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HISTÓRIA DA PALESTINA

Em 29 de outubro de 1956, sionistas assassinam 49 palestinos

Em 2022, através da publicação de documentos sigilosos, foi revelado que o massacre fora planejado como uma continuação da limpeza étnica da Palestina

Em 29 de outubro de 1956, já depois da Nakba, os sionistas cometeram mais um massacre contra os palestinos, mostrando que o processo de limpeza étnica da Palestina teve continuidade mesmo após 1948, afinal, expulsar os árabes de suas terras, para formar um Estado puramente judeu na região era parte da essência do sionismo.

O massacre ocorreu no vilarejo de Kafr Qasim, situado na Linha Verde, que era, naquele tempo, a fronteira de fato entre “Israel” e a Cisjordânia, que ainda fazia parte do Reino da Jordânia.

Foi perpetrado pela Polícia de Fronteira de “Israel” (Magav) contra trabalhadores palestinos que retornavam para casa após o trabalho, durante um toque de recolher, imposto no início do dia, às vésperas da Guerra do Sinai (também conhecida como Crise de Suez), do qual a maioria dos palestinos não tinha conhecimento.

Nessa conjuntura política, os serviços de inteligência de “Israel” tinha a avaliação de que a Jordânia entraria na guerra ao lado do Egito. Assim, cidadãos árabes foram considerados uma população “hostil”, sendo visados especialmente aqueles que habitavam o chamado “Pequeno Triângulo”. Segundo consta no portal Wikipédia, trata-se de “uma concentração de cidades e vilarejos árabes-israelenses adjacentes à Linha Verde, localizada na planície oriental de Sharon entre a Samaria; esta área está localizada dentro dos limites orientais do Distrito Central e do Distrito de Haifa . As onze cidades abrigam aproximadamente 250.000 cidadãos árabes de Israel, representando entre 10-15% da população árabe palestina de Israel”.

Uma vez que os árabes foram oficialmente considerados uma “população hostil”, batalhões da Polícia de Fronteira de Israel foram mobilizados e colocados sob o comando de Yissachar Shadmi, um comandante das Forças de Defesa de “Israel” (FDI).

No dia do massacre, o referido toque de recolher foi estabelecido das 17h às 06h, devendo ser observado obrigatoriamente em todas as aldeias árabes, sob pena de qualquer árabe ser baleado.

Supostamente, a Polícia de Fronteira recebeu as ordens referentes ao toque de recolher antes das próprias aldeias, quando inúmeros palestinos ainda estavam em seus trabalhos quando a ordem foi dada, de forma que foi impossível tomar conhecimento dela. Sobre o desconhecimento, o major Shmuel Malinki chegou a dar o seguinte depoimento, mencionando as ordens do comandante das FDI, Yissachar Shadmi:

“[Shadmi disse que] qualquer um que saísse de sua casa seria baleado. Seria melhor que na primeira noite houvesse alguns assim” e nas noites seguintes eles fossem mais cuidadosos”.

Malinki chegou a questionar a respeito da possibilidade de morte de civis:

“Perguntei: à luz disto, posso compreender que um guerrilheiro seja morto, mas e o destino dos civis árabes? E eles podem voltar para a aldeia à noite vindos do vale, dos assentamentos ou dos campos, e não saberão sobre o toque de recolher na aldeia – suponho que devo ter sentinelas nas proximidades da aldeia?”

E então, recebeu a seguinte resposta:

“A isto o Coronel Yissachar respondeu com palavras cristalinas: ‘Não quero sentimentalismo e não quero prisões, não haverá prisões’. Eu falei: ‘Mesmo assim?’ A isso ele me respondeu em árabe , Allah Yarhamu , que entendi como equivalente à frase hebraica: ‘Bendito seja o verdadeiro juiz’ [dita ao receber a notícia da morte de uma pessoa]”.

Dada a diretriz, assassinatos começaram a ocorrer entre 17h e 18h30.

Em nove incidentes de tiroteio diferentes, o pelotão liderado pelo tenente Gabriel Dahan, que estava estacionado em Kafr Qasim, exterminou dezenove homens, seis mulheres, dez adolescentes (de 14 a 17 anos), seis meninas (de 12 a 15 anos) e sete meninos (de 8 a 13 anos), que teriam “violado” o toque de recolher do qual não tinham conhecimento.

Um dos sobreviventes do massacre, o palestino Jamal Farij, lembra-se de ter sido abordado pela Polícia da Fronteira, ao chegar à entrada da aldeia em um caminhão com 28 passageiros. Ele relata:

“Conversamos com eles. Perguntamos se eles queriam nossas carteiras de identidade. Eles não fizeram isso. De repente, um deles disse: ‘Cortem-nos’ – e abriram fogo contra nós indiscriminadamente”.

Como viria a ocorrer com inúmeros sionistas anos mais tardes, um soldado israelita, Shalom Ofer, admitiu o caráter fascista do massacre (e do sionismo), sem, é claro, expressar remorso ou arrependimento pelo que havia feito:

“Agimos como alemães, automaticamente, não pensámos”.

Na ocasião, os sionistas assassinaram 49 palestinos (19 homens, 6 mulheres, sendo uma grávida, 23 crianças e adolescentes, entre 8 e 17 anos).

Demonstrando que a história da repressão de “Israel” contra a Palestina é uma história na qual os criminosos de guerra jamais são responsabilizados pelo direito internacional, e que o povo palestino só pode contar com sua própria organização para combater o sionismo, o julgamento a que os policiais que cometeram o massacre foram submetidos não foi nada além de uma farsa.

Presidido pelo juiz Benjamin Halevy, apesar de ter resultado em condenações com penas variando de 7 a 17 anos de prisão, todas elas acabariam sendo reduzidas, inclusive com alguns dos acusados recebendo indultos presidenciais.

Malinki teve como pena original a de 17 anos de prisão. Contudo, no julgamento de seu recurso de apelação, o tribunal a reduziu para 14. Posteriormente, o Chefe de Estado-Maior (Moxe Daian) reduziu para 10 anos.

Semelhante foi o caso de Dahan, cuja pena original de 15 anos de prisão foi reduzida pelo tribunal para 10. Daian, então, reduziu-a novamente para 8.

Não bastando, Yitzhak Ben-Zvi, então presidente de “Israel” reduziu as penas para 5 anos, e perdoou a de outros soldados.

Depois disto, ainda houve a remissão de um terço do restante das penas.

Ao final, todos os sionistas que cometeram o massacre foram libertados da prisão apenas 3 anos depois, em 1959. Yissachar Shadmi, o já citado comandante das FID, à qual estava subordinada a Magav e sua brigada que perpetrou o massacre, recebeu uma pena simbólica de míseros 10 prutot (antigos centavos israelense).

A farsa foi até mesmo confirmada por esse próprio comandante, anos depois, pouco antes de morrer. Ele chegou a dizer que seu julgamento havia sido uma encenação para proteger a imagem de membros do governo de “Israel”, em especial o então primeiro-ministro Davi Ben Gurion e Moxe Daian, Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (1953-1958), e evitar que os mesmos tivessem de assumir qualquer responsabilidade pelo ataque, cuja culpa deveria recair em soldados rebeldes, que agiram por conta própria.

Ainda sobre os principais agentes do massacre, Malinki e Dahan, vale mencionar que ambos “caíram para cima”. Malinki eventualmente foi promovido e alçado ao posto de segurança do Centro de Pesquisa Nuclear de Negev, instituto ultrassecreto. Dahan, ironicamente, foi encarregado “Assuntos Árabes” pela cidade de Ramla, uma das cidades mistas de “Israel”, com populações significativas de judeus e árabes.

Em dezembro de 2007, Simão Peres pediu desculpas formais pelo massacre, o que não significava nada, afinal, o crime já havia sido cometido. Mais um dos milhares que “Israel” cometeu contra os palestinos durante quase um século de ditadura.

Quase 14 anos mais tarde, em outubro de 2021, a Lista Conjunta, uma coalizão de quatro partidos de maioria árabe no Knesset (parlamento israelense), propôs um projeto de lei, pedindo o reconhecimento oficial do massacre pelo governo, mas foi rejeitado. Afinal, para além da doutrina racista do sionismo constituir parte integrante de “Israel”, a política israelense vem sendo dominada por seu setor de extrema direita, em especial o Likud, partido de Benjamin Netanyahu.

Por fim, é necessário expor que no ano de 2022 foi retirado o sigilo de documentos governamentais secretos, o que acabou por revelar que o massacre foi previamente planejado, como parte de uma operação do Estado sionista para expulsar a população árabes da região do Pequeno Triângulo, em caso de guerra com a Jordânia. Teria sido planejado Avraham Tamir, outrora comandante da Haganá, a pedido de Ben Gurion.

Em outras palavras, o massacre foi a continuidade da limpeza étnica da Palestina.

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