Escalada Militar na Ucrânia

Conferência de Munique, visita de Biden à Ucrânia

Imperialismo, para confrontar seu visível enfraquecimento, dobrará a aposta na Ucrânia, apesar de o país estar dando claros sinais de colapso.

Zelensky discursa

Conferência de Munique, visita de Biden à Ucrânia

No dia 17 de fevereiro, sexta-feira, aconteceu na cidade de Munique, Alemanha, a 59º Conferência de Munique, ou a Davos da Defesa como também ficou conhecida, que reuniu delegações de todos os continentes para discutirem, como mencionado, as questões geopolíticas mais importantes do momento. Entre os principais convidados então a vice-presidente dos EUA Kamala Harris, o primeiro-ministro do Reino Unido Rishi Sunak, o chanceler alemão Olaf Scholz, o presidente francês Emmauel Macron e a liderança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia (UE). É importante atentar que se a edição deste ano contou com um número recorde de delegados norte-americanos, nenhum representante russo por sua vez foi convidado para o evento que acontece desde 1963.

Unificação do bloco imperialista e a visitinha de Biden a Kiev

Ao longo dos três dias em que os representantes dos países citados acima estiveram reunidos em Munique, mais precisamente no Bayerischer Hof Hotel, a operação russa na Ucrânia, que completou um ano no dia 24 de fevereiro, foi o principal ponto discutido.

De acordo com matéria publicada no sítio do People Dispatch, “Deliberações sobre o fornecimento de mais fundos, armas sofisticadas e munição à Ucrânia para combater a Rússia dominaram as discussões até agora”. Além disso, em pronunciamento transmitido de forma remota, “O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, dirigiu-se à conferência (…) e pediu para aumentar o apoio da UE, dos EUA e da OTAN à Ucrânia”. O que demonstra a situação crítica em que as forças ucranianas se encontram no momento.

Ainda, durante a Conferência, a vice-presidente Kamala Harris, de maneira enfática, de acordo com investigação realizada pelo Departamento de estado, acusou o governo russo de ter praticado crimes de guerra na Ucrânia e defendeu que “A justiça deve ser feita” e, mais além, que “Os perpetradores devem ser responsabilizados”. Para tanto, Harris elencou uma série de supostos crimes, dentre eles, evidências de “estupros, torturas, assassinatos em estilo de execução, espancamentos, eletrocussão e deportação generalizados e sistêmicos, incluindo crianças que, segundo ela, foram cruelmente separadas de seus pais” pelo exército russo, como foi divulgado no sítio do jornal National Public Radio (NPR), uma rede de comunicação estadunidense.

Por sua vez, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão europeia, defendeu que “Os Estados membros devem trabalhar em conjunto com a indústria de defesa para aumentar a produção de munições para a Ucrânia que, segundo o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, está usando-as mais rapidamente do que a Europa pode substituí-las.”

Vale ressaltar ainda as declarações do chanceler alemão, Olaf Scholz, ao solicitar o envio imediato de tanques para a Ucrânia por parte de seus parceiros e de Boris Pistorius, ministro de defesa da Alemanha, que em consonância com o chanceler, solicitou o aumento de gastos na Europa, isto é, nas forças de repressão da OTAN contra a Rússia. Como resposta a tais acusações, o embaixador da Rússia nos EUA, Anatoly Antonov, afirmou que tais declarações têm por objetivo demonizar a Rússia. O que na prática, isto é, desmoralizar a Rússia aos olhos do mundo, vem acontecendo desde antes do conflito propriamente dito por meio, principalmente, do controle que o governo norte-americano exerce sobre a imprensa nacional e internacional.

A partir das declarações aqui apontadas, é importante ter em mente que o que  concretamente deseja o imperialismo estadunidense é pressionar a unificação do bloco imperialista ao pressionar, por exemplo a Alemanha, o país mais industrializado da Europa, a se envolver cada vez mais na guerra da Ucrânia. Esse comprometimento forçado se manifesta na adesão da Alemanha que durante a Conferência, Boris Pistorius, além de se comprometer em destinar 2% do PIB para esforços de guerra, sugeriu ainda que os aliados que compõem a OTAN concordassem, em um “compromisso mínimo de 2%, visando mais”.

Tal posicionamento lança luz ao real objetivo do imperialismo, sobretudo o americano, no conflito Ucrânia-Rússia. Se nos primeiros momentos da operação russa, os EUA defendiam um discurso de ajuda à Ucrânia por meio do envio verbas para fortalecimento dos exércitos deste mesmo país e a intensa campanha anti-rússia na imprensa, com as atuais declarações, fica claro que o imperialismo quer de fato é submeter à Rússia a uma derrota avassaladora, já que este país representa um entrave para os planos de dominação, bem ao estilo colonialista, que tem avançado sistematicamente sobre o leste europeu nos últimos anos.

Para confirmar a importância a respeito da declarada mudança de posição dos EUA em conjunto com a OTAN e as investidas do imperialismo com o objetivo de formar um bloco cada vez mais coeso no sentido do enfrentamento da Rússia, não podemos deixar de mencionar a visita surpresa feita por Biden a Volodymyr Zelenskyy no último dia 20. Após um passeio em que posaram diante da Catedral de São Miguel, em Kiev, como dois velhos amigos, Biden fez um discurso exaltando o que ele próprio caracterizou como a “coragem” dos ucranianos. Para, a seguir, traçar um panorama do primeiro ano de guerra sem se esquecer, claro, de toda ajuda prestada até então pelo governo norte-americano à Ucrânia e o anuncio de mais um pacote US$ 500 milhões para este país. Por último, convocou os líderes mundiais a se unirem em prol da Ucrânia por meio do envio de tanques e munições. Porém, nem todos os países do mundo dividem a mesma opinião de Biden. E entre os ‘desobedientes’, por assim dizer, podemos citar o caso da China.

Na contramão das determinações do imperialismo

Durante o segundo dia da Conferência, 18, O diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores da China, Wang Yi, ao declarar a questão da paz tanto na Ucrânia, quanto em demais partes do mundo ser de vital importância para a política externa de Pequim, demonstrou sua preocupação com o andamento da guerra.            

Ao longo de sua fala, Yi chamou a atenção para o fato de que, como ele próprio nomeou de “algumas forças”, não terem interesse no término do conflito, por estas mesmas forças visarem “objetivos estratégicos maiores do que a Ucrânia”. Embora não tenha se dirigido, pelo menos abertamente, a nenhum país especificamente, fica claro que se referiu à política guerreira do imperialismo, já que neste mesmo imperialismo, ao que tudo indica, não estará disposto a estabelecer nenhum tipo de acordo de paz, como declarou a Rússia.

Apesar do que foi dito pelo governo russo no sentido de a OTAN não estar disposta a estabelecer um acordo de paz, a proposta apresentada pela China vai de encontro às determinações do imperialismo e se insere em uma perspectiva similar àquela assumida pelo governo brasileiro, que é estabelecer uma comissão que busque mediar o conflito entre Rússia e Ucrânia. O que prova que tanto China, o que já era previsto, quanto o Brasil, é importante afirmar, não se inserem no rol de países submissos à OTAN e aos EUA.

 Contudo, o imperialismo em sua política de dominação, como já dito anteriormente, não cederá para tal acordo, porque o objetivo deste é a derrota total da Rússia em nome do sacrifício do povo ucraniano. Como bem mencionado por Wang Yi, os EUA, que representam “essas forças” que financiam a continuidade da guerra já demonstrou que não se preocupa concretamente com a vida de ninguém, mas apenas em perpetrar sua dominação. Além disso, o imperialismo, que ao longo dos anos vem sofrendo derrotas, dentre elas o Vietnã e mais recentemente o Afeganistão, sabe que uma derrota na Rússia serviria para deixar mais claro o enfraquecimento de sua autoridade como polícia do mundo e, ao mesmo tempo, seria um impulsionador para mais países atrasados afirmarem a sua independência.

Por isso, é vital para o imperialismo, mesmo o governo Biden sofrendo pressões internas tanto do partido republicano na figura de Trump, tanto na grande burguesia, com um Elon Musk, pela população e pelo crescente descontentamento internacional como demonstraram os protestos de grupos de esquerda anti-imperialistas, em Munique, financiar a guerra em nome da permanência como senhor do mundo.

Por último, Wang Yi chamou a atenção para interferência internacional do caso de Taiwan ao afirmar que “Manter a paz no Estreito de Taiwan significa se opor às forças de independência de Taiwan”. Tanto a defesa pela resolução da guerra por meio de uma acordo de paz, que não será acatado, quanto a questão Taiwan contribuem para o enfraquecimento das relações Pequim- Washington e colocam a China, assim como já esta mais do que provado a Rússia, na mira do imperialismo, que não tolerará que estes países ousem crescer ao ponto de interferirem em seus interesses. O que reafirma que a operação russa, que tem conquistado inúmeras vitórias, deve continuar por ser a luta com vistas ao fortalecimento da classe operária em caráter internacional.

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