A Líbia foi atingida esta semana pela tempestade “Daniel” levando o país de volta aos holofotes da imprensa mundial, desta vez por um “desastre natural”. Segundo os principais jornais do mundo, choveu em um dia, o esperado para o anto inteiro. O imenso volume de água colapsou toda a estrutura de engenharia de barragem da cidade de Derna e derramou milhares de litros cúbicos de água, que provocou a morte de mais de 10 mil pessoas e deixou desaparecidas outras 11 mil.
A tempestade destruiu ruas, prédios e varreu 25% de toda a cidade. Há relatos de negligência das forças armadas, que mesmo com o alerta recebido dias antes, solicitou que a população permanecesse em casa. A população e as autoridades locais trabalham no recolhimento de corpos e estão sob o risco de graves doenças, inclusive hídrica, pela contaminação da água para consumo humano.
A imprensa destaca que a tempestade ganhou força ao chegar na Líbia, finalizando o rastro de destruição que deixou desde a Grécia. No entanto, a informação de que tempestades como essa são comuns neste período do ano passa despercebida como ponto importante em uma análise mais realista do fenômeno. A primeira pergunta que aparece é: por que, desta vez, a destruição foi gigantesca na Líbia?
Possivelmente, esta questão não é levantada pela imprensa imperialista porque, para respondê-la, seria necessário retomar as sucessivas investidas bélicas no país por forças da ONU, que derrubaram e assassinaram Muammar Gadaffi em 2011, com a chamada Primavera Árabe, e instauraram a famosa democracia ocidental no país. Na época, o sucesso foi comemorado sem disfarce na imprensa mundial com manchetes que falavam em “recuperação do petróleo de Gadaffi”.
O que poucos sabem é que o governo de Gadaffi, considerando nacionalista e Pan-africano, pois propunha uma união dos países deste continente, desde que chegou ao poder em 1969, investiu fortemente em educação, industrialização e na nacionalização do petróleo, antes sugado por países como França e Estados Unidos. Obviamente, isso desagradou o imperialismo e jogou sobre o país a fúria armamentista da ONU. O motivo da invasão ocidental ao país foi camuflado, mais uma vez, pela luta humanitária, em defesa das tribos que estavam sendo perseguidas e torturadas por Gadaffi.
Agora, ressurge uma segunda questão é: A Líbia piorou ou melhorou após a morte de Gadaffi? Economicamente, os dados mostram o desfalecimento da riqueza com a internacionalização do petróleo, que, em bom português, traduz-se como: vender por preços insignificantes aos países imperialistas. Politicamente, o país encontra-se em permanente conflito entre grupos rivais, com sucessivas tomadas de poder por não reconhecimento do governo de Trípoli, eleito e organizado pelo ocidente, que insiste na formação e um poder unitário em uma sociedade de histórico de organização tribal.
Doze anos após a morte de Gadaffi, a tempestade Daniel soprou a fumaça que encobria a real situação da Líbia com a democracia imposta pela ONU. Os ventos da Primavera Árabe nada trouxeram de bom aos país. As barragens romperam por falta de manutenção, demostrando o abandono de estruturas basais para a produção econômica e urbanização das cidades. A exportação de um petróleo que não é mais seu, seca o país de recursos financeiros. A guerra civil provocada por eleições arranjadas, segregam a população das decisões e desestabilizam a malha social. Esses antecedentes mostram que o desastre não foi natural e a tempestade se deparou com um país já em ruínas.