Conforme publicado pelo jornal britânico The Guardian, citando uma pesquisa da organização sem fins lucrativos National Debtline, cerca de 6,5 milhões de pessoas terão dificuldade de “aquecer adequadamente” suas casas durante o próximo período, enquanto 2,7 milhões terão que escolher “entre comprar comida ou presentes”. Conforme o relatório, mais de 14 milhões de britânicos irão reduzir a quantidade presentes comprados neste ano, enquanto seis milhões afirmaram que só podem se dar ao luxo de comprar presentes para crianças.
“Neste Natal, a crise do custo de vida será sentida mais do que nunca, com milhões de pessoas lutando para aquecer suas casas e muitas enfrentando preocupações financeiras”, afirmou David Cheadle, dirigente interino do Money Advice Trust, outra organização sem fins lucrativos, que, por sua vez, administra a National Debtline.
O estudo mostrou como mais de 24 milhões de adultos no Reino Unido planejam pagar os presentes de Natal deste ano. Desses, 12 milhões pretendem usar cartões de crédito, enquanto 4,7 milhões farão uso de empréstimos.
Para efeitos de comparação, a população do Reino Unido atual é de 67 milhões de habitantes. Isto é, mais de um terço da população (35%) estaria se endividando durante as festas de fim de ano. Se levarmos em consideração que 17% da população é composta por pessoas com menos de 14 anos de idade – que raramente estariam entre as endividadas -, podemos concluir que praticamente metade da população adulta do Reino Unido é incapaz de comprar à vista.
Dados recentes ainda mostram que a dívida doméstica no Reino Unido – isto é, a soma daquilo que é devido por sua população – deve aumentar do nível atual de £73 bilhões ($92 bilhões) para £151 bilhões ($190 bilhões) em 2026. Segundo o Escritório de Responsabilidade Orçamentária (OBR), os lares britânicos estão enfrentando o maior declínio de cinco anos nos padrões de vida desde que começou a compilar registros nos anos 1950.
O problema do aquecimento no Reino Unido está, por sua vez, diretamente relacionado com a guerra da Ucrânia. Sob pressão dos Estados Unidos, os países europeus foram obrigados a cortar a importação de gás russo, no que seria uma tentativa de asfixiar economicamente o governo de Vladimir Putin. No entanto, enquanto a economia russa permanece inabalada pelas sanções impostas pelos norte-americanos, os países europeus estão sofrendo com a demanda por gás, principalmente para o aquecimento doméstico.
O aquecimento não é um problema menor para os britânicos. Começando no final de dezembro e terminando no final de março, o inverno no Reino Unido costuma ter temperaturas em torno de -5ºC e 10ºC.
Outro país duramente atingido pela falta de gás russo é a Alemanha. De acordo com uma análise publicada pela agência russa RIA Novosti, com base em estatísticas oficiais, o país germânico foi obrigado a reduzir pela metade as importações de gás natural desde 2021. No entanto, os custos do combustível permaneceram os mesmos para a Alemanha devido a um aumento de 2,5 vezes nos preços, conforme apontado pela análise.
A Alemanha, que dependia da Rússia para 40% de sua demanda de gás antes de 2022, foi uma das mais afetadas pela redução dos suprimentos de energia russa no ano passado.