Nos últimos meses, um caso que vem tomando conta do noticiário do futebol brasileiro: são as ofensas de cunho racista contra o jogador brasileiro Vinícius Júnior, conhecido Vini Jr, atacante do Real Madrid e da Seleção Brasileira. De fato, o jogador vem sofrendo perseguições diretas e pessoais tanto por jogadores quanto pela própria torcida espanhola. Em setembro do ano passado, no clássico espanhol contra o Atlético de Madrid, a torcida adversária entoou cantos de “macaco” para o jogador. Em seguida, Vini Jr denunciou que jogadores estavam agredindo pessoalmente dentro de campo. Setores da imprensa espanhola criticaram veemente as dancinhas que o jogador faz após cada gol, como macaquices suas.
O caso caiu na graça dos identitários que prontamente pediram punição aos supostos autores e o enfrentamento na justiça. A resposta da justiça espanhola veio de bate-pronto quando o Ministério Público de Madri arquivou o inquérito sobre os insultos racistas proferidos contra Vini Jr. O atacante da Seleção Brasileira respondeu nas redes sociais sobre o assunto: “Tudo normal, mas seguiremos na luta. Eu não vou parar”.
Este caso mostra que se depender de qualquer justiça a questão do negro continuará na estaca zero, visto que os espanhóis jamais colocariam em pauta o processo de um “deles” contra um negro latino. Um puro formalismo e ilusionismo identitário, que não compreende minimamente que a justiça é uma parte da estrutura da luta de classes. Vejamos o caso do Brasil, onde em raras ocasiões um processo desse tipo avança. As punições, quando ocorrem, são irrisórias. Acreditar que as instituições burguesas resolverão minimamente a situação do racismo é infantilidade política.
Contudo, o ponto maior é a situação dos negros na Europa. Se analisarmos com cuidado, vemos que os atos racistas são contra um dos melhores jogadores de futebol do mundo, revelação na última Copa do Mundo do Catar e do ponto de vista financeiro, é um milionário. Agora, vejamos o que sofre o imigrante do Norte da África no velho continente. Em 2015, por exemplo, na crise da imigração para a Alemanha, os imigrantes tiveram suas “casas” – de fato minúsculos alojamentos – queimadas por setores xenófobos radicais. Os relatos de perseguição são diários e os casos extrapolam a Europa, basta lembrar do caso George Floyd, nos Estados Unidos.
O caso do jogador brasileiro Vinicius Jr na Espanha, de fato, é a ponta de um iceberg da situação dos negros mundialmente. O capitalismo nem de longe poderá resolver o problema – ainda mais na sua situação de crise atual -, pois é este mesmo que mantém este setor oprimido. Mesmo nos país mais desenvolvido do mundo, Estados Unidos, a situação do negro é deplorável e apenas uma minoria consegue algum desenvolvimento social.
A justiça que os identitários tanto clamam, é a principal força motriz que mantém a situação deplorável, como vemos com as chacinas quase que semanais da polícia. No Brasil, as medidas nem mesmo paliativas, como cotas de negros, não conseguem mover a situação para frente, e os movimento pró-negros são os principais articuladores da ausência de uma luta política real.
A questão de Vini Jr é a ponta do Iceberg da luta do negro. Passam-se anos e a situação é a mesma: miséria e morte dentro das favelas. O capitalismo está quebrando e novamente estamos ganhando proporções de trabalhos semiescravos. Ou temos uma luta clara pelo povo negro, ou estaremos diante de um setor que será esmagado na nossa frente, pois é o setor mais pobre e debilitado das classes sociais. Vini Jr garantiu sua aposentadoria, a maioria do povo negro não garantiu nem a janta de hoje.
Ao contrário do que pretendem os identitários, apenas a vitória da classe trabalhadora é que pode emancipar os negros, as mulheres e todos os setores oprimidos. A luta tem que ser, sempre, a luta de classes, não a luta de ‘identidades’. Essa separação apenas enfraquece a nossa luta.





