Pouco mais uma semana atrás, explodiu uma onda grevista na mais importante universidade do País, a USP. Boa parte dos institutos já se encontra paralisada devido ao movimento estudantil que continua na ascendente contra a política de destruição do ensino público levada adiante pelo bolso-tucano Tarcísio de Freitas. Não é à toa o número muito grande de ataques feitos pela imprensa capitalista, a exemplo do deferido pelo jornal O Estado de São Paulo no último sábado (30). Subindo um degrau na escala, o ataque agora chega na forma de um “requerimento de informação” feito pelo deputado estadual Leonardo Siqueira, do Partido Novo.
Que a direita procure fazer tudo para tentar frear e destruir um movimento estudantil que aspira à combatividade é certo. No entanto, o interessante é a justificativa que o deputado colocou no documento:
“O ambiente universitário é um espaço que valoriza a liberdade de expressão e a diversidade de pensamentos. No entanto, é fundamental repudiar e condenar veementemente a parcela de manifestantes que opta por interromper aulas e causar danos ao patrimônio público. Essas ações não apenas geram custos financeiros para o Estado, mas também prejudicam outros alunos da universidade.”
Primeiro que se trata de uma farsa: a não manutenção da “ordem” seria um grande prejuízo ao direto dos estudantes não grevistas e deveria, portanto, ser “condenada veementemente”. Ou seja, pode-se manifestar, mas idealmente em casa, sem atrapalhar ninguém. É uma manobra retórica antiga que procura atacar qualquer movimento oprimido combativo.
O problema todo está no fato da doutrina da “manutenção da ordem” ter sido adotada na prática pela esquerda, que apoiou, e apoia, os desmandos do STF para com os bolsonaristas ao invés de levar adiante um embate político contra a extrema-direita. A realidade é que, usando o espantalho do bolsoranismo, estamos presenciando um fechamento do regime político brasileiro que, como já avisado inúmeras vezes neste Diário, se voltará contra a esquerda. Exatamente o que vemos aqui.
O texto continua:
“Nesse sentido, é crucial que as ações dos grevistas sejam investigadas de maneira rigorosa e que medidas punitivas exemplares sejam aplicadas. Isso é essencial para preservar o ambiente democrático e fomentar a livre circulação de ideias no espaço universitário. Além disso, a punição desses atos de vandalismo é necessária para deixar claro que tais comportamentos não serão tolerados, assegurando assim um ambiente acadêmico mais seguro e produtivo para todos os envolvidos (negritos nossos).”
Nas últimas semanas, vimos o STF condenar pessoas comuns a penas exorbitantes, e, é claro, deixar imunes os verdadeiros cabeças do famigerado 8 janeiro, os generais. Tudo isso justamente pelo clima de que os “golpistas” deveriam ser investigados de maneira rigorosa e que medidas punitivas deveriam ser aplicadas. Espero que, caso a greve estudantil seja derrotada, não estejamos diante de expulsões em massa… ou até mesmo prisões. O senhor deputado pede que os estudantes “vândalos” sejam encarcerados de um mês a três anos, a depender do crime de “dano” ou “dano qualificado”.
É preciso que a esquerda abandone esta política da “manutenção da ordem” que só abre as portas para criminalizar os movimentos sociais no País.
Para os estudantes, é preciso que a greve evolua, se transforme numa greve política e ultrapasse os muros da universidade. Existe a possibilidade de um ascenso do movimento estudantil, completamente paralisado há muito tempo. Justamente por isso os intensos ataques à greve dos estudantes da USP, que merece todo o apoio de todos os setores que se consideram progressistas, de esquerda.