O articulista Ricardo Nêggo Tom, do Brasil 247, publicou uma coluna no dia 13 de março em que procura comentar o caso Nikolas Ferreira, comparando-o, por algum motivo, com a funkeira MC Pipokinha, procurando demonstrar que ambos são fruto do que ele chama de “fábrica de bonecos do capitalismo”.
O texto de Nêggo Tom trata de várias questões adjacentes, mas seu ponto principal é criticar Nikolas pelo comentário feito no 8 de março em discurso na Câmara dos Deputados trajando peruca loira. Segundo Nêggo Tom, Nikolas teria ofendido “as mulheres na data internacionalmente consagrada a ela”. O pecado de Pipokinha teriam sido suas apresentações com teor sexual acentuado, ainda citando vídeos em que ela simula cenas de pedofilia. Recentemente, Pipokinha foi atacada pela esquerda por dizer em uma publicação no seu Instagram que professores ganham mal e que ela não estaria disposta a ficar levando desaforo e cuidando dos filhos dos outros para ganhar menos de R$ 5 mil. Ela completa dizendo que recebe mais de R$ 70 mil para cada apresentação sua.
Nêggo Tom ainda menciona a educação de ambas as figuras, dizendo que os dois foram educados segundo valores da moral cristã. Nikolas tem pais “terrivelmente evangélicos”, enquanto Pipokinha foi adotada por uma família mórmon. Nêggo Tom também afirma que as frases proferidas por Nikolas seriam tão superficiais quanto a poesia das músicas de MC Pipokinha.
O articulista também aproveita para fazer uma campanha contra a imunidade parlamentar, afirmando que foi essa imunidade e tolerância do Congresso que permitiram que fosse eleito um presidente que fazia apologia à tortura e outras coisas más em seu discurso. A campanha é impulsionada pela burguesia para permitir que pessoas sem voto nenhum, como os ministros do STF e outras instâncias do Judiciário, controlem os parlamentares, estes, sim, eleitos pelo povo.
Ao perguntar a si mesmo, retoricamente, por que ele se dedicou a comparar Nikolas com MC Pipokinha, o articulista explica que é ”porque os dois são produtos de um sistema capitalista que, quando não está oprimindo as minorias, está oferecendo a elas uma falsa sensação de liberdade”.
Ainda que o texto de Nêggo Tom seja confuso, ele procura expressar algo que é parcialmente correto, Nikolas e Pipokinha são fruto do capitalismo. Pipokinha, representando a cultura já decadente após décadas de política neoliberal e Nikolas Ferreira, evangélico de extrema-direita, impulsionado pela burguesia para defender práticas e ideias fascistas que oprimem a classe trabalhadora.
No entanto, a solução que Nêggo Tom oferece para o problema é que está totalmente errada. No final de seu texto, ele exalta “a importância de termos um governo como o do presidente Lula, que voltou a investir na educação desde a sua base”. Sem mencionar, porém, que há toda uma guerra entre o atual Ministro da Educação, Camilo Santana, e os professores e trabalhadores da área, devido ao Novo Ensino Médio e a diversos outros motivos.
Ele também afirma que “crianças e jovens educados para serem libertos das armadilhas e das amarras do sistema, e para desenvolverem senso crítico através do ensino que lhes é aplicado, terão mais opções do que MC Pipokinha teve para exercerem a sua liberdade e não se tornarão um Nikolas Ferreira no futuro”. No entanto, o argumento é bastante ridículo, já que Nikolas Ferreira teve uma educação formal, por vir de família de classe média, e até foi bastante educado em seu pronunciamento do 8 de março.
Essa defesa incondicional da educação como panaceia para todos os problemas da sociedade, que está presente no discurso de vários setores da esquerda, é algo totalmente inócuo. A educação, conforme oferecida pelas escolas no Brasil afora, é um reflexo do sistema no qual ela está inserida, que é o sistema capitalista. É evidente que a educação sucateada impossibilita que uma boa parte da população se desenvolve dentro da própria sociedade capitalista. No entanto, por mais proveitosa que possa ser uma boa educação, ela não dá as ferramentas para a destruição da extrema-direita e para a luta contra o capitalismo.
Nêggo Tom, em sua exaltação, continua: “Uma boa educação de base, aliada a uma educação familiar que incentive o respeito às diferenças, fará com que habitemos em uma sociedade, de fato, civilizada, inclusiva, mais harmoniosa e menos capitalista”. No entanto, há diversos setores da extrema-direita que receberam ampla educação, às vezes a melhor que o capitalismo pode oferecer. A ideia de que esse fenômeno pode ser combatido com a reformulação do que é ensinado na escola é absurdo. Ainda mais, é importante considerar que a escola é um ambiente extremamente conservador, todos os professores, inspetores e bedéis, sempre reprimindo as crianças e procurando impôr ideias e comportamentos conservadores.
A extrema-direita e o fascismo são um fenômeno político, não são um problema da educação da sociedade. É preciso combater a direita através da organização política do povo e, particularmente, da classe operária. As escolas, por melhores que sejam, sempre estarão submetidas ao Estado e a à burguesia, propagando o capitalismo e não a sua destruição.
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