Na última semana, a imprensa golpista intensificou uma campanha de defesa dos posicionamentos de Haddad que contrariam a orientação geral do governo Lula. Os elogios a Haddad aparecem sempre acompanhados de ataques à política apresentada por Lula desde o processo eleitoral e funcionam como pressão para que o Ministro da Fazenda se desloque cada vez mais na direção da política neoliberal. Algo que além de agradar os parasitas do mercado financeiro pode ajudar a desmoralizar profundamente o PT e a principal liderança da sua história perante a militância de esquerda e a população em geral.
Merval Pereira, porta-voz da família Marinho, escreveu que Haddad “teve uma vitória política importante contra o próprio partido” com o anúncio da volta dos impostos federais sobre os combustíveis, algo que “seria fundamental para o equilíbrio das contas públicas”. A colocação publicada no jornal O Globo deixa explícita a disputa em curso, de um lado a política de pequenas reformas sociais pela qual a população elegeu Lula e do outro o arrocho fiscal que tem como beneficiários os parasitas que abocanham um pedaço gigantesco do orçamento público. Merval aproveita para defender a política de Palocci no primeiro governo Lula, pois o ministro na época “tinha toda a razão ao dar continuidade à política econômica do governo anterior” (do PSDB).
A defesa da imprensa golpista da política de terra arrasada de FHC mostra para qual caminho ela quer que Haddad se dirija. Para um ataque violento contra as condições de vida da população, para um governo que se desfez de um gigantesco patrimônio público e tornou a fome novamente um problema social enorme no país. Querem que o PT se transforme num PSDB para beneficiar os capitalistas estrangeiros e, se o partido derreter no processo, melhor ainda. Consciente ou não do que está fazendo, Haddad age quase como um sabotador do governo e do próprio partido, pois um fracasso desse governo pode ser devastador para o maior partido de esquerda do país e abrir caminho para um grave retrocesso político.
Considerado alguém de confiança por Lula, Haddad foi escolhido para um cargo vital para a política proposta pelo PT. O tema do preço dos combustíveis e seu impacto na inflação foi abordado inclusive durante o processo eleitoral, com Lula acertadamente atribuindo o problema à política de preços da Petrobrás, que beneficia apenas os acionistas em detrimento do povo brasileiro e toda a economia do país. Na ânsia de acalmar o apetite insaciável desses parasitas, o ministro compra uma briga com o partido para retomar os impostos federais sobre os combustíveis antes de uma reformulação na política de preços.
Como apontado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a discussão sobre a retomada dos impostos federais só deveria acontecer após a definição de uma nova política de preços, que só será possível a partir de abril. No próximo mês o Conselho de Administração da empresa será reformulado para que a gigantesca e essencial empresa fale a mesma língua do governo eleito. Sendo um governo que se choca com o regime instaurado no golpe de 2016, o PT precisa se apoiar na mobilização popular para sobreviver. Aumentar ainda mais os preços passa a mensagem para o povo de que se trata de apenas mais um governo que não dá a mínima para os trabalhadores. Não é razoável contar com a paciência e a compreensão de uma população que sofre ataque atrás de ataque ao longo dos últimos anos.
É claro que não é possível fazer mágica, ainda mais com um programa político tão limitado quanto o do PT, mas é urgente mostrar para o povo que esse governo está lutando pelos seus interesses. Além de fundamental para a sobrevivência do governo, os trabalhadores são também a principal arma do PT para impor a política que interessa às suas bases. No meio do caminho para se executar um programa popular existe o Banco Central independente nas mãos de Roberto Campos Neto, neto do Ministério do Planejamento durante o governo Castelo Branco, no primeiro período da ditadura militar, entre 1964 e 1967. Seu avô Roberto Campos era tão apaixonado pelos patrões norte-americanos que ganhou o apelido de Bobby Fields, que seria uma versão do seu nome em inglês. Na peleja do BC com o governo Lula, Haddad precisa escolher um lado, pois os programas são basicamente antagônicos.
Uma justificativa apresentada pelo ministro e publicada pela Folha de São Paulo é que o retorno dos impostos seria uma medida “compensatória”, que serviria para “equilibrar o jogo” para com isso “permitir e até contar que o Banco Central faça a parte dele”. Ou seja, primeiro adota uma medida que impacta negativamente a população e depois torce para que o BC coopere com a política do governo. Se não cooperar, no entanto, o governo terá que bater de frente mas com o apoio popular abalado. Não faz o mínimo sentido estratégico, é um tiro no próprio pé. Por isso foram muito importantes as vozes dissonantes no PT, especialmente o protesto de Gleisi, que como presidente do partido pode e deve se posicionar sobre os rumos do governo.
O panorama político e econômico no mundo não dá margem para tantos erros. A política golpista do imperialismo continua a pleno vapor e a economia capitalista rasteja e sofre com sucessivas crises. Se ficar embaixo das asas do capital imperialista e sua política destrutiva do neoliberalismo, Lula vai falhar em todas as suas tarefas. Não vai conseguir impulsionar a economia e estimular uma reindustrialização no Brasil, nem melhorar minimamente a vida da população. A eleição de Lula foi uma dura batalha e quase foi perdida, seu governo será uma guerra e quanto mais ceder ao campo inimigo mais frágil ficará. Haddad ocupa um papel muito importante no governo e já passou da hora de se alinhar à política apresentada por Lula ao povo.