Aproveitando a trégua temporária acordada entre Israel e a resistência palestina, liderada pelo Movimento Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), dezenas de milhares de palestinos retornaram para o norte da Faixa de Gaza. O movimento começou na manhã de sexta-feira (24), quando o acordo de cessar-fogo entrou em vigor, segundo a imprensa israelense.
Citando a imprensa israelense, o jornal libanês Al Mayadeen apontou que as forças de ocupação israelenses tomarão medidas rigorosas para evitar que os palestinos se desloquem entre o sul e o norte da Faixa de Gaza. O norte é por onde Israel iniciou sua invasão a Gaza, expulsando vários palestinos para o sul, na fronteira com o Egito, para obrigar o país árabe a abrigar os refugiados e, assim, incorporar Gaza ao Estado judeu. Um processo de limpeza étnica contra mais de 2 milhões de habitantes de Gaza.
Em resposta à locomoção dos palestinos para o norte, o membro do gabinete israelense Israel Katz disse ao Canal 12 que “o exército está tentando impedir dezenas de milhares de palestinos de retornar ao norte da Faixa de Gaza”, afirmando que “a situação no norte não voltará ao que era antes”. Já o Ministro de Segurança de Israel, Yoav Galant, reiterou que “o cessar-fogo é uma trégua curta, e o exército israelense retornará com toda a sua força ao seu término”.
O povo palestino, no entanto, não se deixou intimidar pelas declarações de Israel. Os ocupantes, além de intensos bombardeios, colocaram tanques e veículos militares no norte e tinham como alvo os civis expulsos para o sul. Agora, com a trégua temporária, apesar dos destroços, os árabes tentam voltar às suas casas, desafiando o exército de ocupação, que quer anexar a região.
Um jornalista do Al Mayadeen relatou que os israelenses estão “ameaçando abrir fogo contra qualquer pessoa que se aproxime de suas forças estacionadas na cidade de Beit Hanoun”. “Os residentes começaram a retornar a Beit Hanoun com a retirada das forças de ocupação e o início do cessar-fogo”, acrescentou. Ele apontou que as forças de ocupação, com seus soldados posicionados na cidade, impedem os moradores de avançar.
“Moradores de Beit Hanoun confirmaram que as forças de ocupação estão abrindo fogo contra aqueles que tentam passar de um determinado ponto em Beit Hanoun, enquanto nosso correspondente explicou que os moradores insistem em inspecionar suas propriedades, independentemente das ameaças feitas pelas forças de ocupação israelenses”, destaca o jornal árabe.
Ainda, segundo a reportagem, alguns residentes na Rua Salah al-Din, no centro da Faixa de Gaza, “afirmaram que a ocupação estava abrindo fogo contra grupos de residentes que saíram para inspecionar suas propriedades, com seus tanques posicionados em frente à Praça do Cuaite”.
Ajuda chega a Gaza
Aproveitando a trégua, caminhões de ajuda e combustível começaram a entrar na Faixa de Gaza através do cruzamento de Rafá, a partir do Egito. No entanto, segundo Al Mayadeen, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) “provou repetidamente que está conivente com a política israelense de limpeza étnica na parte norte de Gaza durante o período de agressão à Faixa, como afirmou o chefe do Gabinete de Mídia do Governo, Salamah Maarouf, em 31 de outubro”.
Maarouf denunciou que a UNRWA e seus funcionários não estão cumprindo suas obrigações e que estão atuando com Israel, buscando expulsar os palestinos da Faixa de Gaza. Já o porta-voz do Ministério da Saúde, Ashraf al-Qudra, afirmou que a agência da ONU virou as costas para os residentes da Faixa de Gaza. As crianças ficaram sem vacinas, assim como pessoas gravemente feridas, e foram negligenciadas as necessidades dos hospitais em toda a Faixa de Gaza, criticou.
“Imagens circularam nas plataformas de mídia social, mostrando salas de armazenamento da UNRWA cheias de ajuda, enquanto os palestinos estão sendo mortos pela máquina de guerra israelense”, denuncia a reportagem.