A imprensa imperialista, que constitui uma espécie de monopólio (talvez hegemonia) da comunicação no mundo contemporâneo, cumpre mais a função de fazer crer do que comunicar.
A imprensa responde diretamente a seus patrocinadores e muito pouco à verdade. Vejamos um exemplo.
Ao final de 2020, a CNN Brasil publicou a seguinte reportagem: “Países nórdicos controlaram a pandemia de Covid-19 sem lockdown.” Segundo a reportagem, o maior sucesso de combate à pandemia deu-se na Finlândia, onde nem sequer o uso de máscaras era obrigatório.
O que importa, aqui, é saber o que a reportagem não diz ou omite. Uma vez que se descobre isso, tem-se a verdade da reportagem. O fato é que a densidade populacional de Suécia, Finlândia e Noruega são as mais baixas da Europa, ao lado da Islândia. Países muito frios de pouca circulação de pessoas. Num ambiente desses, o vírus pouco se espalha e torna-se fácil de ser controlado.
A reportagem quiz mostrar a eficiência desses países e criticar as medidas de proteção social adotada por outros. Tinha uma ideia em mente e agrupou dados para prová-la. O correto seria fazer o contrário. Quando se tem uma ideia na cabeça, quando se tem uma tese em mente, deve-se submetê-la à crítica. Se ela resistir, a probabilidade de ser válida é grande.
Outro caso interessante é o da cobertura que a imprensa brasileira vem dando à Venezuela, país que vem, de longa data, sendo assediado pelos Estados Unidos. A visita do Presidente Maduro ao Brasil foi um prato cheio para os mais desbaratados comentários por parte de nossos jornalistas, que chegavam a se inflamar de ódio ao falar do regime venezuelano. É o desejo de ser capacho, uma espécie de masoquismo brasileiro, que não vê na atitude do imperialismo contra a Venezuela uma relação com as críticas que se fazem contra a política ambiental brasileira.
Não admira que os assuntos mais publicados no mundo hoje sejam a guerra na Ucrânia e a crise climática. Vale dizer: guerra por recursos naturais, pelo espaço vital, motivo de todas as guerras. Mas o caso mais gritante é o da cobertura da guerra na Ucrânia.
Se fizermos um levantamento de tudo o que os grandes meios de comunicação têm publicado sobre a guerra, veremos que as reportagens foram todas favoráveis à Ucrânia. Primeiro, para fazer a cabeça da opinião pública em favor da Ucrânia. Em segundo lugar, tratou-se de mostrar apenas as atrocidades cometidas pelos russos, colocando os pobres ucranianos como vítimas. Justificou-se, assim, uma ajuda extensa para a Ucrânia. Mas o terceiro aspecto foi o mais ridículo: mesmo mostrando os russos como agressores impiedosos e os ucranianos como coitadinhos, afirmou-se sempre que os ucranianos estavam ganhando a guerra e os russos ficando desmoralizados.
Como sabemos, nada disso aconteceu de fato. A Ucrânia está semiparalisada, tem a infraestrutura praticamente destruída; o exército está sem equipamentos; o equipamento que chega da Europa e dos EUA são obsoletos ou ineficazes; o moral do exército está baixo; há muitas deserções e jovens fugindo do país para não serem alistados. Essa é a realidade.
Mas a mais gritante realidade é que, se a própria OTAN entrar de cabeça na Guerra é capaz de perder. Os membros estão desequipados. Basta que nos lembremos que o chanceler da Alemanha esteve no Brasil para pedir munições; que os EUA estão enviando bombas de fragmentação para a Ucrânia, porque não têm mais o que mandar. Por outro lado, a indústria de guerra da Rússia anda a todo o vapor.
Todavia, é possível encontrar a verdade por trás dessas reportagens. O que elas pretendem com tantas mentiras? Não pensam em que um dia serão desmascaradas? Não pensam em perder a credibilidade? Não. Elas contam, como fazem sempre, em irem mudando o discurso à medida que a verdade vai se tornando cada vez mais clara. Mas essa não é a função da imprensa. Sua função é a de mandar recado.
No caso da Ucrânia, procura estimular a opinião pública a apoiar a causa da guerra e, ao mesmo tempo, incentivar a indústria armamentista.
Comparemos o tratamento dada pela imprensa a essa guerra e à segunda guerra do Golfo. Ali, todo o mundo sabia que as alegações americanas de que o Iraque estava produzindo artefatos de para uma guerra química era boato. Quando a guerra começou, a única coisa de que se falava era da tecnologia de guerra, dos ataques cirúrgicos (fantasia), da cobertura em tempo real feita pela CNN, da guerra 2.0, etc. Apenas agências independentes davam a contagem do número de mortos em tempo real, o que superou o meio milhão. Sobreveio a destruição do país e a anarquia, mas o importante é que Saddham Husseim foi eliminado.
Aqui, o grande tirano é Vladímir Pútin. Foram aos poucos colocando-o contra a parede, mas acreditavam que ele nunca tomaria uma atitude como a que tomou. Isso enfraqueceu não apenas o poder da OTAN mas também a economia da Europa como um todo. Colocou o dólar em cheque (depois das medidas econômicas contra a Rússia quem é que vai confiar no sistema de pagamentos internacional?), abriu a possibilidade de se usar outras moedas e até mesmo o ouro como reserva monetária, etc.
O medo que os países imperialistas têm da Rússia hoje é maior do que o que tinham antes. E isso corre num momento em que têm de olhar para a China. Ao mesmo tempo em que criam uma tensão na Rússia, provocam a China. Já vinham provocando o Irã. Já andam provocando a Venezuela e a Nicarágua e, agora, provocam a Coreia do Norte.
Há uma tensão bélica no mundo todo e a imprensa já não consegue dar conta disso. Como mentir aos quatro cantos do mundo?