Luta das mulheres

É preciso ser de esquerda para ser feminista

A luta pelos direitos das mulheres, se não for de esquerda, cairá inevitavelmente em um moralismo vazio e incapaz de emancipá-las

Barricada de mulheres

Matéria publicada na Folha de São Paulo/UOL, no último 30 de dezembro, sob o título “Não precisa ser de esquerda para ser feminista”, nos traz algumas reflexões.

É verdade que não é necessário ser de esquerda para defender os direitos das mulheres, no entanto, essa defesa será apenas moral, e nenhuma moral do mundo será capaz de reverter a situação de opressão feminina. E por qual motivo? Porque é lucrativo.

A defesa moral do feminismo apela para o bom senso, ou para a ‘educação’ da sociedade. Ora, nesse caso existe uma luta anterior: levar educação de qualidade para todas, ou para o maior número possível de pessoas. O que se vê, no entanto, é a deterioração do ensino. Ocorre que nem mesmo a educação teria o dom de mudar relações sociais.

O marxismo enxerga a questão da mulher do ponto de vista do materialismo histórico. Engels mostra em ‘A Origem da Família, da Propriedade e do Estado’ como a condição social da mulher foi alterada conforme a propriedade comum, que vigorava no comunismo primitivo, foi sendo substituída pela propriedade privada. De uma posição de destaque nas sociedades matriarcais, as mulheres decaíram socialmente conforme foi se estabelecendo o patriarcado. A divisão social do trabalho acabou confinando a mulher em trabalhos subalternos e isso consolidou sua posição de ‘inferioridade’.

Divisões ideológicas

O olho da matéria, assinada por Deborah Bizarria, tem um dado interessante, pois diz que “enquanto divisões ideológicas bobas tomarem a frente no debate, será difícil obter avanços reais para as brasileiras”.

O que temos visto é justamente a divisão cada vez maior que vem se firmando dentro dos movimentos sociais. O identitarismo, que é uma ideologia financiada e fomentada pelo imperialismo, compartimenta os movimentos e dilui sua força. Já temos ifluencers se dizendo “feministas negras”. E, é claro, não vai demorar para que as ‘feministas negras’ se subdividam em grupos menores a depender da tonalidade da cor da pele.

Não bastasse isso, o movimento feminista já está entrando em contradição com as reivindicações das mulheres trans. Recentemente, na Universidade de Brasília (UnB), uma mulher foi agredida porque achou estranho que uma mulheres trans, de barba, utilizasse o banheiro feminino. No final das contas, a aluna, que quase foi agredida, teve de deixar o prédio da universidade escoltada. Dias depois, foi promovido um ato em frente à universidade contra a transfobia.

A confusão foi instaurada, uma mulher que, de maneira legítima, questionou a presença de uma pessoa trans em lugar restrito, e que quase foi agredida, suscitou uma manifestação. Não houve ‘transfobia’ e uma mulher, mais uma vez, foi oprimida e ameaçada fisicamente por uma pessoa que, a despeito de trajar um vestido, tinha barba e era bem maior e mais forte que ela.

A economia

Como bem diz a autora “a desigualdade de gênero é um problema não só de liberdade individual: tem implicações econômicas pouco exploradas no debate público”. Exatamente, o identitarismo impede o debate das implicações econômicas, a discussão fica em um âmbito moral e, pior, apenas prega que é preciso colocar determinadas ‘identidades’ em posições de poder. Se uma pessoa oprimida atinge determinado status isso resolve apenas sua vida particular, o grupo ao qual pertence ou representa continua inalterada.

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, que por ocasião das eleições se declarou gay, é um político extremamente direitista que oprime, por exemplo, os professores da rede pública. Ou seja, os professores trans ou cis, mulheres, negros claros ou retintos, todos estão sendo extremamente prejudicados, pois são obrigados a trabalhar mais, morar em lugares piores, comer menos etc., por ação de uma pessoa LGBTQIA+ em posição de mando.

Bela, recatada e do lar

Segundo a autora, a desigualdade expulsa as mulheres da competição por melhores empregos, o que ela considera uma “falha de mercado” que prejudica não só “o crescimento individual das mulheres, mas também a produtividade e o avanço da economia”.

O problema que temos nesse ponto da matéria, é que falta justamente a visão de esquerda sobre a questão das mulheres, pois o capitalismo a competição por cargos etc., não são capazes de emancipar a mulher.

Podemos concordar, como diz o texto, que as mulheres chegam com maior ‘capital humano’ no mercado de trabalho, pois estudam mais do que os homens e que esse ‘capital’ é subutilizado. É preciso lembrar que, não faz muito tempo, o salário do operário deveria suprir as necessidades básicas de uma família e as mulheres ficavam restritas ao lar. Posteriormente, com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, seu salário não era o mesmo de um homem, seria apenas o suficiente para complementar aquele valor básico para manter a família. Ou seja, o trabalho feminino era visto como um complemento de renda.

A defasagem salarial entre mulheres e homens faz com que, a esmagadora maioria, dependa do salário do companheiro para se manter. A mulher, com isso, ficará presa aos afazeres domésticos e à criação dos filhos e essa condição reforça, de maneira concreta, sua posição de ‘inferioridade’.

O restante: o assédio sexual, as agressões etc., derivam exatamente da posição social da mulher que muito lentamente, e apenas algumas escapam disso, continuam sendo vistas como ‘complemento’, como já foi descrito no Velho Testamento.

A defesa da mulher

O feminismo, se não for de esquerda, não luta pela emancipação da mulher, pois não consegue sequer entender o porquê de a mulher ser oprimida na nossa sociedade. No máximo, esse feminismo lutará por melhores empregos e melhores salários que, sim, são importantes e devem mesmo ser defendidos.

Interessa ao capitalismo oprimir a mulher porque isso aumenta os lucros. É possível ter trabalhadoras com um grande ‘capital humano’ ganhando menos do que um homem para fazer a mesma função.

Apenas a esquerda faz uma defesa consequente do feminismo, pois luta pela abolição da divisão da sociedade em classes. O socialismo é que poderá libertar a mulher da escravidão doméstica e deixará a mulher com tempo para se desenvolver e se emancipar.

Portanto, só se pode concluir que sim, que para alguém ser feminista de verdade é preciso ser de esquerda.

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