19) ao atirar em uma escola no Paraná e matar um casal de estudantes foi encontrado morto na cela com sinais de enforcamento nesta terça-feira (21). Esse caso é mais um desses que seguem servindo como desculpa para o aumento da repressão e censura na internet, como se o uso das redes fosse o motor para tais ações.
Segundo se noticiou, em depoimento à polícia o autor dos disparos afirmou que vinha planejando o ataque há quatro anos. Segundo teria dito, era neuroatípico e sofria de esquizofrenia. Ele tem um histórico de violência, o que de certa maneira corrobora sua afirmação de ser uma pessoa doente.
Essas poucas informações já derrubam a tese de que haveria um estímulo vindo das redes, que as pessoas estariam ali planejando e/ou encorajando esse tipo de crime.
Ora, se alguém planeja um delito, por que trataria do assunto nas redes sociais onde teria grande chance de ser descoberto?
O truque
No Brasil não é comum esse tipo de ocorrência, ou pelo menos se divulga pouco. O que pode dar a impressão de que se trata de uma novidade. Como as redes sociais são algo relativamente novo, se liga automaticamente uma coisa à outra.
Em outro cenário, temos o caso da eleição de Bolsonaro. A grande imprensa, bem como a independente, martelaram que isso teria sido devido a disparos massivos de mensagens contendo mentiras às vésperas do pleito. Criou um mito de que um aplicativo, no caso o WhatsApp, teria virado o jogo eleitoral.
Bolsonaro só foi eleito porque a direita, utilizando o Supremo Tribunal Federal, colocou ilegalmente Lula na cadeia. O Judiciário cassou seus direitos políticos e o caminho ficou aberto ao direitista. Para a burguesia é conveniente dizer que foram disparos em um aplicativo, pois usa isso para esconder seu crime e, ainda por cima, utiliza a desculpa para controlar e censurar as mensagens trocadas nas redes.
A esquerda, assustada, aceita de bom grado essas arbitrariedades, pois a censura seria em prol da democracia. O curioso é que tal defesa da democracia estaria partindo justamente daqueles que a violentaram.
No caso do ataque às escolas, o medo também é utilizado para manipular a população e fazer com ela aceite mais censura que, em tese, serviria para a proteção da sociedade.
Há uma grande campanha de mentiras, pois o alvo é aumentar o controle sobre aquilo que as pessoas dizem e pensam.
Ninguém se pergunto como as redes sociais podem ser a causa de um tipo de crime que já existia antes mesmo delas aparecerem. Alguém poderá argumentar que, na verdade, faz com que haja um aumento nos índices. Porém, índices também sobem e diminuem antes do advento da internet.
Maioridade penal
O próximo alvo da burguesia, com certeza, será utilizar o medo para aprovar uma lei que há muito vem tentando: a diminuição da maioridade penal. Os indícios estão na própria imprensa burguesa, como encontramos nesse trecho de artigo de O Globo: “Desde 5 de abril, 368 jovens foram presos ou apreendidos, no caso de adolescentes, por ameaçar ou arquitetar ataques a escolas pelas redes sociais, seja em grupos ou individualmente. Os números são da Operação Escola Segura, uma parceria entre o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e 27 delegacias especializadas em crimes cibernéticos.
Além disso, 1.595 jovens suspeitos de integrarem grupos extremistas sobre ataques a escolas em redes sociais foram conduzidos às delegacias para prestar depoimento durante o período, e 2.830 casos de ameaças individuais estão sob investigação”.
Isso não passa de propaganda, de que estão investigando, de que haja uma verdadeira preocupação da burguesia em combater a criminalidade. A prova disso é que no Brasil, apenas 8% dos assassinatos são investigados. A taxa de resolução é de 67,6%. Ou seja, para cada 100 assassinatos, oito são investigados e 6.7% são concluídos.
O que está em curso é uma operação de amedrontamento. Quem vai acreditar que quase três mil casos de ameaças estão sendo investigadas se homicídios já praticados sequer são investigados?
O extremismo
Salta aos olhos quando lemos que “Segundo o Ministério da Justiça, em pouco mais de dois meses, os agentes também realizaram 368 buscas e apreensões de armas letais, não-letais e artefatos que sugerem ligação com grupos extremistas, sobretudo nazistas e neonazistas” – (grifo nosso).
A coisa não para por aí “Os policiais também enviaram às empresas de redes sociais 901 pedidos de remoção ou preservação de conteúdo que incitem ou façam apologia a crimes. Ao todo, há 4.253 policiais envolvidos no trabalho”.
É uma verdadeira operação de guerra, mais de 4 mil policiais envolvidos nesse trabalho, pois a burguesia não pode prescindir de controlar a internet, precisa ter o monopólio da informação para poder mentir à vontade, como sempre faz.
A democracia prisional
O Brasil está caminhando rapidamente para ser um dos países que mais encarcera no mundo. E isso só é possível sob uma ditadura. No nosso caso, essa ditadura se disfarça de democrata, de benfeitora. O Judiciário faz o que bem entende das leis, tudo “em nome do bem”.
A classe trabalhadora não pode cair nessa ladainha. Aqueles que prenderam Lula e ajudaram a eleger Bolsonaro não podem estar preocupados de verdade com a população. Querem apenas apertar ainda mais a mão no pescoço do povo. Por isso temos que fazer como os verdadeiros revolucionários: defender a liberdade irrestrita de expressão.