Nesta segunda, o jornal Folha de S. Paulo publicou um artigo, assinado pelo articulista Rodrigo Campos, em que ataca o governo Lula por anunciar a intenção de lançar uma moeda comercial única com a Argentina. É importante destacar que uma moeda comercial entre os dois países não significa que ela substituiria o real ou o peso nas transações comuns do dia-a-dia, apenas que atuaria como uma unidade de valor, eliminando a necessidade do uso do dólar para parear as trocas entre os países.
O artigo do jornal do PIG parte desse anúncio conjunto para atacar não só a unidade de valor compartilhada, como também a própria ideia de uma moeda única ou de uma integração sul-americana mais profunda. O artigo, evocando sempre a figura dos “especialistas”, busca classificar as propostas como “fantasias”; além do mais, reúne os principais porta-vozes do imperialismo na América Latina, que se levantaram contra a ideia.
Todo esse chiar das instituições dos Estados Unidos na América do Sul revelam o temor que o anúncio, por parte do governo Lula, despertou entre o setor fundamental da burguesia imperialista. A campanha impulsionada pela Folha de S. Paulo, pelo O Globo, pelo Estadão e pelo conjunto do Partido da Imprensa Golpista demonstra que uma moeda regional fortaleceria o nacionalismo da região.
Ao fortalecer o nacionalismo e integrar tão fortemente os países atrasados, o projeto de uma moeda única colocaria em marcha grandes setores da classe operária – que, eles próprios, tratariam de encurralar as suas respectivas burguesias nacionais e os seus nacionalismos. Nesse sentido, pelo medo da ação da classe operária, é evidente que a burguesia nacional não levará adiante nenhum enfrentamento com o imperialismo em defesa de uma moeda única – ainda que seja em favor de seus interesses comerciais. Trata-se de um setor tão débil, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista social, que não é sequer capaz de liderar, exceto em raríssimos casos, a luta por reformas dentro de seu próprio Estado.
Com isso, a burguesia nacional ataca qualquer possibilidade de um projeto de moeda única. Os grandes jornais burgueses, como o jornal da família Frias, atuam como sucursais dos jornais imperialistas; a CNN, o The New York Times, o Le Monde e todo o capital financeiro internacional tem a mesma opinião sobre a questão: o comércio dentro da América do Sul tem que ser mediado pelo dólar ou pelo euro; jamais por uma moeda em comum, pois seria a mais grave das heresias ao deus Mercado.
Para manter tal farsa, extremamente impopular, formulam toda sorte de máscaras: é preciso, antes de integrar economicamente a região, integrá-la politicamente – como se fosse possível começar pela superestrutura jurídica para depois adaptar o funcionamento real da sociedade. Ou, então, por conta do atraso econômico da região, ela nunca poderá se integrar – tal torcida travestida de “análise socioeconômica” esquece, apenas, que a balcanização, isto é, a não integração, é mais um dos fatores do atraso econômico da região do que o contrário.
Enfim, fato é que, desde a declaração conjunta de Lula e de Fernández a respeito da unidade de valor compartilhada, e a consequente abertura de horizontes para uma moeda comum para os países da América do Sul, surgiu por toda imprensa uma série de abutres que se dedicaram a inventar as piores fanfarronices de que se tem notícia para desmerecer os países, seus povos e suas capacidades. No fundo, há o velho interesse de sempre – o mesmíssimo interesse que estava por trás da campanha levada adiante pela Globo contra a Petrobrás e contra o pré-sal, aquela que dizia não haver pré-sal no território brasileiro, que depois dizia não haver tecnologia para explorá-lo: o interesse de rebaixo o Brasil ao status de mera colônia dos Estados Unidos.
Em oposição à imprensa capitalista, é preciso defender a soberania nacional dos países oprimidos e sua integração cada vez maior – mas não como fim último. O estabelecimento de uma moeda comum na América do Sul não resolve, por si só, o problema da atuação do imperialismo, muito menos a questão da opressão capitalista sobre o povo trabalhador; no entanto, serve como um forte impulso a sua organização de classe, enfraquece o domínio ianque sobre a região e contribui para chegar mais perto do dia de o golpe final no regime de opressão capitalista.