O presidente Lula está causando uma histeria no meio imperialista com suas posições crescentemente contrárias à ditadura dos Estados Unidos, particularmente as suas alianças com China e Rússia.
Em menos de uma semana, Lula foi à China, onde se encontrou com o presidente Xi Jinping e, na posse da ex-presidenta Dilma Rousseff para chefiar o Banco de Desenvolvimento dos BRICS, denunciou o sistema financeiro imperialista, a ditadura do dólar e a asfixia econômica imposta pelo FMI. E, na volta ao Brasil, recebeu o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, que se mostrou muito satisfeito com a visita ao País.
Isso gerou um bombardeio de críticas a Lula, vindas tanto do monopólio da imprensa capitalista nacional e estrangeira como dos próprios funcionários diretos do governo dos EUA e da União Europeia. O porta-voz da área de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, declarou que “o Brasil está repetindo a propaganda da Rússia” sobre a situação na Ucrânia. Peter Stano, porta-voz da UE, também se prontificou a rebater os posicionamentos do governo brasileiro. Antes, o ex-embaixador dos EUA, Thomas Shannon, havia dado uma espécie de advertência a Lula sobre o comércio bilateral com a China: “se o Brasil, a China ou os BRICS querem substituir o dólar, boa sorte.”
Editorial de ontem (18) do jornal O Globo, que não passa de uma agência de assessoria de imprensa do governo norte-americano, também traz uma advertência: “o perigo de provocar os americanos e europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo.”
Como diz o título da manchete da edição de hoje do Diário Causa Operária, o imperialismo está realizando “aproximações sucessivas” sobre o governo Lula. Levando em consideração tanto a política externa, em que o governo se alia de forma cada vez mais clara com os piores inimigos dos EUA e recebe advertências deste, como o cenário interno, no qual os generais já demonstraram claramente a pretensão de derrubar o governo, um golpe de Estado contra Lula é inevitável. Ele virá, mais cedo ou mais tarde.
O sucesso desse golpe dependerá da relação de forças entre o governo Lula e os golpistas. Se a situação estiver madura para um golpe, com o enfraquecimento do governo e o fortalecimento dos golpistas, esse golpe muito provavelmente será bem sucedido. Se, ao contrário, o governo estiver em condições de resistir ao golpe devido ao despreparo dos golpistas e ao apoio popular, esse golpe tende a não vingar.
Neste momento, a relação de forças está mais favorável para os golpistas. O governo continua fragilizado, após o 8 de janeiro. Os militares não foram incomodados e permanecem se organizando, enquanto o Congresso é opositor do presidente. No entanto, o governo dos Estados Unidos se vê também debilitado em seu poder de dominação, com uma crise econômica interna cada vez mais aguda e um desgaste político e militar causado especialmente pela guerra da OTAN contra a Rússia na Ucrânia. Por sua vez, o apoio popular a Lula não é garantido, porque os movimentos sociais e a CUT não estão mobilizando suas bases.
Contudo, Lula tem uma carta na manga, a qual parece estar usando, e bem. Lula está polarizando. Seus discursos e medidas, particularmente em termos de política externa, atiçam e provocam o imperialismo e a direita. Eles se sentem compelidos a agir. Essa ação, pela situação política, tende a ser golpista. A direita teria, portanto, que tomar a iniciativa. Mas o momento para um golpe não está maduro. Seria uma tentativa precipitada. Lula, então, teria a oportunidade de aplicar a política que ele indica ter interesse de aplicar: medidas mais ousadas em âmbito econômico, político e social, ou seja, mais à esquerda do que está tomando neste momento. Seria a chance perfeita para quem neste momento está engessado pelo Congresso e pelo aparato do Estado burguês. Um golpe prematuro seria mais facilmente derrotado e poderia representar a oportunidade de a esquerda mobilizar as suas bases. Afinal de contas, o PT, a CUT e o MST aprenderam alguma coisa em 2016 e já devem estar mais alerta.
Lula parece estar disposto a comprar algumas brigas com o imperialismo e a direita. Sem a presença de uma mobilização de massas, seria melhor entrar em choque com os inimigos em um momento no qual eles ainda não estão suficientemente organizados para forçá-los a precipitar uma ação desesperada, e assim desbaratiná-lo, do que esperar que os golpistas se articulem e desgastem o governo, enfraquecendo-o ainda mais.
O momento de radicalizar no discurso e nas medidas concretas é agora.