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Futebol

Caso Vini Jr. revela o cinismo da esquerda identitária

Craque do Real Madrid é vítima do avanço da extrema-direita e, ao mesmo tempo, da demagogia identitária

Em uma partida de futebol válida pelo Campeonato Espanhol da temporada 2022/2023 entre Real Madrid e Valencia, o atacante brasileiro Vinícius Júnior foi alvo de racismo por parte da torcida adversária.

Os torcedores do Valencia chamavam Vinícius Júnior de macaco desde o momento em que o atacante chegou ao estádio, e, durante o jogo, as ofensas prosseguiram até que Vini Jr. perdeu a paciência e apontou, na arquibancada, pelo menos dois torcedores que estavam incentivando os demais a chamarem o brasileiro de macaco. Tudo resultou em uma confusão ao final do jogo, em que Vini. Jr. foi expulso e, em suas redes sociais, afirmou que lutaria contra o racismo, mesmo que fora do Real Madrid.

Os episódios de ofensas raciais contra o jogador são inúmeros. Ainda em 2021, o brasileiro foi chamado de macaco por torcedores do Barcelona; em 2022, os torcedores do Mallorca imitavam macaco e gritavam para Vini Jr. ir pegar bananas. Além disso, o atacante também foi criticado pelas dancinhas na hora de comemorar um gol, sendo acusado por Pedro Bravo, presidente da associação espanhola de futebol, de fazer macaquice. Episódio que precedeu a própria Copa do Mundo de 2022.

Já em dezembro de 2022, o atacante foi chamado de “negro de m*”, e ouviu sons de macaco vindos da torcida do Valladolis. Foi a primeira vez que Vini Jr. foi às redes sociais pedir providências da LaLiga, a entidade responsável pelo futebol espanhol. 

Afora essas ocorrências, em janeiro de 2023, o atacante teve um boneco confeccionado, que foi pendurado em uma ponte pela torcida do Atlético de Madrid, com uma faixa dizendo “Madrid odeia o Real”. 

Outros episódios foram registrados antes do acontecimento que tomou o noticiário nacional e fez até o presidente da república, Lula, se manifestar em apoio a Vini Jr. e que fossem adotadas medidas de punição contra os envolvidos. 

Embora a esquerda pequeno burguesa tenha feito um carnaval sobre o caso, o fato é que não é novidade o que acontece com os jogadores brasileiros na Europa, sendo que Daniel Alves, Neymar e outros jogadores já passaram pelo mesmo problema naquele continente.

Mas qual é a explicação para estes acontecimentos e o que deveria ser reivindicado pelo movimento de luta do povo trabalhador, ele mesmo um amante do futebol?

Em primeiro lugar é preciso destacar que existe uma propensão fascista na população europeia muito grande, e que vem se aprofundando à medida que se agrava a crise econômica. E os primeiros alvos dessa propensão são, por óbvio, os imigrantes, dentro e fora das quatro linhas. É uma hostilidade muito grande contra os imigrantes, e, no futebol, a hostilidade se volta para os brasileiros, posto que são os melhores no esporte. É o explica a falta de manifestações racistas contra outros negros que jogam na Europa, e que são muitos, mas que não desenvolvem o melhor futebol do mundo, como é o caso dos brasileiros.

A expressão racista, as manifestações racistas são incentivadas por interesses econômicos. É um problema de quem manda na economia e por aí é que deve ser explicado. É uma representação política, subjetiva, de um problema material que está acontecendo. Um problema muito claro, por exemplo, é o desemprego que avança na Europa e um setor da população europeia ataca, de pronto, os imigrantes como responsáveis por isso. 

O caso de Vinícius Júnior chama atenção em razão da reação da esquerda pequeno-burguesa, que, até ontem, não ligava a mínima para o racismo que os jogadores brasileiros sofriam na Europa. A esquerda sempre disse que os jogadores tinham dinheiro, que estavam ricos, que eram direitistas, bolsonaristas, e que por isso não mereciam defesa alguma. O exemplo mais claro é o do melhor jogador do mundo na atualidade, Neymar, que foi e é um dos mais atacados por essa mesma esquerda. 

Mas existe uma explicação para esta “defesa” da esquerda pequeno-burguesa, identitária, no caso de Vini Jr. A primeira explicação reside nas propostas apresentadas para a resolução do problema. 

Com enorme influência do movimento negro norte-americano e das ONGs, aparece o pedido de reparação, ou seja, dinheiro:
“O Estado espanhol nos deve reparação, as empresas Santander, Microsoft, Puma, Panini, e todos os que patrocinam La Liga nos devem reparação. A La Liga nos deve reparação. Vocês racistas precisam entender: não passarão”. Diz um documento apresentado em uma manifestação realizada no dia 23 de maio, em São Paulo, assinado por organizações do movimento negro.

Essa reparação, indenização, deveria ser paga para quem? Vini Jr.? Não. Para os negros pobres brasileiros? Não. Para os jogadores negros brasileiros? Não. Essa reparação seria paga para as ONGs, que, por algum motivo, seriam detentoras das reivindicações do negro.

Foi justamente o que aconteceu no caso da morte de João Alberto Silveira Freitas, na noite de 19 de novembro de 2020, espancado por seguranças do Carrefour. A empresa ficou de pagar, por obrigação judicial, mais de 100 milhões de reais para “associações ligadas à causa negra e combate ao racismo”. Essa é a chamada reparação. Alguns poucos, supostos líderes da luta negra brasileira, irão receber dinheiro sem motivo algum. E, por outro lado, a empresa ainda se passa por grande atuante na defesa do negro, mesmo tento estrangulado um em seu estabelecimento. 

Em segundo lugar, além do aspecto financeiro, tem o aspecto repressivo da questão, que talvez seja o mais grave. As medidas apresentadas por um amplo setor da esquerda envolve a repressão dos torcedores, aumento de repressão nos estádios, criação de novos crimes, etc. 

Uma das centrais sindicais, que representa a poeira cósmica da esquerda de classe média, a CSP-Conlutas, disse, em texto sobre o caso, que: “é preciso uma investigação séria e ampla punição aos agressores e de todas as instituições responsáveis”, em um texto cujo título era: “Vini Jr. vai para cima e escancara necessidade de punir racistas”.

Esse aspecto punitivo da questão se encontra com outros já consolidados, como a equiparação da injúria racial ao racismo, feita por lei publicada no início do ano. Fazer coisas contra o negro, objetivamente, é igual a falar coisas contra o negro. É onde entra o crime de opinião. 

No Brasil, neste momento, existe uma tendência reacionária e repressiva contra os bolsonaristas, expressada na palavra de ordem de “sem anistia”, presente em manifestações da esquerda, que é, na verdade, uma tentativa de se criar um Estado de exceção, onde os direitos democráticos, como a liberdade de expressão e a ampla defesa, são postos de lado na caça às bruxas. Todos devem ser presos, todos devem ir para a cadeia, tendo praticado ou não algum crime.

Por isso a esquerda identitária se assanhou tanto com o caso de Vini Jr. É mais uma oportunidade de fazer dinheiro e fazer campanha pelo aumento do aparato repressivo do estado burguês, de conjunto, e isso envolve, especialmente, a questão dos estádios e torcedores.

Basta ver episódios recentes de cânticos “homofóbicos” nos estádios brasileiros, especialmente no jogo Corinthians e São Paulo, e a reação da esquerda em pedir mais repressão nos estádios, punição aos clubes e perseguição contra as torcidas organizadas. 

Claro está que o caso de Vini Jr está sendo utilizado para a defesa de um programa super direitista, que é a repressão, por um lado (algo que nunca foi favorável ao negro) e, por outro, a reparação financeira, que não deixa de ser uma corrupção, e que é uma forma de sustentar toda a política identitarista e suas organizações. 

O ódio racial, como se diz, não será resolvido com mais leis, com o aumento das forças repressivas, com a criação de novos crimes e com restrições à liberdade de expressão. Pelo contrário, toda essa política cumpre o papel oposto: faz aumentar a raiva. 

A solução para o problema está na luta real do negro em conjunto com a classe operária. Foi a única luta que deu resultado prático para o negro brasileiro. Todo e qualquer direito do negro foi fruto dessa luta, que visa por abaixo o regime de exploração capitalista, e mudar, de vez, a situação social do negro, que é a origem às manifestações racistas.

Esta luta é democrática, ou seja, visa, tão somente, conquistar para o negro os direitos sociais e políticos que outros setores da sociedade burguesa já possuem. É uma luta por aumento de direitos, não por repressão e censura, e deve ser feita em conjunto com os demais setores oprimidos.

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