Pouco mais de um ano após a derrubada da ditadura neoliberal de Hosni Mubarak, setores impulsionados pelo imperialismo criaram o clima político que culminou com um golpe de Estado contra o primeiro governo eleito em muitas décadas no Egito. O auge da crise ocorreu em três dias entre junho e julho de 2013. No final o presidente Mohamed Morsi foi derrubado e preso. Os militantes da Irmandade Muçulmana, a qual o presidente deposto fazia parte, foram violentamente reprimidos pela ditadura militar e mais de duzentas e cinquenta pessoas foram assassinadas nas repressões aos protestos contra o golpe. O próprio Morsi morreu preso.
Esse episódio fez parte da chamada “primavera árabe”, onde o imperialismo manobrou com as mobilizações populares ocorridas em países do Oriente Médio de Norte da África para finalmente impor governo antipopulares. Desde a crise que acabou por derrubar Mubarak, a imprensa imperialista passou a promover grupos minoritários envolvidos nos protestos contra o ditador. Um deles, o Movimento Jovem 6 de Abril, foi exaltado pelo The New York Times como um grupo “dinâmico” e “jovem” e sua importância na luta contra a ditadura egípcia foi exagerada na imprensa estrangeira para interferir na política do país.
A Irmandade Muçulmana, por sua vez, fazia parte de um verdadeiro movimento popular. Saída da clandestinidade imposta pelo governo Mubarak, se constituiu num partido político bem alinhado com a ideologia da maioria da população, religiosa e conservadora. Não por acaso, saiu vitoriosa nas eleições celebradas em 2012. Do outro lado, os “apartidários” do 6 de Abril defendiam que a democracia egípcia tinha que ir na direção dos regimes pseudo-democráticos do imperialismo. Com esse mote, a oposição ao governo Morsi foi se tornando cada vez mais agressiva ao longo do único ano de existência desse governo.
Ao estilo da esquerda pequeno-burguesa no Brasil, o 6 de Abril propagava que os governos Mubarak e Morsi tinham mais semelhanças do que diferenças, o que justificaria que a população derrubasse também esse governo. Aqui, o sinal de igualdade foi estabelecido entre o PT e o PSDB e mais recentemente entre Lula e Bolsonaro. Os mesmos grupos que fizeram essa campanha de promoção de confusão em torno da situação política, como o PSTU e setores do PSOL, celebraram as “revoluções” no Egito em 2013 e na Ucrânia em 2014, além de boicotarem a luta contra o golpe aqui no Brasil. Um discurso de aparência esquerdista que auxilia na implementação da política do imperialismo para os países atrasados.
Tanto aqui como lá temos grupos financiados por organizações do imperialismo, como o Nacional Endowment for Democracy (NED), entre outros. O próprio The New York Times repercutiu em 2011 o vazamento do WikiLeaks que mostrava que vários líderes de grupos como o 6 de Abril receberam treinamento e financiamento por esse tipo de organização imperialista. Um dos focos do treinamento recebido foi o uso das ferramentas de comunicação pela internet, como as redes sociais. A atuação desses grupos em combinação com a cobertura favorável da imprensa imperialista foi fundamental para manipular a opinião pública internacional sobre os eventos de 2013 no Egito.