O jornalista Bepe Damasco publicou no portal do Brasil 247 um artigo chamado “Por uma dose de ‘janonismo’ na comunicação do governo”. Na matéria, defende que o governo Lula deveria adotar o método de André Janones para a comunicação.
Partindo do ponto de que “a comunicação governamental tem partido de uma premissa equivocada, segunda a qual vivemos tempos de paz, quando ainda estamos em guerra”, o jornalista defende o seguinte:
“é urgente incorporar elementos da guerrilha digital do deputado federal André Janones, de tanto sucesso na campanha de 2022. O estilo desabrido e agressivo de Janones, vale lembrar, chegou a colocar na defensiva a usina de fake news do QG de Bolsonaro.”
Vejamos algumas considerações sobre essa ideia central do texto de Bepe Damasco.
Primeiro, é correto que, independentemente da eleição, a esquerda deveria encarar a situação como uma guerra. O erro é acreditar que o método Janones é o recomendado para a situação. Eis uma maneira infantil de encarar o problema da propaganda.
Antes, é preciso dizer que não há solução mágica. O que Janones fez na eleição não foi nada mais do que alarde. Esse método se destacou porque destoava da tendência do PT de sempre buscar um método de tipo oficial, solene. Daí a dizer que isso fez toda a diferença é um exagero.
O problema que Bepe não considera é que antes de fazer extravagâncias nas redes sociais, como faz Janones, é preciso ter um aparato de propaganda. O método da extrema-direita, do trumpismo e do bolsonarismo, ele não é feito apenas das redes sociais. Steve Banon, mentor desse método, montou um poderoso aparato de propaganda que não se restringiu apenas a perfis nas redes sociais.
Antes de aplicar o método Janones – se é que se deve aplicá-lo -, que é uma cópia mal feita da extrema-direita, seria preciso criar um aparato: jornais, sites, canais de TV e na internet, rádios etc.
Lula deve usar todos os meios, inclusive o das “lives” que gerou protestos da imprensa golpista como a Globo, mas Lula não deve se transformar num youtuber. Nem Lula, nem o governo.
Outro ponto essencial que o jornalista esquece é a política. Não adianta fazer alarido nas redes sociais com uma política errada. É isso o que faz Janones, um político burguês que não tem a menor noção do que está fazendo.
A primeira forma de chamar a atenção é uma política que defenda radicalmente o povo e os interesses dos trabalhadores.
Não há dúvida que a preocupação de Bepe Damasco é legítima. De fato, é preciso dar muita atenção ao problema da comunicação. Mas é preciso pensar numa política que chegue ao povo e possa mobilizá-lo em torno dos seus interesses.