Marcia Tiburi publicou uma coluna no sítio Brasil 247, neste dia 7 de abril, chamada “Dez anos da ascensão fascista”.
De modo geral, a colunista aponta que a ascensão da extrema-direita no Brasil, que culminou na eleição e nos quatro anos de Bolsonaro, começou com o processo golpista. De fato, é importante chamar a atenção para isso. O fascismo no Brasil não é simplesmente o bolsonarismo, mas aqueles que foram os responsáveis por terem soltado os cachorros da extrema-direita, com uma propaganda ferrenhamente anti-comunista, para servir de base para o golpe de 2016.
Ao dizer que a “imprensa que hoje diz para não dar espaço ao assassino de Blumenau, deu um dia espaço a Bolsonaro e ajudou a criar tudo isso”, Tiburi está certa em mostrar o cinismo da imprensa golpista e sua participação ativa na ascensão da extrema-direita.
O problema da coluna de Tiburi está em sua tese central. A colunista insiste em reproduzir a ideia, cuja principal origem vem justamente dessa imprensa golpista, de que o problema do fascismo seria uma “cultura”. Segundo ela: “Os ataques às escolas fazem parte da propagação da cultura do ódio que serve aos interesses de grupos políticos que assaltam as democracias do mundo. “
A ideia de que haveria uma “cultura do ódio” e que ela seria a culpada dos males não é correta. Se há uma cultura desse tipo, é antes a consequência do que a causa.
Quando a burguesia colocou em movimento seu aparato de propaganda usando o monopólio da imprensa golpista, armou o Judiciário com métodos mais anti-democrático, e preparou em amplos setores da população, majoritariamente de classe média, para o golpe de Estado. Para criar e fortalecer uma base golpista, precisou lançar mão de um conjunto de ideologia fascista. Assim, a burguesia, que hoje se apresenta como democrática, abriu o portão do canil da extrema-direita e até hoje não conseguiu guardar seus cachorros.
Essa cultura é apenas e tão somente um resultado disso. Aliada, logicamente, à enorme crise econômica e social e à polarização política cada vez maior.
Portanto, lutar contra a “cultura de ódio” é lutar contra moinhos de vento. É substituir a luta política contra os verdadeiros inimigos do povo por uma luta imaginária.
Isso sem contar que a ideia acaba resvalando no que defendem justamente os pais do fascismo: a censura contra o “discurso de ódio”:
“Não haverá paz enquanto o discurso de ódio não for estancado e para isso, os meios de comunicação, que são também meios de produção da linguagem de ódio precisam assumir uma postura ética que até agora parece não estar em pauta.”
Embora Tiburi não diga abertamente, ao querer resolver o problema do “discurso” ela está corroborando a tese de que seria preciso censurar, regular o que as pessoas vão falar. O problema é que justamente quem tem o poder para isso são aqueles que impulsionam o fascismo.
É preciso combater a extrema-direita com métodos próprios da esquerda e dos movimentos populares. Uma política de mobilização em torno dos interesses materiais, reais, do povo. Recolher as armas também não resolverá, porque a polícia e os fascitas, ou melhor, os fascistas estatais e os fascistas privados não deixarão de ser armar.