Entre 1944 e 1971, vigorou no comércio internacional o padrão ouro-dólar como resultado dos desdobramentos do final da Segunda Guerra Mundial e da própria crise de 1929. Os Estados Unidos já era a principal potência econômica na entrada do século XX e o pós-segunda guerra consolida essa posição, inclusive do ponto de vista militar. O acordo de Bretton Woods, que vigorou entre 1944-71, definiu a moeda universal de troca e valor lastreada naquele intervalo de tempo pelo ouro.
Com a força político-militar e econômica dos EUA, a partir de 1971 o Estado imperialista rompe com o padrão ouro-dólar e navega isoladamente como país que impõe para si as vantagens competitivas nas relações de troca internacionais a partir do dólar. Uma moeda com todo esse poder fez com que os EUA consolidassem seu papel estratégico na dominação capitalista global.
Com a grave crise do imperialismo entre a pandemia e a guerra da Ucrânia, a moeda dos EUA está cambaleando. A crise de 2008 e a ascensão política da Rússia e da China já vinha acenando para uma nova fase da economia e da política internacional. Isto é, entre 2008-2023, a crise econômica e financeira internacional colocou o imperialismo nas cordas. As parcerias comerciais entre os países atrasados abre frentes sob o comando da China e repercute atualmente nas relações diplomáticas e de troca comerciais com o Irã, Arábia Saudita, Turquia, Brasil, Venezuela, Argentina entre outros.
A liderança do Brasil no aspecto político e econômico sob a organização do governo Lula na condução de encontros e acordos caminha na direção de uma moeda autônoma nas relações comerciais entre os países sul-americanos, onde Brasil e Argentina estão mais adiantados. A defesa de uma moeda comum sul-americana, feita recentemente por Lula, ganha cada vez mais adeptos em termos de necessidades comerciais em diversos países, principalmente na Eurásia.
Quando Lula assume a presidência pela terceira vez, agora em 2023, os chineses já tinham dado a largada dessa iniciativa e outros países já cogitavam essa possibilidade. Isso vem assustando cada vez mais o imperialismo, que procura saídas em meio à crise aguda e sem muitas possibilidades.
Os interlocutores da imprensa imperialistas no Brasil replica automaticamente o ataque a quaisquer ideias e ações de países e governos que ousem desafiar a ordem global vigente. No Banco Central, esses porta-vozes tecnocratas já estabeleceram essa ponte ideológica com os Estados Unidos e conduzem as suas políticas institucionais de acordo com esses ditames.
Campos Neto – neto do golpista da ditadura Roberto Campos Neto – exerce atualmente esse papel de interlocutor dos bancos, especuladores e da ordem global imperialista. Foi ele que criticou duramente a ideia do presidente Lula da moeda comum sul-americana. São esses os agentes que estão a serviço dos banqueiros e do imperialismo contra o povo a partir da sua posição estratégica na tecnocracia financeira.
O presidente do Banco Central defendeu a ideia de que, com a digitalização financeira, não é preciso ter uma moeda comum entre países para se alcançar os efeitos positivos de uma moeda comum. Campos Neto se disse contrário à adoção de moedas comuns e citou dois episódios em que se falou em uma divisa única entre Brasil e Argentina. “Sempre fui contrário”, disse.
Vejam que Campos Neto recorre a um argumento vazio, supostamente técnico para encobrir o fato de que a defesa de uma moeda comum entre as nações sul-americanas escapa do controle do imperialismo; e, portanto, não poderia ser admitida. Se as moedas locais ou regionais se libertarem do jugo do arcabouço financeiro internacional, poderá fragilizar ainda mais o controle desse poderoso sistema articulado com maior força desde os anos 1970.
Essa política defendida por Lula é muito positiva e deve ganhar cada vez mais força diante da crise do imperialismo e colocar em xeque a continuidade desse sistema de ampliação do capital especulativo. Um sistema que gera e amplia a pobreza em escala mundial através da concentração de capital articulada entre os bancos centrais nacionais e os bancos mundiais precisa ser combatido até o seu completo desmoronamento.
Ao defender a moeda comum, os países atrasados dão um passo à frente na sua maior autonomia comercial e monetária e atingem aos poucos o coração do imperialismo.