Em editorial da edição de ontem (10) do Estado de S. Paulo, o jornal da Família Mesquita apresenta um exercício de fé já em seu título: “A direita civilizada não é uma utopia”. O artigo, resumidamente, alega que a aprovação da reforma tributária pela Câmara dos Deputados, um evento que transcorreu sem grandes conflitos, teria sido um marco para o “diálogo republicano”. Isto é, uma nova etapa do regime político em que a esquerda e a direita teriam passado a conviver de maneira tranquila e respeitosa.
Nem mesmo o próprio Estadão crê nisso.
Em primeiro lugar, é preciso destacar que “direita civilizada” é uma coisa tão real quanto o coelhinho da Páscoa. Uma das figuras mais lembradas quando se fala nessa tal “civilização” da direita é Fernando Henrique Cardoso, um ex-professor universitário, sociólogo, de fala mansa, mas que provavelmente foi o pior presidente de toda a história do Brasil.
O “civilizado” Fernando Henrique Cardoso foi o responsável pelo maior número de privatizações do País. Em seu governo, empresas como a Companhia Vale do Rio Doce foram entregues a preço de banana. A Petrobrás, por sua vez, caiu nas mãos dos capitalistas estrangeiros. A devastação foi tão grande que 300 crianças por dia morriam de fome durante o seu governo.
Esse seria o mais alto nível de “civilização” que a direita poderia chegar, no que depender dos sonhos da Família Mesquita.
Mas a aberração do editorial do Estadão não para por aí. Nos dias atuais, o grande candidato a se tornar o líder da “direita civilizada” seria Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo. E quem seria o cidadão? Até pouco tempo, um Zé Ninguém, um desconhecido, que só se elegeu governador por causa do apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O mesmo Zé Ninguém infiltrou Bolsonaro no Agrishow, evento dos latifundiários, e disparou ameaças contra os trabalhadores sem terra.
Mas não é só em Tarcísio que o Estadão deposita as suas esperanças:
“Como mostraram as bem-sucedidas negociações para a aprovação da PEC 45, o Brasil só tem a ganhar quando adversários políticos se dispõem a debater projetos de interesse nacional de forma madura e civilizada”.
Isto é, para o jornal, a maioria do Congresso Nacional estaria disposta a “debater projetos” para o País. Acontece que esse mesmo Congresso é uma quadrilha comandada por Arthur Lira (PP), que está neste momento extorquindo Lula para conseguir uma fatia expressiva do governo.
A tal “direita civilizada” não pode ser levada a sério. Não passa de uma campanha do Estadão para preparar uma nova manobra da burguesia. Agora, com Bolsonaro tornado inelegível, os grandes capitalistas irão tentar “reconstruir o centro político” – isto é, tornar viável uma liderança política que seja um verdadeiro capacho do imperialismo.