O imperialismo é notoriamente um sistema de concentração de mercados com uma forte tendência à criação de monopólios cada vez mais robustos no vasto mercado mundial. Entretanto, também é o impulsionador de crises cada vez mais intensas e múltiplas contradições, com graus de sofisticação do processo produtivo de um lado e também complexidades geradoras de distúrbios econômicos de outro. As contradições no interior do sistema capitalista também contribuem para romper com a ordem neoliberal e precipitam polarizações a despeito da sua própria vontade.
A crise mais aguda do imperialismo é o produto histórico do esfacelamento econômico e político neoliberal entre a crise econômica e financeira de 2008, com epicentro nos Estados Unidos, a ascensão do consórcio sino-russo (parceria entre a China e a Rússia), a Covid-19 e o aprofundamento da crise política interna e externa dos Estados Unidos; que conjuntamente, são em 2023, a fórmula do ápice da derrocada anunciada do sistema.
A guerra da Ucrânia é o reflexo dessa crise colossal do imperialismo em ritmo de desespero por parte dos Estados Unidos. Os sócios da OTAN, incluindo a maior força econômica da Europa – a Alemanha, passa ser a nação mais diretamente prejudicada desde o início do conflito armado em fevereiro de 2022. Um prejuízo de bilhões com os gasodutos Nord Stream 1 e 2, além de uma série de dificuldades de abastecimento, inflação e perdas enormes no ritmo de crescimento econômico alemão não fizeram a Alemanha recuar e deixar de ser o “cachorrinho” que bate o pé e late de longe do portão da Rússia, numa espécie de cantoria retórica uníssona pró imperialista a partir da matriz estadunidense.
Em meio a uma retórica anti-Rússia, uma série de “socorros” são requisitados junto aos parceiros russos; primeiro com a China no que tange as relações comerciais e agora com mais um parceiro russo, o Cazaquistão, para envio de petróleo aos alemães. O chanceler alemão Olaf Scholz é um péssimo ator e não consegue disfarçar o mal-estar pelo qual não consegue explicar ou responder ao empresariado alemão os entreves econômicos a que vem submetendo o país mais rico da Europa. A burguesia alemã está estrangulada e exige que seus mandatários políticos resolvam os problemas que envolvem a energia, a queda na atividade econômica e a inflação recorde. O caso da relação comercial entre o Cazaquistão e a Alemanha para o fornecimento de petróleo revela mais uma face das contradições e da própria falência do imperialismo. Entretanto, o Cazaquistão só pode firmar essa parceria com a aprovação russa dos seus oleodutos.
Conforme o portal Petronotícias, “O Cazaquistão garantiu a aprovação da Rússia para usar sua infraestrutura de oleoduto para transportar 300.000 toneladas de petróleo para compradores na Alemanha no primeiro trimestre deste ano. A confirmação foi feita pela empresa estatal Kaztransoil. Em um comunicado ela diz que o petróleo é proveniente do campo de Karachaganak, no oeste do país e será bombeado pelo oleoduto Druzhba da Rússia e entregue à Polônia via Belarus antes de chegar à Alemanha. As entregas totais em janeiro serão de 20 mil toneladas. O ministro da Energia do Cazaquistão, Bolat Akchulakov, disse que o país planejava exportar 1,5 milhão de toneladas para a Alemanha via Rússia em 2023, mas que esse volume poderia aumentar para 7 milhões de toneladas”. (Leia)
Na verdade, o imperialismo depende, em grande medida, das fontes de recursos naturais dos países atrasados, onde esses, geralmente não hesitavam em cumprir os ditames do imperialismo com forte ameaça e domínio político-comercial. A burguesia dos países atrasados forma uma aliança proveitosa com o imperialismo na maioria das vezes ou é coagida por esse. Talvez; pela própria falência do imperialismo os grupos dominantes não tivessem compreendido que muitos países estão escapando paulatinamente das amarras desse mesmo sistema de dominação global, seja devido ao acirramento das lutas internas entre as respectivas burguesias e os diversos grupos de proletários, como também ao fortalecimento de países historicamente dissidentes e até poderosos como a Rússia; esse último, inclusive, nada disposto a aceitar as ordens de Washington. Com Irã, Cazaquistão, Síria e até mesmo a Arábia Saudita se aproximando do BRICS e até de outras parcerias estratégicas com a Rússia e a China como a Nova Rota da Seda, como o imperialismo poderá recuperar o terreno perdido nessas quase duas últimas décadas, em especial de 10 anos para cá?
A depender dos russos e chineses a luta anti-imperialista irá impulsionar a luta de classes no interior dos países e ao nível internacional.