Diante da estreia da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, em São Paulo, em maio, os identitários apareceram para atacar o maior compositor brasileiro. A burguesia contratou Ailton Krenak, um pretenso representante dos índios, para fazer uma “nova concepção” da ópera. O que fizeram no Theatro Municipal foi um vandalismo cultural. No que puderam, a obra-prima de Carlos Gomes foi destruída, distorcida, avacalhada.
Entre outras barbaridades para justificar o verdadeiro atentado ao patrimônio nacional feito no Municipal, foi dito que Carlos Gomes era um “elitista”. É cada vez mais comum o cinismo dos identitários que acusam os outros de “elite”, enquanto recebem dinheiro da burguesia e muito destaque na imprensa capitalista.
A acusação de “elitista” é vazia de conteúdo. Uma obra, um artista devem ser analisados por si só. Apenas naquilo que a classe social daquele artista pode interferir na obra é que deve ser feita um possível crítica.
Mas será mesmo que Carlos Gomes é o elitista que os identitários acusam? A resposta é não! E isso é mais uma prova da ignorância desse grupo de pessoas cujo maior interesse são as ideologias trazidas do imperialismo norte-americano que tem o objetivo de destruir o Brasil e sua cultura.
A revista Breton de julho, que está para entrar em circulação, vai tratar um pouco sobre a história do maestro. Ali, está explicado que Gomes era filho de um músico de classe média baixa. Que sua formação inicial não é acadêmica, tendo conseguido ingressar na academia e ter o poio do imperador posteriormente graças ao gigantesco talento que adquiriu como homem do povo, um povo musical com é o brasileiro.
Mais ainda, na Itália, Gomes era conhecido como “o Selvagem”, justamente por seus traços brasileiros: cabelos e barbas crespos e pele morena.
Ao dizer que Carlos Gomes é “elitista”, os identitários não estão apenas mostrando que são pessoas sem conteúdo. Estão caluniando um dos personagens mais interessantes da história da arte brasileira.
Veja um trecho do artigo que os leitores poderão ler na revista Breton nº 17, do mês de julho:
“diferente do que afirmam, ele mesmo foi, na Europa, tratado como um selvagem, embora tendo seu talento reconhecido. Um artigo do jornal Gazzetta Musicale di Milano descrevia assim o nosso maestro, nos anos 60:
‘”Quando Gomes anda pelas nossas ruas – sempre sozinho e absorto – dir-se-ia dele um selvagem, transportado de repente e por encanto no meio belo da nossa Milão. Gomes, com o seu porte grave, parece que a cada passo suspeita um precipício, uma traição; em qualquer pessoa, um inimigo. Esse seu porte primitivo, este seu agir espantado, e o seu olhar taciturno, chegando a parecer sinistro, fizeram com que muitos julgassem misantropo. Gomes não o é: tem um coração nobre e generoso; cheio de afeto pelos amigos, de entusiasmo pela sua arte: mas ama, adora, se entusiasma a seu modo: de verdadeiro selvagem. (…) é um cavalheiro: nele tudo é nobre; mas é uma nobreza toda nua; uma nobreza primitiva, aborígene. De estatura além da média; corpulento, musculoso. Tem cabelos densos, encrespados, longuíssimos, rudes e negros; sobrancelhas e bigodes espessos e negros como o ébano; o olho inteligente, vivaz, irrequieto. De longe, poder-se-ia dizer cântabro ou lusitano; de perto, jamais. A cor de bronze do seu rosto; uma certa proeminência nos malares; a pequenez dos pés e das mãos; certas nódoas amarelas, com as quais são manchados os seus olhos; os dentes miúdos e brancos como marfim; o calo dos tomadores de mate na sua língua; o olhar turvo, incerto, meditabundo; tudo isto te diz indubitavelmente que Gomes é um aborígene americano’.
É esse “aborígene americano“, com “cabelos crespos e rudes”, “rosto cor de bronze”, esse “verdadeiro selvagem” que os identitários ignorantes chamam de “elitista”. Carlos Gomes, antes de mais nada, era um brasileiro típico, era a cara do nosso povo.”
Para adquirir a revista Breton, do coletivo de artistas do PCO, o GARI (Grupo por uma Arte Revolucionária e Independente) é só entrar em contato: 11 951060007 (Whatsapp e telefone).