Presente no Foro de São Paulo, o Diário Causa Operária realizou uma série de entrevistas com representantes internacionais que participaram do evento. Entre eles, María Agüerra, da bancada do Partido Político Nacional Peru Livre.
Diário Causa Operária: Você pode nos contar sobre a situação política no Peru após a ascensão de Dina Boluarte?
María Agüerra: Bem, o que podemos dizer com firmeza é que o governo de Dina Boluarte não é legítimo. O povo não o aceita desde o primeiro dia que ela foi, digamos, praticamente autoproclamada por ela e a direita. Os grupos de direita que não ganharam as eleições, que agora a reconhecem como presidente do Peru e que para o povo é simplesmente uma assassina porque seu governo começou assassinando povos nativos como os Quechuas, os Aymaras, os Chancas que são da região de Apurímac, Cusco, Puno, que é o sul do Peru, certo? Em Arequipa também e bem, é ilegítimo e também é ilegal porque não houve o devido processo legal.
Diário Causa Operária: No início do seu regime, vimos várias manifestações do povo contra Dina Boluarte. Como está essa situação agora? O povo continua nas ruas? Há muita repressão?
María Agüerra: Pedro Castillo ganha o governo com o partido Peru Livre e tem a maioria na bancada, cerca de 37 congressistas. Justamente o que eles fazem é separar Pedro Castillo do partido dessa forma, fazê-lo cometer os erros que ele cometeu e acho que esse foi o principal erro dele, separar-se do partido que o levou ao governo e não fazer de suas promessas de campanha uma realidade, que era uma nova Constituição, porque a Constituição que temos agora – e o povo do Peru sente profundamente isso – é vendida, é privatista, é a favor dos grupos de poder econômico e não nos favorece. Depois de 30 anos dessa Constituição que nos disseram que traria desenvolvimento e investimento, só vemos poluição e cidades esquecidas. E essa indignação do povo vem crescendo há décadas e agora se expressa nas ruas.
Já temos com esse regime de Dina Boluarte mais de 70 assassinados e precisamente amanhã e depois de amanhã haverá uma Assembleia Nacional, não só do sul, mas a nível nacional. Envolve o sul, o centro, o norte, o leste do Peru, organizações que estão se reunindo para analisar todo esse problema e estão se preparando para o que chamam de a terceira tomada de Lima. Lima é a capital do Peru e todos os povos do Peru querem ir precisamente para Lima para manifestar, para pedir justiça, para exigir justiça para aqueles que foram assassinados e também para continuar exigindo por seus direitos fundamentais o direito à vida, saúde, educação, trabalho, moradia, comunicação, etc.
Diário Causa Operária: Então será um dia muito importante para a luta contra o regime?
María Agüerra: Sim, sim, de fato. Talvez no começo tenha sido uma luta espontânea, não uma indignação do povo que saiu espontaneamente, mas agora sindicatos, federações, associações, sindicatos, bairros, juventude, movimentos, movimentos populares, ou seja, todo mundo. Participar para ver como de forma organizada cobram justiça e continuam cobrando essa plataforma que sempre tivemos, que nossos direitos fundamentais sejam respeitados, que nossos direitos se tornaram neste sistema neoliberal, uma mercadoria, que se você tem dinheiro você tem acesso saúde, se tem dinheiro tem acesso à moradia, se tem dinheiro tem acesso a trabalho, enfim.
Mas essa pandemia nos fez refletir que dinheiro não compra o direito número um, que é o direito à vida, né? A vida. A saúde é o direito número um. Com vida e saúde podemos conquistar até o universo, mas sem vida e sem saúde, né? Não podemos fazer nada. E isso. O povo tem se conscientizado, principalmente nessa pandemia.
