A crise global de 2008, que começa com a quebra do banco HSBC em 2007 e atravessa 2009, mesmo após quinze anos, segue deixando sua marca registrada na forma de uma recessão não “declarada” sobre a combalida economia global pós-pandemia. Analistas sérios comparam essa primeira e gigante crise do milênio com a de 1929, pela sua magnitude e capacidade de fragilizar a economia de uma maneira das mais relevantes entre as guerras mundiais do século XX até o momento.
Quase um século de intervalo entre a crise de 1929 e o atual momento da economia mundial e podemos afirmar que a crise econômica entre 1929-45 e a crise entre 1968-1980, assim como a atual desde 2008 são consideradas “divisores de águas” que empurraram os modelos econômicos anteriores a se converterem para formas de acumulação e reprodução do capital diferenciadas. A crise de 1929 quase levou o capitalismo à derrota final e a partir daí, impulsionado também pelo adversário soviético e o colapso na órbita da Segunda Grande Guerra fez crescer a necessidade de uma recuperação econômica através do pacto da seguridade social com práticas inspiradas no dirigismo estatal pelos investimentos públicos com políticas sociais.
O chamado “maio de 1968” reflete a crise do capitalismo com o esgotamento do padrão de acumulação de capital do modelo fordista de produção e dos investimentos públicos. A falência definitiva do acordo de Bretton Woods em 1971 com a quebra do lastro ouro-dólar realizado de maneira unilateral pelos Estados Unidos, a crise do petróleo de 1973 e mais tarde 1979 selam o término do modelo keynesiano e ascendem a opção neoliberal com as desregulamentações e liberalizações dos mercados financeiros globais e todas as demais políticas de excessivo corte de investimentos públicos com arrocho salarial.
A “sangria” ainda não estancada da crise de 2008 reflete ainda hoje, impulsionada pela quebra das cadeias produtivas desde a pandemia e agora com a guerra da Ucrânia. Diante dessa conjuntura, a instabilidade financeira veio à tona nas últimas semanas, com as notícias de que alguns bancos norte-americanos e um importante banco suíço estão em uma situação de grave risco financeiro.
Mas, concomitante à crise financeira já anunciada está a falência do imperialismo na sua raiz; isto é, naquilo que sustenta ou fornece o alicerce ao sistema econômico mundial que necessita aumentar a superexploração do trabalho e excluir direitos da população; começando pelos países atrasados até chegar às populações dos países imperialistas, exemplificados nos protestos enormes na França contra a reforma da Previdência nas últimas semanas e demais manifestações importantes mundo afora no que dizem respeito a implementação de mudanças maiores na seguridade social como benefícios e aposentadorias, até mesmo salários. O caso da greve dos enfermeiros na Inglaterra e as manifestações contra a carestia causada pela guerra na Ucrânia são outros exemplos que demonstram o avançado grau de insatisfação com as políticas deflagradas pelo imperialismo nos últimos tempos.
No que diz respeito ao sistema financeiro mundial cabe considerarmos que o modelo econômico que o sustenta está constantemente ameaçado e conduzirá a crises econômicas ainda mais graves nesse contexto da crise do imperialismo no sentido econômico e político no que tange a manutenção da disputa geopolítica e estratégica contra o consórcio sino-russo. A redução da produção de petróleo ratificada pelo cartel da OPEP conduzida com afinco pela Arábia Saudita (parceiro histórico e estratégico dos EUA na região do Oriente Médio) e que desagradou muito aos Estados Unidos também tem a capacidade de influenciar o já combalido de pés de barro mercado financeiro mundial; contribuindo ainda mais para impulsionar mais uma grave crise econômica mundial.
Com um sistema bancário muito fragilizado, taxa de inflação e principalmente de juros nas alturas, a instabilidade da economia dos Estados Unidos poderá se transformar numa recessão interna e até mesmo se alastrar para o mundo, num cenário de possível estagflação (recessão econômica combinada com alta inflacionária) sem precedentes. No que diz respeito a esse problema, que a princípio atinge os Estados Unidos, mas pode muito bem se transformar em uma nova crise mundial, principalmente em tempos de guerra da Ucrânia e redução da produção petrolífera, uma retrospectiva acerca dos recenes acontecimentos no sistema bancário norte-americano se faz necessário para apreciarmos melhor essa situação. Desta forma, para ilustrarmos o problema, recuperamos alguns trechos do portal 360 para discutirmos essa questão de forma crítica. De acordo com o portal, “A tensão está relacionada com as falências do SVB (Silicon Valley Bank) e do Signature Bank nos Estados Unidos. Alguns bancos regionais norte-americanos que agora enfrentam dificuldades têm muitos correntistas com depósitos acima de US$ 250 mil. Protegem o capital comprando títulos públicos dos EUA –que são um dos ativos mais seguros no mundo.”
O problema é que os prazos de vencimento da aplicação no Tesouro dos EUA podem ser longos. Há eventuais perdas de dinheiro nesse meio tempo –até porque os juros estão mais altos e quando esses papéis foram comprados rendiam menos. Esses bancos menores não seguem os chamados acordos de Basileia (basicamente, regras rígidas de reservas disponíveis para bancar saques) e não precisam compensar eventuais prejuízos com a capacidade de ofertar crédito.
A aplicação no Tesouro dos EUA é segura, mas a empresa só terá o lucro do investimento quando houver o vencimento. Antes disso, corre o risco de ser obrigada a resgatar os valores com prejuízos ao haver uma corrida bancária dos clientes para sacar dinheiro –como houve no caso do SVB.
Os donos do dinheiro em outras instituições semelhantes fazem cálculos para saber quais são os que estão na mesma situação. Deu-se início à busca pelas “carteiras perdedoras”. Enquanto isso, os bancos e o mercado vão restringir o crédito para compensar as perdas nas carteiras de investimentos.
A notar a quase completa incapacidade para controlar a situação que envolve o setor bancário e todo o sistema financeiro global que está amarrado a agiotagem especulativa mundial o imperialismo se encontra numa situação de xeque-mate contra si próprio e preso pelas adversidades geradas pela guerra da Ucrânia e pela “infidelidade” do cartel da OPEP aos seus ditames; e ainda comandado pela Arábia Saudita (parceiro “fiel” até então). E ainda, para completar a redução da capacidade de se equilibrar na corda bamba os Estados Unidos e o imperialismo assistem com muita apreensão a adesão do Brasil a chamada Rota da Seda com os chineses no comando desse ambicioso projeto econômico e político, assim como o acordo para que a China e o Brasil adotem uma moeda comum nas relações de troca, assim como proposto nas relações entre o Mercosul. Uma enorme brecha se abre e amplia com os BRICS, Rota da Seda e fortalecimento do consórcio sino-russo colocando o imperialismo em xeque e impulsionando um espaço ainda maior para uma avalanche progressista para a luta de classes em nível mundial.





