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Prisão é barbárie

Dani Alves e o tribunal medieval

A esquerda que pede punição para tudo não percebe que está sendo manipulada e reproduzindo uma ideologia burguesa

O caso Daniel Alves tem despertado, mais uma vez, uma onda repressiva que tomou conta de boa parte da esquerda. O amplo direito de defesa já foi abandonado definitivamente. Nas redes sociais, qualquer suspeita já é tratada como culpa e a turba pedindo sangue começa a gritar. Nos grandes jornais não é diferente. No UOL, por exemplo, na mesma matéria que tratava do caso, ainda em investigação do jogador Daniel Alves, havia uma parte explicando para as mulheres como proceder em caso de abuso sexual. Ou seja, induzia os leitores à condenação.

Não faz muito tempo, em 2019, o jogador da Seleção Brasileira, Neymar Jr. foi envolvido em uma acusação de estupro pela modelo Najila Trindade. A notícia foi como uma faísca em rastilho de pólvora. Não demorou um minuto e já estavam preparando a forca para pendurarem o jogador em praça pública.

Passado algum tempo, Neymar foi absolvido. Tudo levou a crer que se tratava de uma armação. Aqueles que o condenaram e pediram sua prisão não se retrataram, ficou por isso mesmo.

No fundo, o “crime” de Neymar foi ter declarado seu voto em Bolsonaro. A esquerda, de maneira automática, quer a punição do jogador a qualquer custo.

Punição com cadeia

Victor Hugo, em um de seus maiores clássico, Os Miseráveis, discute bem essa questão da prisão. Primeiro, mostra que a criminalidade é um problema social. Qualquer coisa pode ser considerada crime, até mesmo um homem roubar pão, não para si, mas para evitar a morte de algumas crianças por fome. Nada disso impediu que um juiz, um representante do Estado, condenasse Jean Valjean a cinco anos de trabalhos forçados. Por tentar escapar das Galés, Valjean acabou cumprindo dezenove anos.

Ao sair da prisão, Jean Valjean foi tratado como um ex-condenado, não como um homem que tenha pagado suas dívidas com a sociedade.

De uma forma contundente, Victor Hugo mostra que a prisão não serve para regenerar ninguém. Quem passa pela prisão é visto eternamente como um condenado. No máximo, a sociedade se vinga dos indivíduos e, no caso, apenas daqueles que são pobres, ou miseráveis.

Para a sociedade, roubar é crime. E salvar a vida de algumas crianças famintas, não seria louvável? As perguntas feitas em Os Miseráveis deixa muito evidente que a questão da Justiça não é nada trivial. A Justiça, como fica demonstrado, não é neutra, obedece a um Estado opressor. Mesmo os filósofos na Grécia Antiga já questionavam a validade e a necessidade do aprisionamento, pois entediam que a punição não revertia um dano e a prisão não deveria servir como vingança.

Primeiro recurso?

A esquerda comprou a ideologia burguesa de tratar tudo com prisão. Esse recurso, que deveria ser a última medida a ser tomada acaba sendo a primeira. Que pessoas deveriam ser confinadas? Aquelas muito violentas que não pudessem ser controladas e que representassem um risco para a sociedade.

A punição, a cadeia, virou um grande espetáculo na imprensa burguesa. O Mensalão, os depoimentos de envolvidos transmitidos ao vivo. As prisões com a cobertura de helicópteros, pessoas algemadas. Foi a festa da ‘luta contra a corrupção’.

Na Operação Lava-jato se repetiu o mesmo padrão, com prisões, algemas, conduções coercitivas, helicópteros, centenas de policiais fortemente armados, prisões provisórias que se estendiam indefinidamente, tudo em nome de se combater o roubo do erário.

Esse clima de “justiçamento” foi normalizado pela esquerda. Foi deixado de lado o devido processo legal, todas essas aberrações antidemocráticas eram vistas como necessárias para se defender um bem maior.

Em vez de combater as arbitrariedades, boa parte da esquerda passou a reproduzir esse comportamento da direita. Hoje, para tudo se pede cadeia. Será que alguém, em sã consciência, ou que já tenha visto a situação dos presídios brasileiros, acredita que aquilo possa resolver algum problema social ou combater a criminalidade?

Câmaras de tortura

As prisões brasileiras são uma violação constante dos direitos humanos, são a expressão mais acabada daquilo que entendemos por barbárie.

O sistema penal é uma verdadeira máquina de moer pessoas. Ninguém que se diga socialista poderia aceitar, e muito menos pedir, que se encarcere pessoas nessas condições. As condições das celas são as piores possíveis, há superlotação, faltam condições básicas de saneamento. Em muitos casos os presos precisam fazer rodízio para que outros possam se deitar e dormir.

Existe a questão de presos sem julgamento. 35% de presos ainda não foram julgados e aqueles que forem inocentados receberão suas vidas de volta? Como poderão ser recompensados pela privação de liberdade e por serem torturados diariamente nesses infernos que chamamos prisões?

Daniel Alves

Não conhecemos os detalhes do processo que levou à prisão de Daniel Alves, mas defendemos que TODOS devam ter o amplo direito de defesa. A condenação sumária, o linchamento moral, o “cancelamento”, tão comuns nas redes sociais, não são comportamentos dignos de quem defende o socialismo.

Aqueles que acusam o PCO de “passarmos pano” para bandido não percebem que estão sendo manipulados pela direita e sua grande imprensa. Estão reproduzindo um comportamento medieval, está defendendo a barbárie, pois é disso que se trata.

Não é correto, em hipótese nenhuma, defender o Estado burguês que não tem como tratar dos problemas sociais e por isso esmaga os indivíduos.

Apenas as mudanças sociais podem mudar a sociedade, por isso lutamos pelo fim da exploração e pelo fim das classes sociais, a única maneira de fazer com que efetivamente possa haver justiça.

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