Previous slide
Next slide

Campanha imperialista

Decadência cultural ou “liberdade para brincar”?

A Barbie é produto da burguesia, e representa apenas a ela. A discussão em torno do tema revela o nível a que se rebaixa a esquerda e a cultura geral na crise capitalista

A decadência do sistema econômico capitalista, em estado de desagregação por todo o mundo, tem uma série de consequências para além do que seria objetivamente o plano econômico. Uma das expressões de tal crise é a decadência da cultura, da própria expressão do ser humano. O recente fenômeno do filme da Barbie é um dentre tantos acontecimentos demonstrativos desse fato, e é a essa discussão absurda que dedicamos este artigo.

Em coluna publicada no sítio UOL, ligado à Folha de S. Paulo, uma defesa se faz de mais esse rebaixamento do ser humano proporcionado pela burguesia, e que tomou de assalto inclusive um amplo setor da esquerda. Intitulada “Por que há tanto homem incomodado com empolgação das mulheres por ‘Barbie’?”, a colunista Isabela Del Monde busca indicar, com argumentos de tipo identitário, que a obra seria um grande feito. A imprensa burguesa cumpre seu papel.

“É a maior estreia de uma diretora mulher em toda a história, o maior lançamento de longa baseado em um brinquedo”.

O fato, um símbolo da opressão da mulher, do consumismo desenfreado e irracional, um símbolo do capitalismo, é retratado como uma conquista das mulheres. A partir daí, a articulista define seu artigo como uma análise sobre “a revolta de uma parcela de homens com ‘Barbie’, mais especificamente a ridicularização que eles promovem das mulheres que estão animadas com a película”.

“Por que a empolgação de mulheres adultas com conteúdos do universo lúdico incomoda tanto homens, muitos deles que têm orgulho de exibir suas coleções de bonequinhos de super-herói ou de se reunir com amigos para uma madrugada de videogame?”

O fenômeno Barbie, que chega ao nível de parecer uma sátira, é retratado como o equivalente aos filmes de super-herói, mas existe um porém, para além do significado da própria Barbie. Os filmes de super-herói se encontram em absoluta decadência, sua projeção é cada vez menor, e apesar da diferença entre os personagens, é consenso que já parecem todos o mesmo filme, numa repetição de mediocridade. Ao mesmo tempo, surge a Barbie, como um estouro que engajou as pessoas em verdadeiros eventos cor-de-rosa às portas das salas de cinema. Mais que isso, vem sendo defendida como uma obra progressista, de esquerda, com um papel de libertação, “empoderador”. O símbolo de decadência é elevado como o pináculo da produção cultural, como um saco de lixo que fora erguido por um guindaste.

À exaltação de algo que vai bem mais abaixo que a mediocridade, a autora continua: “não é novidade para ninguém que as meninas são precocemente expulsas da infância”, e ao mesmo tempo, “Homens com mais de 30 anos são publicamente chamados de meninos, como acontece com o jogador Neymar, que tem 31.”

Do que seria uma discussão sobre a infância – o que já não teria relação com o que vemos – sem contexto algum, um ataque a Neymar, ou seja, ao futebol brasileiro. Da defesa da boneca do imperialismo, se passa ao ataque à cultura nacional diretamente. Tal manobra não se dá por acaso, mas compõe, ainda que de passagem, a campanha cultural da burguesia. E então:

“Se uma mulher adulta colecionar bonecas, provavelmente será vista de forma ridícula e, possivelmente, patologizada como alguém com traumas de infância ou doenças mentais. Já quando pensamos no universo masculino, há indústrias bilionárias voltadas para o lúdico, como games, filmes e literalmente bonecos de plástico de super-heróis.”

A crítica a um suposto tratamento desigual, aqui, se dá por meio de uma defesa direta do consumo de um lixo cultural caracterizado como “lúdico”. Não deve haver, portanto, crítica ao que observamos, ao rebaixamento cultural que atinge a sociedade, impulsionado pela burguesia decadente. O que se vê não é uma defesa da mulher, de sua condição de vida, de seu acesso à cultura, mas apenas e simplesmente da vinculação à mediocridade burguesa perfumada de progressista.

“Mas os números não mentem, e ‘Barbie’ se tornou a maior abertura para um filme baseado em um brinquedo, porque, certamente, há milhões de mulheres adultas que estão, desde que o filme foi anunciado, relembrando dos seus roteiros com suas Barbies, dos arrojados cortes de cabelos que faziam em suas bonecas, e que também devem estar relembrando dos impactos negativos que essa personagem causou em nossas vidas, afinal, muito do padrão de beleza vigente veio dela.”

E então, o pulo do gato. O filme baseado no brinquedo, a indústria por trás de parte do que ocorre. Aqui, no entanto, não basta se contentar com essa explicação. Muita nostalgia cerca uma série de produções cinematográficas, mas nenhuma produziu esse fenômeno. A confusão é natural, a imprensa burguesa não irá retratar suas próprias campanhas e decadência absoluta como tal. Simplesmente que um grande número de pessoas se sentiu nostálgico e uniformizou para assistir ao equivalente de uma produção em torno da Coca-Cola. Nada de estranho aqui.

“A nossa relação agridoce com a Barbie está em evidência. Mas, de qualquer maneira, temos todo o direito de reivindicar o lúdico e nosso acerto de contas com essa personagem que marcou e marca nossas vidas. A gente também está aqui para brincar.

A conclusão é perfeita. Isso é uma brincadeira. Uma brincadeira na qual a esquerda se vincula à burguesia, a população passa por um surto coletivo e a produção cultural se restringe a dois ou três filmes, todos produzidos em Hollywood. A marca em nossas vidas da Barbie e de seus donos talvez seja um tanto maior do que caracteriza a autora.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.