O Esquerda Diário entra na onda ecoidentitária para criticar gasoduto na Argentina. Em matéria publicada em seu sítio, intitulada “Lula irá financiar com o BNDES obras de gasoduto ecocida à base de ‘fracking’ na Argentina”, encontramos o mesmo tipo de pressão ambientalista que o imperialismo propaga, e também o modo como agem as ONGs que, a despeito de protegerem o meio ambiente, impedem que países atrasados se desenvolvam.
O gasoduto Nestor Kirchner, na reserva de Vaca Muerta já tem sua primeira fase concluída e o governo argentino procurava uma parceria para terminar o segundo trecho de 500 km que levará óleo e gás até a região de San Jerónimo, na província de Santa Fé. Há planos de que o gasoduto chegue ao Brasil no futuro.
A jazida de Vaca Muerta é rica em gás e óleo de xisto, que é uma formação rochosa que aprisiona esses elementos. A controvérsia toda está no tipo de extração do tipo ‘fraking’, que consiste em fraturar a rocha para liberar o gás e o óleo. Basicamente, se perfura o sovo verticalmente e, em seguida o corte feito é transversal, como um L ou um T invertido. Depois, se injeta água misturada com areia, ou outras substâncias, em alta pressão para fraturar a rocha e liberar os combustíveis.
Segundo estudos, esse tipo de extração, como qualquer atividade humana, pode trazer algum tipo de contaminação etc. Há quem defenda que os benefícios superam os malefícios. De todo os modos, o combustível é necessário para se produzir energia e para diversas funções na indústria. E, como toda técnica, nada impede que com o desenvolvimento de tecnologias se reduza drasticamente os impactos ambientais.
Dados laterais
Além da questão do meio ambiente, o Esquerda Diário reproduz uma matéria que alega que “a indústria de hidrocarbonetos de Neuquén registrou cerca de 9242 acidentes ambientais desde 2015 – uma herança de Macri continuada por Alberto Fernandes. Ou seja, 5,6 acidentes por dia. Além disso, a pobreza aumentou significativamente na região nos últimos tempos; em setembro do ano passado, uma refinaria explodiu, deixando 3 trabalhadores mortos. E se não bastasse, para a realização desse empreendimento, foi necessário expulsar as comunidades originárias mapuche para construir as refinarias, como foi o caso emblemático de Lof Campo Maripe”.
Esse tipo de argumentação lembra muito o movimento Não Vai Ter Copa, financiado pela CIA/Fundação Ford, para atacar e desestabilizar o governo Dilma. À época os ‘manifestantes’ reclamavam que queriam hospitais em vez de estádios, que moradores da periferia estavam sendo expulsos de suas casas sem a remuneração equivalente e, por isso, não deveria haver Copa no Brasil.
Poderiam, os manifestantes, ter lutado por indenizações justas para os moradores sem que isso impedisse as obras dos estádios. Poderiam ter usado qualquer época do ano para reivindicar a construção de hospitais, uma coisa não impede a outra. Na mesma época, os mesmos setores protestaram contra a construção da usina de Belo Monte, também com justificativas ambientais e habitacionais, em um claro movimento manipulado pelas empresas imperialistas que não querem o Brasil investindo seus próprios recursos no desenvolvimento econômico da Amazônia.
O Não Vai Ter Copa foi também um movimento que serviu para trazer para o primeiro plano da política nacional a figura do senhor Guilherme Boulos. Outros ilustres, como Jones Manoel, participaram dos atos orquestrados contra a presidenta Dilma. O medo dessas pessoas é que o governo do PT se beneficiasse, colhesse dividendos políticos no caso de o evento ser bem-sucedido.
A questão dos acidentes de trabalho, uma chaga que acomete praticamente todos os ramos industriais, não são motivos para que não se construa o gasoduto, são lutas completamente diferentes. Não por coincidência, recentemente se usou o mesmo argumento contra o Catar, país que sediou a Copa do Mundo. Correram notícias falsas pelos grandes jornais dando conta de que 6.500 trabalhadores teriam morrido em acidentes de trabalho nas obras para a competição. O Esquerda Diário endossou essas mentiras e as utilizou mais ecoar a campanha imperialista contra o país atrasado.
O Catar é o terceiro maior fornecedor de gás natural para a Europa, a campanha, neste caso, tem claras motivações econômicas, uma vez que os EUA querem fornecer gás para a Europa após o início das sanções contra a Rússia.
O conflito com os Mapuche é pretexto para a repetição dessa patacoada de “povos originários”, que é mais um artifício do imperialismo que paulatinamente tenta vender a ideia dos estados ‘plurinacionais’. Boric fez demagogia com os Mapuche para se eleger no Chile, e depois que sentou na cadeira presidencial não se demorou a mandar a repressão para cima deles.
Guajajara e Marina “omissas”?
A matéria cobra uma postura crítica de Marina Silva (REDE) e Sônia Guajajara (Psol) devidamente alocadas no governo Lula. No ano passado, Guajajara, uma índia ‘gourmet’ que vive com luz elétrica, chuveiro quente e internet (ao contrário da esmagadora maioria dos índios), constrangeu o então candidato Lula ao criticar a usina de Belo Monte em um evento, disse que os índios não precisavam da usina. Ela, seguramente, que não mora em uma aldeia, mas na capital paulista, não precisa.
Marina Silva, com ligações com George Soros e o Itaú, apesar de oportunamente não se pronunciar, está preparando suas investidas para evitar que o Brasil desenvolva a Amazônia, deixando o caminho livre para o imperialismo.
“A ministra Sônia Guajajara do PSOL se mantém em silêncio sobre essa decisão, assim como Marina Silva”, critica o Esquerda Diário, pedindo ajuda de duas ministras ligadas ao imperialismo.
Balaio
Da metade para o final da matéria, os editores do portal do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) aproveitam a questão do gasoduto para fazer todo o tipo de ataques ao governo Lula, tais como “O projeto de país de Lula, junto de Alckmin, Marina Silva e lamentavelmente também do PSOL com Sônia Guajajara, é apertar as mãos com aqueles que sistematicamente financiam e promovem, direta ou indiretamente, casos como o massacre ao povo Yanomami em nome da governabilidade capitalista, de conter a luta de classes desviando o descontentamento com a extrema-direita bolsonarista, mantendo as bases de um modelo agroexportador e semi-colonial”.
De Mapuche para Ianomâmi foi um salto bem arriscado. Mas nada como dizer que o projeto do atual governo é “manter toda a estrutura do latifúndio intacta e administrando seus negócios, [abrir] o caminho para o fortalecimento do agronegócio, base social importante do bolsonarismo”. E que “a sustentabilidade capitalista de Lula e Fernandes acaba quando apertam as mãos do agronegócio e as grandes corporações petrolíferas a mando do imperialismo”.
Na verdade, a mando do imperialismo estão aqueles que, em nome do meio ambiente, dos índios etc., impedem o desenvolvimento econômico de um país atrasado. Interessa às grandes potências que não tenhamos autonomia energética ou mesmo articulações regionais para o desenvolvimento comum. E o desenvolvimento industrial e econômico é algo que todo aquele que se diz revolucionário e marxista deveria defender.