Distracionismo racial

“Colapso ambiental”: como o identitarismo encobre o real culpado

Filósofo martinicano, em entrevista à imprensa burguesa, explica que a culpa dos problemas é do "imaginário colonial"

Quando dissemos que o identitarismo é uma ideologia criada e impulsionada nos escritórios dos países imperialistas para dividir e distrair a luta real do povo não é nenhum exagero, nem mesmo uma simples metáfora. A coisa é exatamente assim.

A ideia é que um povo oprimido deixe de lado as questões importantes da sua vida e substitua por coisas totalmente secundárias e algumas até inexistentes. Eis que é exatamente nisso que nos deparamos ao ler a entrevista concedida ao jornal golpista Estado de S. Paulo pelo filósofo martinicano Malcom Ferdinand.

O título do artigo no qual foi publicada a entrevista deixa claro o caminho seguido: “Entenda como o racismo levou o mundo ao colapso ambiental”. Segundo o jornal da burguesia brasileira, que nós sabemos, está muito preocupada com o racismo e o meio ambiente, o “racismo”, uma entidade que não se sabe direito o que é, seria o responsável pelo colapso ambiental.

Bom, em primeiro lugar, seria preciso perguntar que racismo é esse tão poderoso que seria o principal responsável pelos problemas do meio ambiente. Qualquer outro componente, a devastação do capitalismo, o neoliberalismo, nada disso entra na conta, ou pelo menos, se entrar, não tem nem de longe a mesma importância para a teoria.

Isso aconteceu justamente porque a burguesia imperialista está substituindo qualquer crítica ao mundo real por uma crítica abstrata que ninguém sabe direito o que é.

Em vez de dizer: “o capitalismo está levando ao colapso ambiental”, diz-se que o “racismo” é o culpado. Como dissemos acima, é a substituição de uma luta real, contra inimigos reais, por uma luta imaginária, contra inimigos imaginários.

Lendo a entrevista, percebe-se que o filósofo, que está em destaque no Estadão por estar lançando um livro, não se preocupa muito preocupado com coisas reais, menos ainda com lutas reais. Para ele, tudo se resume a concepções místicas, uma espécie de sincretismo espiritual entre algumas crenças indígenas e africanas.

“os senhores transformaram os úteros das mulheres em uma fábrica para produzir trabalhadores que continuariam produzindo seus bens. Tudo por dinheiro ou ganhos pessoais.”

De fato, os colonizadores tinham o direito sobre os filhos das escravas, mas o identitarismo prefere falar em úteros, fazer metáforas e, no fim, não falar nada com nada. O mais importante, porém, não é a frase rocambolesca, mas o seu conteúdo.

Segundo a ideia do filósofo martinicano, esse controle sobre os descendentes seria um problema da época da colonização. Mas o que dizer do agora, será que os filhos dos trabalhadores assalariados, que Marx chamou de “escravos modernos”, também não nascem predestinados a pertencer ao capitalista.

O problema está justamente que acusar a escravidão que aconteceu no século XIX é fácil. Ganham-se prêmios, entrevistas na imprensa burguesa. Falar da escravidão de hoje é que é complicado, denunciar o imperialismo, a devastação neoliberal. Isso não agrada à burguesia.

Até quando fala sobre coisas atuais, suas conclusões rementem ao passado distante:

“eu vi nos noticiários que um policial branco, de folga, fora do trabalho, foi filmado com uma câmera linchando um homem preto e você pode ver o policial branco usando uma corda, açoitando, e com uma arma. Então, o imaginário ainda é colonial, porque ele reproduz algo da época escravagista, hoje, em 2023.”

De fato, açoitar o pobre trabalhador é um método antigo no Brasil. Mas dizer que a culpa dessa cena descrita por ele é do “imaginário colonial” é quase uma justificativa para o problema. É como se dissesse “não temos muito o que fazer, o problema é a herança colonial.”

Qual seria a proposta para hoje? Os identitários não têm nada a dizer senão que seria preciso uma educação que mudasse esse “imaginário”. O problema é que ninguém sabe como seria essa educação a não ser obrigar as pessoas a pensarem como eles, o que é impossível.

No caso do policial, é fácil acusar o “imaginário”, difícil é denunciar a polícia e pedir a sua extinção como máquina de guerra contra o povo.

Voltando ao começo do artigo, é por isso que o imperialismo impulsiona o identitarismo. É uma ideologia que nada tem de revolucionária, pelo contrário, é reacionária.

Quanto ao “colapso ambiental”, é reflexo da economia. Esquece-se de que estamos sob o capitalismo, que explora milhões de pessoas pelo mundo, que destrói o meio ambiente, e colocamos a culpa em algo imaginado ou no “imaginário” racista da população.

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