Na última sexta-feira (16), Cora Rónai publicou uma coluna no jornal O Globo intitulada Antissemitismo 2.0 na qual comenta sobre as recentes manifestações em defesa do povo palestino e contra o genocídio que Israel promove na Faixa de Gaza.
A colunista se apresenta como “jornalista e escritora”, mas, como veremos, poderia muito bem acrescentar o título de “sionista” em seu currículo, pois sua tese fundamental é que o movimento antissionista é, na realidade, uma expressão do antissemitismo, ou seja, do ódio aos judeus. Tanto é que a capa de seu artigo é uma faixa feita pelo Partido da Causa Operária (PCO) na qual está escrito “Fim do genocídio, fim do Estado nazista de Israel, Palestina livre”.
Cora inicia o texto da seguinte maneira: “Está sendo difícil acompanhar o noticiário da guerra em Gaza e, ao mesmo tempo, perceber a onda de antissemitismo que varre o mundo”. Para Cora, deve ser, de fato, difícil. Até porque o morticínio de Gaza é normal, para os sionistas, os palestinos são um povo inferior, não são europeus. Agora, o antissemitismo que “varre o mundo”, esse, sim, deve ser da preocupação de todos.
E qual seria, exatamente, esse “antissemitismo que varre o mundo”? As manifestações de milhões de pessoas contra o assassinato absolutamente frio de um governo contra uma população desarmada. Segundo a colunista do Globo, seria preciso falar ao Estado de Israel “Não mata tanta gente assim, sabemos que vocês estão certos porque foram massacrados pelos nazistas, então vocês têm o direito, pelos próximos 2.000 anos, de matar quem vocês queiram. Mas matem menos pessoas, vamos fazer um acordo razoável”.
É simplesmente absurdo o que a colunista defende. Diante do morticínio que o Estado judeu está provocando, o grande problema no mundo é o antissemitismo. Mais adiante, ela afirma:
“Para nós, judeus e descendentes de judeus, o antissemitismo não é novidade; novidade é ver como está naturalizado. Até outro dia, pessoas antirracistas e defensoras de minorias tinham vergonha de se declarar abertamente antissemitas; não mais. Ser antissemita agora é cool, virou tendência.”
Rónai cria uma realidade paralela para justificar o seu posicionamento sanguinolento. Quem é que se declara abertamente antissemita fora os grupos neonazistas mais radicais? Até porque nem todo neonazista é antissemita, basta vermos o caso da Ucrânia, que possui milícias abertamente nazistas, mas que são amigas de Israel. Onde é que está essa tendência que da qual a colunista reclama?
Seguindo com sua desfaçatez ao tratar o problema, Cora diz:
“Tento não ser paranoica e não ver um monstro em cada esquina. Tento acreditar que os pagodeiros que batucavam em São Paulo com bandeiras do Hamas, usando camisetas do Hamas, cantando slogans pró Hamas, não fazem ideia do que realmente seja o Hamas (ainda que não tenha ilusões quanto às pessoas que lhes forneceram tais camisetas e bandeiras).”
Ou seja, não se pode apoiar o Hamas, caso contrário, você é um monstro. Vejamos: segundo os sionistas como Cora, o Hamas teria matado 1.200 pessoas – inicialmente, eram 1.400, mas Israel teve que recuar frente à sua farsa. Mesmo que não soubéssemos de absolutamente nada, é fácil concluir que uma parte dessas 1.200 pessoas seriam de militares israelenses, uma vez que vários postos militares foram atacados.
O governo israelense divulgou que cerca de 450 pessoas dessas 1.200 eram militares. Se aceitarmos a estimativa absolutamente falsa dos sionistas, cerca de 750 pessoas teriam sido mortas pelo monstruoso Hamas. Esse número não chega nem perto das quase 15.000 pessoas mortas por Israel, as quais mais de 5.500 são crianças. Ou seja, se precisamos condenar o Hamas, o que teria de ser feito em relação ao Estado de Israel? A reação proporcional seria declarar guerra contra Israel, não existe nem mesmo comparação para isso.
Então, ela diz: “Tento imaginar que as imensas manifestações nas grandes cidades cosmopolitas são de fato pró-Palestina, e não anti-Israel; mas é difícil”. Mas como fazer uma manifestação em defesa da Palestina sem, necessariamente, ser contra o Estado que é o responsável por todo o sofrimento do povo palestino? Os palestinos não estão cometendo suicídio ou até mesmo morrendo aos montes por conta de uma doença rara e desconhecida na Faixa de Gaza. Estão sendo sistematicamente assassinados pela ocupação nazista de Israel. Nesse sentido, até mesmo a pessoa mais moderada comparece às manifestações em questão para condenar o Estado de Israel pelo que ele está fazendo em Gaza.
Ela continua: “Não dá para ignorar os cartazes pregando o fim do povo judeu […]”. Que cartazes são esses? A equipe deste Diário esteve presente em dezenas de manifestações ao redor do País e nem uma única vez registrou qualquer cartaz desse tipo. Se existiam, de fato, esses cartazes, por que eles não são a foto de destaque do artigo, mas sim a faixa do PCO?
Até porque, se equiparássemos o fim do Estado de Israel à extinção, ao assassinato, ao genocídio de todos os judeus, encontraríamos o problema de que existem mais judeus fora do que dentro de Israel. Ou seja, exterminar o povo judeu não está sendo colocado de forma alguma nas manifestações.
“[…] nem deixar de perceber que boa parte dos manifestantes cobre o rosto à maneira dos terroristas do Hamas (e não do povo palestino em geral”, diz Cora. Foram registrados pouquíssimos casos em que pessoas estariam cobrindo seu rosto durante as manifestações. Algo completamente justificado quando levamos em consideração a violência do sionismo, da extrema-direita brasileira que é a principal aliada de Israel aqui no Brasil.
A colunista também afirma: “Vários chegam a usar a faixa verde dos terroristas, com a clássica inscrição em árabe (o que está escrito é ‘Não há Deus senão Alá, e Maomé é o seu profeta’)”. Teremos, então, que colocar Alá e Maomé na ilegalidade. Mas fato é que, no Brasil, a comunidade judaica é de cerca de 120.000 pessoas. Já de muçulmanos, são mais de 1,5 milhão – uma estimativa muito baixa. Todas essas pessoas teriam, portanto, que abaixar a cabeça para as imposições de pessoas como Cora por conta do dinheiro que está envolvido? É absurdo.
Então, ela parte para um ataque contra o Irã: “Não dá para fazer a Pollyanna por muito tempo ao constatar que o Irã continua matando mulheres que não usam o hijab e não se ouve um pio de protesto”. De 1979, quando aconteceu a revolução no Irã, até hoje, se mataram 10 mulheres por não usarem o hijab, é muito. Mais uma vez, é a “denúncia” da morte de 10 pessoas contra 15.000 mortos em pouco mais de um mês.
Ela continua: “[…] que a China continua dizimando os uigures e só há silêncio; que mais de 150 mil pessoas já morreram na guerra que a Arábia Saudita promove no Iêmen, ou que mais de 500 mil morreram na Síria, e quem se importa?”. A isso, devemos dizer: os israelenses é que não se importam! O massacre contra os iemenitas sempre foi apoiado por Israel. Ademais, o responsável pela guerra na Síria é o imperialismo, também apoiado pelo Estado sionista.
Dando um espetáculo de cinismo, a colunista afirma:
“Quem foi aos Champs Élysées por elas, ao Times Square, à Cinelândia? Não quero ser sommelier de manifestações, mas é difícil não juntar os pontos — e é difícil também não concordar com aqueles manifestantes que, sincera e genuinamente, sofrem pelo povo palestino e querem ver o fim da guerra. Eles existem, e eu estaria entre eles se isso não me pusesse em tão má companhia.
A despeito do que venha a acontecer, o Hamas já ganhou a guerra da opinião pública. Não há ser humano que consiga absorver a violência em Gaza, dia após dia, sem um baque no coração. Diante do horror que sofreu, Israel deveria ter se recolhido e pensado com extrema cautela nos próximos passos, de preferência concentrando-se no destino dos reféns. Ao contrário, agiu exatamente como o Hamas esperava que reagisse. Xeque-mate.
Um país não pode lutar contra o terrorismo reagindo com o fígado. Países precisam ter cérebro, não vísceras, especialmente diante de um inimigo que cultiva o martírio de inocentes.”
Se for verdade que o Hamas cultiva o martírio dos inocentes, a grande questão é: quem é que está provocando esse martírio? Condenar, por exemplo, os cristãos por cultivar os seus mártires, não tem nada a ver com colocar esses cristãos aos milhares na cruz, como dizem que teria feito o imperador romano Nero.
“Fala-se muito da desproporção entre o poderio militar israelense e os recursos do Hamas, mas ela vai além de uma simples contagem bélica. O desequilíbrio não favorece Israel: não há exército que possa com fanáticos que almejam o paraíso (e dominam as redes sociais)”, vejamos o cinismo da colocação: o Hamas domina as redes sociais.
Foi o Hamas que pressionou Elon Musk para que ele proibisse no X (antigo Twitter) a expressão “Palestina livre do rio ao mar”. Pensávamos que havia sido o lobby sionista, que havia sido Benjamin Netanyahu, mas a brilhante colunista revela que estávamos equivocados…
“Nada justifica que Benjamin Netanyahu ainda esteja no poder. O seu governo é uma praga bíblica, uma maldição que, pelo resto dos tempos, vai desafiar a compreensão do mundo.” Fato é que Netanyahu está na política há muito tempo, a maior parte dos políticos israelenses, inclusive, já sabe exatamente com o que está lidando.
Ele é a continuação em forma de partido político de uma organização fascista da década de 30, fascista no sentido absolutamente literal da palavra. Era um grupo que andava de camisa marrom, fazendo a saudação nazista e que tinha como palavra de ordem “A Alemanha para Hitler, a Itália para Mussolini e a Palestina para os sionistas”. Esse é o Likud. E Netanyahu faz parte da ala mais moderada do Likud, seu governo está repleto de direitistas completamente psicopatas.
Analisemos, então, a conclusão da colunista: o Hamas é mais poderoso que o exército de Israel. O Hamas alega ter 40.000 combatentes na Faixa de Gaza, possivelmente uma parte da Cisjordânia. Enquanto isso, o exército de Israel tem 250.000 soldados, fora os reservistas. Um exército que está armado com as armas mais modernas que existem fornecidas pelos Estados Unidos. Como uma pessoa pode ser capaz de fazer essa comparação absurda?
A matéria em questão é importante, pois ela revela que o chamado “antissemitismo 2.0” de Cora é, na realidade, a oposição à monstruosidade do sionismo. Suas colocações são absolutamente mentirosas, o que ela tenta fazer, assim como todo o sionismo, é naturalizar a palavra da moda, o tal “antissemitismo”. O que ela naturaliza, na realidade, é a chacina dos palestinos.
A cruzada contra o antissemitismo é a censura das monstruosidades que Israel comete contra os palestinos. A conclusão de que “O Hamas já ganhou a guerra da opinião pública” é a sua verdadeira preocupação, algo que é verdade. Praticamente o único setor que não apoia a ação do Hamas é o sionismo, que utiliza de sua imensa máquina de propaganda para tentar reverter essa vitória, censurando, proibindo, estabelecendo o Ministério da Verdade.