Desde o início do mais recente conflito entre Israel e Palestina, que cada vez mais se configura em um genocídio perpetrado pelos sionistas, o imperialismo, sua imprensa, seus lacaios e ingênuos seguem a afirmar que o Hamas não é um representante do povo palestino, que é mais um grupo terrorista, e que a guerra seria contra ele, por causa do ataque “terrorista” do dia 7.
Trata-se de mais uma falsificação da máquina de propaganda sionista, segundo a qual, o representante real dos palestinos seria a Autoridade Palestina, encabeçada pelo Fatah, este parte da OLP. Os três são presididos por Mahmoud Abbas. O próprio fato de os jornais imperialistas e sionistas sustentarem ser a AP e o Fatah os representantes do povo palestino, e não o Hamas, é um indicativo que pode muito bem ser o Hamas o verdadeiro representante. Mas é necessário ir além da lógica.
Para isto, deve-se voltar um pouco no tempo. A 2006, ano das últimas eleições na Palestina, para o Conselho Legislativo da Palestina. Sim, as últimas. Desde então a realização de novas eleições não foram permitidas. Logo ficará claro a razão disto.
O que ocorreu em 2006? No que diz respeito a partidos, os principais concorrentes foram o Fatah (como parte da OLP) e o Hamas.
O resultado? Hamas saiu vencedor. Dos 132 assentos, conquistou 74, enquanto que o Fatah conquistou apenas 45.
Ou seja, o Hamas se tornou o principal representante parlamentar do povo palestino, tanto em Gaza, quanto na Cisjordânia.
Isto foi uma formalização da realidade que o Hamas já representava os palestinos fora do parlamento.
Por muitos anos o Fatah e a OLP foram as principais lideranças da luta pela libertação nacional palestina. Não dizendo que outras organizações como o próprio Hamas, a Jihad Islâmica, a PFLP e a DFLP não tivessem importância. Tiveram, afinal, participaram da Primeira Intifada. Mas o Fatah e a OLP encabeçavam a luta. E sua figura mais conhecida era Yasser Arafat.
Contudo, em razão da política capituladora das organizações e de suas lideranças nos anos 1990, em especial nos Acordos de Paz de Oslo, segundo os quais a OLP e o Fatah aceitaram o direito do Estado de Israel à existência como uma das primeiras obrigações do acordo, o apoio dos palestinos a elas declinou.
Já o Hamas (e a Jihad Islâmica, a título de curiosidade), possuem a posição política de que o Estado de Israel não deve existir. Rejeitam os Acordos de Oslo. O que, certamente, está em mais consonância com os anseios da população palestina, que é cotidianamente esmagada pelo sionismo.
No período anterior às eleições de 2006, foi o Hamas o elemento ativo a encabeçar a Segunda Intifada, conflito que resultou da repressão do sionismo contra palestinos que protestavam pacificamente contra a afronta de Ariel Sharon, líder da oposição israelense, pelo puro oportunismo de ter visitado a mesquita de al-Aqsa na ocasião do fracasso dos acordos de paz de Camp David, quando Ehud Barak era primeiro-ministro.
Após as eleições de 2006, com a vitória do Hamas, o sionismo e o imperialismo de conjunto impuseram sanções à Palestina, inclusive à ajuda humanitária que era enviada. Condicionou o fim da suspensão a que o Hamas se comprometesse a aderir a princípios pacifistas, de não violência. Mostrando que é, de fato, um grupo a ser admirado, o Hamas não se sujeitou a isto.
As sanções não foram levantadas, mas foi criado um mecanismo para que a ajuda internacional que deveria ir para a nova Autoridade Palestina, na figura de Ismail Haniyeh, do Hamas, fosse para Mahmoud Abbas, do Fatah/OLP, quem havia perdido as eleições. Justamente as organizações conciliadoras/capituladores perante o sionismo.
Em suma, o imperialismo e o sionismo não queriam que o Hamas tomasse o poder em todo o território da Palestina, Gaza e Cisjordânia. Aliás, em nenhum lugar. Assim, jogaram o Fatah contra o Hamas e deram início a um conflito, que eventualmente resultou em o Hamas ficando oficialmente com poder político na Faixa de Gaza, e o Fatah/OLP na Cisjordânia.
Contudo, na Prática, o Hamas permanece representando mais o povo palestino do que o Fatah. O partido islâmico permanece com 73 assentos no parlamento, enquanto o Fatah com 43. Não há eleições na Palestina desde o ano de 2006, o que demonstra o receio do sionismo e do imperialismo com o crescimento do Hamas e demais partidos/organizações revolucionários. Sobre a OLP/Fatah eles já estabeleceram controle. Já sobre o Hamas, a Jihad Islâmica e demais organizações que realizaram a ação do dia 7, não. E provavelmente não irão tão cedo.
Havia eleições programadas 22 de maio de 2021, mas foram adiadas indefinidamente em 29 de abril. Por quem? Por Mahmoud Abbas, o que é mais uma evidência do fato de o Hamas ser o verdadeiro representante dos palestinos.