Com inelegibilidade à vista

Burguesia já prepara substitutos para Bolsonaro

A articulação para escolher um candidato que agrade tanto a direita tradicional quanto os bolsonaristas é uma prova de que perseguição a Bolsonaro não favorecerá a esquerda

Como parte da tentativa da burguesia de decapitar o bolsonarismo, o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta um processo que poderá torná-lo inelegível. No entanto, a direita nacional já planeja como será a sua substituição para as próximas eleições. A primeira audiência do processo contra Bolsonaro ocorreu na última quinta-feira (22), em uma sessão preliminar onde foram lidas as denúncias contra ele e os advogados apresentaram argumentos. A continuação será na próxima terça-feira (27).

Se condenado, Bolsonaro ficará inelegível pelos próximos oito anos. A acusação é de que ele teria espalhado mentiras (“fake news”) em uma reunião com embaixadores onde fez críticas ao sistema eleitoral brasileiro.

Para além do caráter ditatorial do processo, que procura condenar Bolsonaro por algo que deveria ser um direito democrático de todo cidadão (criticar as instituições de seu país), é preciso destacar que tal perseguição só terá um resultado negativo para a esquerda a médio e longo prazo.

Muito ao contrário do que acredita uma parte mais acomodada da esquerda, as consequências eleitorais da perseguição a Bolsonaro não serão favoráveis. Já há uma grande articulação de diversos setores da direita nacional para escolher o substituto de Jair Bolsonaro, caso este se torne inelegível. E, ao que tudo indica, esse substituto viria com o apoio de todos os setores da burguesia.

Entre os nomes citados pela imprensa burguesa, os três principais seriam Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador de São Paulo, Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e Eduardo Leite, governador tucano do Rio Grande do Sul. Além deles, também estão no páreo a esposa de Bolsonaro, Michelle Bolsonaro (PL) e a ex-ministra da agricultura, Tereza Cristina (PP).

É preciso compreender, no entanto, que não se trata simplesmente de achar um substituto à altura para Bolsonaro, mas sim de que a burguesia vê a ausência do ex-presidente do próximo pleito como uma “chance de ouro”, expressão usada no título de matéria do jornal Folha de São Paulo, que trata sobre o tema.

Segundo a Folha, “a ausência [de Bolsonaro] no próximo pleito pode abrir condições para uma chapa que vá para a briga sem a sombra de Bolsonaro e suas posições radicalizadas”. O fundamental, para a burguesia, é que o seu candidato indicado possa apresentar uma proposta econômica antagônica à esquerda, mas sem as extravagâncias bolsonaristas, ou seja, um candidato burguês ideal para atacar a população sem dar na vista seu viés antipopular e vampiresco.

Nesse sentido, Tarcísio e Zema seriam nomes fundamentais por dialogarem bem tanto com o bolsonarismo quanto com a direita tradicional, podendo agregar os votos dos dois diferentes setores. Ainda segundo a Folha, seria importante que eles enfatizassem o “liberalismo econômico”, ou seja, mais privatizações, ataques contra os trabalhadores e a entrega do patrimônio nacional aos banqueiros e ao imperialismo.

Um breve comentário sobre Eduardo Leite: este se reelegeu governador do Rio Grande do Sul graças ao apoio da esquerda, que acreditava estar combatendo o bolsonarismo. Hoje, o “bolsogay” se coloca à disposição da direita para uma eventual substituição de Bolsonaro. Segundo ele mesmo, “Se o meu nome ajudar a aglutinar, perfeito. Mas, se não for, não tem problema, vamos ajudar outra pessoa que possa capitanear esse projeto”, e disse não querer contribuir para uma divisão da direita. Ele completa: “Quero estar junto com Zema, quero estar junto com Tarcísio”.  Trata-se de mais uma demonstração do fiasco da política da esquerda desorientada.

A burguesia aposta que, caso julgado inelegível, Bolsonaro possa se tornar um cabo eleitoral de algum de seus candidatos. Também há sempre o alarde da importância de se investir no “antipetismo”.

Segundo a Folha, “O sucesso dependeria, contudo, de estruturar uma agenda mínima de propostas, que demarque diferenças com a esquerda na esfera econômica e deixe em segundo plano a agenda de costumes. A ideia é promover uma espécie de antipetismo qualificado, para evitar o risco de esvaziar o discurso”. O que é uma indicação de que os ataques contra Lula e o PT tendem a aumentar e a discussão vai no sentido de escolher quem será o beneficiário dessa campanha.

As articulações são uma demonstração de que a inelegibilidade de Bolsonaro executada pelo judiciário comandado pela burguesia nacional nunca foi algo com vistas a beneficiar a esquerda, muito pelo contrário. Além disso, é preciso ter em mente que, uma vez que seja bem-sucedida a perseguição contra Bolsonaro, Lula e o PT serão as próximas vítimas.

É uma ilusão muito perigosa da esquerda a de que será o judiciário e a perseguição policialesca que irá conter a extrema-direita e o bolsonarismo. Apoiar essa política é ficar a reboque da direita tradicional, que quer impugnar Bolsonaro para adaptar sua política aos seus interesses. A esquerda precisa vencer o bolsonarismo nas ruas, através de sua luta, constituindo uma vitória política em meio à população, de modo a esvaziar seu apoio e desestruturar a manobra política da direita.

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