O Ministério da Defesa chinês sinalizou sua prontidão para fortalecer a cooperação militar com os Estados do Golfo. A declaração veio semanas depois que o presidente Xi Jinping participou da primeira Cúpula China-Estados Árabes e da Cúpula China-Conselho de Cooperação do Golfo na Arábia Saudita. Perguntado por um jornalista na quinta-feira (29) sobre as “oito ações conjuntas” propostas por Xi nas reuniões, o porta-voz do Ministério da Defesa, Tan Kefei, disse: “Os militares chineses estão dispostos a trabalhar com os militares dos países árabes” para “promover conjuntamente iniciativas de segurança global” [1].
Tan passou a descrever o Exército chinês, bem como os das nações árabes, como “forças importantes para a manutenção da paz e estabilidade mundiais”. Ele observou que Pequim e as potências regionais compartilharam tecnologia militar e realizaram exercícios conjuntos nos últimos anos. De acordo com o porta-voz do ministério, essa “cooperação frutífera” ajudou a construir “confiança mútua estratégica” entre a China e os países árabes. O presidente Xi esteve em uma visita oficial a Riad a convite do rei Salman de 7 a 10 de dezembro. [2]
Falando na cúpula árabe-chinesa, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman revelou que foram realizadas discussões sobre a “criação de uma zona de livre comércio entre a China e os países do Golfo Pérsico”. Além disso, os países do Golfo e a China confirmaram planos de trabalhar em conjunto para resolver “problemas de segurança alimentar e energética”, bem como cooperar em relação às cadeias de suprimentos, acrescentou o príncipe herdeiro. Pequim e Riad assinaram uma série de acordos e memorandos de entendimento como resultado. O chefe de Estado chinês também realizou uma reunião separada com seu presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi. [3]
Os Talibãs, os sauditas e o “vácuo de Poder” no Oriente Médio
Em geopolítica, para se atribuir autoridade de poder regional, utiliza-se o termo “vácuo de Poder” para definir uma situação política transitória onde governos não teriam uma organização ou uma liderança factível, identificável. Trata-se, entretanto, de uma conceituação arbitrária definida pelo próprio imperialismo. Por isso, com a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, o presidente dos EUA, Joe Biden, logo procurou se retratar “Sou o presidente dos Estados Unidos, e a responsabilidade é minha. (…) Sustento firmemente minha decisão. Depois de 20 anos, aprendi a duras penas que nunca houve um bom momento para retirar as forças americanas”, declarou o democrata. “A verdade é que isto (a volta do Talibã) ocorreu mais rápido do que prevíamos.” [4].
Pressionado, Biden tratou pessoalmente de afirmar sobre um possível “vácuo de Poder”, que na realidade vem pouco a pouco se revelando o oposto da afirmação do presidente dos Estados Unidos. Rússia tem ocupado posições importantes avançando na cooperação com Síria e mantendo relações não desprezíveis com Israel e principalmente Irã. Já a China, vem fortalecendo a “Iniciativa do Cinturão e da Rota” na Ásia Central e no Indo-Pacífico, até mesmo avançando em direção ao Djibouti, no chifre da África. Agora, em meio ao ímpeto do imperialismo em forçar a guerra por procuração na Ucrânia contra a Rússia e reativar a guerra do silício entre China e sua província, Taiwan, Xi Jinping visitou a Arábia Saudita e obteve importante vitória geoestratégica ao participar como protagonista da Cúpula China-Estados Árabes e da Cúpula China-Conselho de Cooperação do Golfo na Arábia Saudita.
Esse passo em direção ao Oriente Médio significa uma vitória para os países explorados e os laços árabe-chineses são estratégicos e importantes devendo se manter neutros frente aos Estados Unidos na próxima década. Sem condições de avançar além da neutralidade, a Arábia Saudita pode caminhar para uma nova rota, determinando melhor os rumos de toda península. As pressões sob o Catar e a escalada sobre o Iêmen por parte das tropas britânicas e norte-americanas com menor participação dos sauditas é um indicativo de que o pêndulo está pesando para o leste.
A China é o maior exportador e importador do mundo, o maior centro industrial, o maior inventor de patentes, maior investidor em energias renováveis, o maior produtor de painéis solares, o maior produtor de turbinas eólicas, o maior consumidor de energia e o maior importador de petróleo. Já os árabes são os “emergentes” da vez, sabendo jogar o jogo dos hidrocarbonetos e das rotas comerciais globais, além de concentrarem um grande “mercado consumidor” de tecnologias, apesar de diversos países da região estarem em meio a um modo de vida “não-urbano”.
Diplomacia frente ao imperialismo
O movimento sino-árabe demonstra como a crise do imperialismo, vem impulsionando os países atrasados a buscar formas de organização que “driblem” o controle total, tentado a todo custo pelos Estados Unidos. A China vem conduzindo, juntamente com Rússia e Irã, um caminho para diversos países perceberem as possibilidades de enfrentamento ao imperialismo. Recentemente, por exemplo, a China renunciou aos juros de 23 empréstimos para 17 países africanos, refutando as mentiras dos Estados Unidos sobre o estabelecimento de um fomento ao estilo FMI. Claro que a ideia da China é poder se equilibrar aos ataques da imprensa imperialista, mas existem claras demonstrações de “alternativas” ao regime político norte-americano.
Lula pode reconduzir o Brasil a essa aliança, a fim de diminuir a influência nefasta que os Estados Unidos exercem sobre o País, concedendo mais autoestima ao povo brasileiro, e ampliando as possibilidades de independência do regime político imperialista, a fim de trilhar seu próprio destino. Recentemente Lula e Putin deram sinalização clara para o avanço dos BRICS [5], e o bloco, em meio à crise na Europa e Estados Unidos, fará grande frente às transformações no comércio internacional, ampliando as condições de desenvolvimento das forças produtivas no Brasil, podendo com essa possibilidade prover melhor distribuição que atenda à classe trabalhadora. Esse é um caminho para os trabalhadores organizarem governos que enfrentem o imperialismo e a burguesia, não há outra possibilidade.
Referências
[1] Russia Today. China reveals plans for military cooperation with Arab states. Disponível em: https://www.rt.com/news/569117-china-arab-nations-military-cooperation/
[2] idem
[3] idem
[4] CRAVEIRO, Rodrigo. “A responsabilidade é minha”, diz Biden sobre retorno do Talibã ao poder. Disponível em https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2021/08/4944087-a-responsabilidade-e-minha-diz-biden-sobre-retorno-do-taliba-ao-poder.html
[5] DIÁRIO CAUSA OPERÁRIA. Lula e Putin se comprometem a reestruturar os BRICS. Disponível em https://causaoperaria.org.br/2022/lula-e-putin-se-comprometem-a-reestruturar-os-brics/