O presidente Lula confirmou que irá iniciar um podcast semanal para se comunicar diretamente com a população, um grande acerto político. Um grande defeito dos governos do PT sempre foi a falta de uma imprensa própria, que pudesse levar adiante a política do partido e assim apoiar seus governos. Foi assim que durante o golpe contra presidenta Dilma os monopólios da imprensa dominaram completamente o debate. Lula aprendeu com esse caso, e também com Bolsonaro, que fazia a sua live semanal. A imprensa burguesa, por sua vez, iniciou um ataque descontrolado contra o presidente por este furar o seu monopólio, que configura uma verdadeira ditadura, que quase por si só acaba com o direito da liberdade de expressão.
O grande expoente disso foi O Globo. Merval Pereira, “a voz da verdade”, em sua coluna “Sem intermediários”, diz que “Lula adapta o formato de comunicação de Bolsonaro, para falar o que quiser, na hora que quiser, sem contestação.” A comparação com Bolsonaro é um argumento fraquíssimo, em diversos momentos da história os presidentes ou líderes nacionais se comunicavam diretamente com a população. Há casos famosos com os discursos de Fidel Castro em comícios gigantescos em Cuba, ou casos brasileiros como a comunicação do ministro de Vargas com o programa Voz do Brasil. Na verdade, todo governo moderno tem a sua própria imprensa.
O argumento de Merval é dos mais reacionários possíveis: “É próprio de governos com espírito autoritário querer uma ligação direta com a população, prescindindo, ou pelo menos relegando a segundo plano, os canais comuns nos regimes democráticos: partidos políticos, imprensa livre.” Ter uma ligação direta com o povo é autoritário, democrático é quando a “imprensa livre”, isto é, a Globo, a Folha e o Estadão, dominam o monopólio da comunicação. É um absurdo completo. A comunicação do governo com as massas é algo muito democrático, os trabalhadores deveriam ter um enorme acesso a todas as questões do governo para que pudessem participar mais ativamente da política.
Outro fator importante é Lula ser um líder de massas, não um mero presidente de algum partido burguês. O petista tem uma relação direta com a CUT, com o MST, com o PT e diversas outras organizações, ou seja, é o maior dirigente de um amplo movimento de massas no Brasil. Isso já basta como argumento para que realize um programa semanal.
Todas essas organizações na verdade deveriam ter imprensa própria e independente do governo, que serviria como pressão em defesa de suas reivindicações. A CUT demonstrou isso quando discordou do reajuste do salário-mínimo anunciado, indicando que lutaria por um valor mais alto. Além disso, o governo Lula está sob ataque da direita, nada mais justo que tenha um programa para se defender.
O colunista do Globo segue com sua tese reacionária: “Líderes personalistas abrem mão desse tipo de assessor. Foi o caso de Bolsonaro, ao dispensar o general Otávio do Rêgo Barros, que tentou organizar o contato do presidente com jornalistas. Bolsonaro preferia o contato pessoal no “cercadinho” do Alvorada, onde falava o que queria a alguns seguidores fanáticos. O presidente Lula teve bons porta-vozes nos dois primeiros mandatos, mas agora parece disposto a ser ele mesmo seu porta-voz, falando quando quiser e sobre o que quiser.” Essa é a tese da direita tradicional, os banqueiros, que mandam na Globo, usam Bonner para expressar sua opinião. Mas não deve ser assim com um presidente extremamente popular, eleito pelo povo e este tem direito de ouvir o que Lula tem para dizer.
Bolsonaro possuía uma ampla base social, ainda que menor que a de Lula, era grande a grande a audiência. A tendência é que a de Lula seja ainda maior, e isso assusta a imprensa burguesa. A Globo, caso se amplie a imprensa da esquerda e a do próprio presidente, irá perder muito da sua força, fruto do monopólio que detêm. O governo Vargas passou por isso durante a década de 1950, quando todo o bloco da imprensa burguesa se unificou para derrubá-lo, o jornalista Samuel Wainer criou o jornal Última Hora, que apoiava o governo Vargas e que por isso se tornou extremamente popular. Esse jornal foi uma ferramenta de primeira importância para lutar contra a investida golpista contra o Getúlio.
A política do Globo é totalmente cínica. A sua existência como maior monopólio de comunicação da América Latina não seria antidemocrático. Porém, quando um presidente eleito por 60 milhões de pessoas quer falar com o povo isso é considerado a própria ditadura.
A verdade é que a imprensa burguesa é a maior inimiga da liberdade de expressão, ou seja, a grande defensora da ditadura pois expressar-se é um dos direitos democráticos mais básicos. É óbvio que o presidente deveria ter direito de falar, seu cargo o torna uma das pessoas mais importantes para ter uma comunicação direta com a população. A Globo, por sua vez, detêm uma concessão de televisão, quase um direito medieval, que ganhou defendendo a ditadura militar, isso Merval Pereira esquece de comentar.
Diante da investida golpista contra o presidente Lula, um podcast é bom, mas é muito pouco. O PT poderia ter um jornal diário, um canal de televisão, o governo federal também poderia realizar uma campanha de propaganda muito mais forte. Ante a força da imprensa burguesa, é necessária uma imprensa de esquerda muito maior do que a atual. Isso sem entrar na questão de que é preciso pôr um fim aos monopólios como a Globo, esses sim, um aspecto ditatorial do regime político brasileiro.
Os ataques da imprensa burguesa revelam que Lula em seu 3º mandato ele veio com uma política muito mais combativa do que antes e que pode, por meio da luta dos trabalhadores, levar a grandes conquistas da população.