Durante o XXVI encontro do Foro de São Paulo, o Diário Causa Operária entrevistou Gerardo Lugo Segarra, presidente do Partido Nacionalista de Porto Rico, a respeito da situação de colonização por parte do imperialismo norte-americano contra o País.
Diário Causa Operaria: Qual a importância do Foro de São Paulo para a luta da esquerda em Porto Rico?
Gerardo Lugo Segarra: É muito importante porque estamos isolados pela situação colonial que temos em Porto Rico pelo império. Assim, participando dessas reuniões, podemos conseguir a solidariedade de nossos camaradas de toda a América Latina e do mundo para apoiar a luta pela independência de Porto Rico, que é o nosso norte, e assim se integrar à América Latina.
Diário Causa Operaria: E como está a situação política em Porto Rico? Há muita repressão? A esquerda está se organizando?
Gerardo Lugo Segarra: Sim, há uma tremenda repressão em Porto Rico. Aqueles que lutam pela independência foram perseguidos, foram assassinados, foram presos. Em determinado momento, o simples fato de ter uma bandeira porto-riquenha era o suficiente para passar dez anos na prisão. Então, obviamente a repressão tem sido muito forte e o fato de ver o patriotismo como se fosse algum tipo de crime, distorcendo a consciência e o psiquismo coletivo, criando medos, criando paradigmas de progresso estranhos e contrários ao crescimento e unidade da nação porto-riquenha.
Diário Causa Operaria: E como os Estados Unidos exercem sua influência em Porto Rico? Como eles financiam o governo para reprimir a esquerda?
Gerardo Lugo Segarra: Temos um conselho de controle fiscal que está acima do suposto governo que não é um governo, mas sim essa administração colonial que temos. Então, tudo o que acontece em Porto Rico, quem manda e quem decide sim e não são os Estados Unidos, é uma repressão total da nossa soberania. Não podemos negociar com nenhum país do mundo. Não podemos fazer nada que não seja através dos Estados Unidos. É uma colônia que eles valorizam muito e neste momento estão, terrivelmente, fazendo com que os porto-riquenhos partam para viver nos guetos dos Estados Unidos enquanto os Estados Unidos, os milionários dos Estados Unidos, estão comprando os lugares mais bonitos em Porto Rico e estão tirando a população porto-riquenha de lá para criar alguns paraísos fiscais – os americanos que se mudam para Porto Rico não pagam impostos e têm direitos acima do porto-riquenho.
Diário Causa Operaria: Por fim, qual é o papel da juventude nesta luta contra a intervenção imperialista em Porto Rico?
Gerardo Lugo Segarra: É muito importante que a juventude porto-riquenha se motive, se torne militante, porque naturalmente estamos envelhecendo e novas ondas de patriotismo precisam vir. Mas, infelizmente, a publicidade que fazem, o medo dos próprios pais de que seus filhos entrem nessa luta sabendo que vão receber repressão [é muito ruim]. Em Porto Rico, havia uma operação do FBI chamada Cointelpro que estava encarregado de ligar para qualquer um que desse um emprego a um nacionalista ou um independentista para assustá-lo e dizer-lhe que não deveriam dar-lhes trabalho, são terroristas. Ou seja, a luta pela independência de Porto Rico é vista como terrorista. Então, nesse sentido, os jovens que chegam são jovens muito corajosos, são jovens muito inteligentes e realmente estão dispostos a assumir a liderança, uma vez que a gente começa a ficar um pouco velho para que essa luta continue até que finalmente alcancemos a nossa tão esperada independência.
