Jovem, negro, morador de favela, camelô. Felipe Vieira Nunes foi um dos primeiros jovens a ser assassinado durante o que o polícia denominou de “operação” Escudo. A denúncia foi feita durante a Análise Política da Semana. Lá, Izadora Dias, coordenadora do Coletivo de Negros João Cândido, usou a palavra para fazer a denúncia do rapper Nego Mancha, um dos membros do coletivo, que relembrou o caso de uma das pessoas assassinadas pela polícia que, antes, foi torturada até entregar a senha de seu celular. A polícia proibiu que pessoas se aproximassem para socorrer o rapaz, deixando-o agonizar no local. Mais tarde, foi entregue morto pela própria polícia em um hospital. Seu celular ainda foi acessado por volta da meia-noite, cerda de 3 horas após sua morte, às 21h.
Três semanas após o início da chacina do Guarujá pela Operação Escudo, a polícia continua matando. O governador Tarcísio já anunciou que a operação assassina não tem prazo para terminar. Em resposta às chacinas, familiares das vítimas da chacina do Guarujá chamaram uma manifestação que aconteceu nesse domingo (20), na Avenida Paulista, onde o Partido da Causa Operária (PCO), Comitês de Luta, o Coletivo de Negros João Cândido, o Grupo por uma Arte Revolucionária e Independente – GARI, entre outros coletivos e grupos de esquerda.
Veja algumas das falas na manifestação:
Fernando, militante do coletivo de negros do PCO, participou do ato por causa das chacinas que aconteceram de maneira geral na periferia em diferentes regiões do Brasil. Ele ressaltou que essa instituição está ligada aos ricos, aos banqueiros, à burguesia, que é a classe inimiga dos trabalhadores.
Chico Weiss, do Grupo por Uma Arte Revolucionária Independente (GARI), esteve presente para apoiar o ato e denunciar o assassinato da população pobre pela instituição genocida a nível nacional. Ele mencionou o engano de algumas pessoas ao avaliarem se tratar de corrupção da polícia, ou de uma bobagem que um, ou outro policial está fazendo. Ele comprovou sua fala destacando que, além de a ação ter se dado simultaneamente em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia, isso não é novo e acontece há muito tempo no Brasil. Ademais, ele a necessidade da dissolução da Polícia Militar, um instrumento que tem como única função agir de forma truculenta, como capangas da burguesia que mata, que ameaça, que persegue e intimida a população. Finalmente, em nome do GARI, ele reforçou seu apoio à luta pela extinção da Polícia Militar.
Nego Mancha também ressaltou, em primeiro lugar, a necessidade de se acabar com a Polícia Militar, que deve ser dissolvida. Ele denunciou a ação de organizações de repressão como o BAEP, o RAPA, a Força Tática, o COE, o BOPE. Mancha desmentiu a justificativa da polícia pelos assassinatos, que disse que “fulano ciclano e beltrano” atiraram na polícia.
Ele relatou o triste fim do trabalhador que, pressionado pela fome, por não ter como resolver as necessidades básicas de seus familiares, se desespera e “ganha” uma passagem pela polícia, e isto marcar toda a sua vida. No caso da chacina do Guarujá, ele vira alvo da Operação Escudo – moradores denunciaram que os policiais tinham a ordem de matar todos os que já tivessem tido uma passagem pela polícia.
É importante notar a denúncia de Mancha acerca da política identitária envolvendo o negro e o “lugar de fala”. Nesse sentido, ele relembrou o caso de Joaquim Barbosa, ministro negro do STF que comandou o Mensalão que levou à Lava-Jato, que derrubou o governo do Partido dos Trabalhadores. Questionou a fragilidade de mudanças de 5 ou 6 anos atrás que são discutidas até hoje, medidas mínimas como o caso das cotas para negros em universidades.
Nego Mancha queria que seu recado chegasse até o presidente Lula, recado de que “a luta política é igual à luta de boxe, que quem não bate, apanha, que quem fica na defensiva vai para a lona”. Ele convidou o público a partir para cima, e não apenas resistir na tentativa de defender o que já foi conquistado. É preciso ir além, não defender a cota apenas para alguns, mas exigir universidade gratuita para todos. Com relação ao desemprego, ele defende que, se o Estado não tem condições de oferecer oportunidades de emprego, o mesmo deve contratar os cidadãos desempregados.
Depois das chacinas que aconteceram ao mesmo tempo em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia, Nego Mancha criticou a colocação tardia do Presidente Lula de que a polícia deve aprender a distinguir o pobre do bandido, enquanto o governador Tarcísio se promove com essas mesmas ações da polícia. Ele explica: “A polícia não tem que matar ninguém, nem o trabalhador pobre e nem o bandido pobre“.
Seguindo a mesma linha, Izadora Dias, coordenadora do Coletivo de Negros João Cândido, também destacou que a polícia é uma organização para atuar contra os trabalhadores, para reprimir a população. Que com o aprofundamento da crise econômica, a revolta da população também aumenta. Ela denunciou o fato do Estado estar submetendo a população pobre trabalhadora a um regime de terror, de exceção, que os policiais entram nos bairros operários, nas favelas e saem matando.
Izadora Dias convocou a classe trabalhadora a lutar pelo fim da Polícia Militar. O mesmo deveria fazer a esquerda que se diz revolucionária, defender o fim de todas as polícias, o fim da repressão, o fim das prisões, o fim da censura. Defende que ninguém deve ser preso por falar. É preciso que a esquerda atue junto nas favelas, junto com a classe operária, que fortaleça a luta contra o desemprego, contra a fome, contra a repressão policial.
Confira, abaixo, fotos e depoimentos do ato: