A abstenção do governo brasileiro diante da proposta russa de cessar-fogo na Faixa de Gaza e abrir corredores humanitários, colocada na segunda-feira (16) no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas não apenas é vergonhosa, mas coloca um governo dito de esquerda, progressista lado a lado da extrema-direita mais feroz e criminosa que mundo já viu. A imensa polarização sobre o tema levaria a que um governo como o de Lula, ligado aos trabalhadores, ficasse claramente ao lado dos oprimidos.
A princípio o governo Lula deveria se explicar o porquê de uma abstenção diante de uma proposta, que mesmo que não coloca de forma firme uma posição que beneficie de forma integral os palestinos, deixa claro um cessar-fogo que neste momento está matando milhares de pessoas, entre mulheres, crianças, idosos e civis em uma guerra claramente desproporcional em termos armamento e poder de fogo.
O governo brasileiro também elaborou uma proposta que foi adiada de votação por duas vezes, segundo o Itamaraty com a perspectiva de tentar agradar gregos e troianos – leia-se Rússia e Estados Unidos. Nesse texto, há uma condenação aos “atos terroristas do Hamas” e um apelo para que os “reféns sejam liberados”. Outro ponto vergonhoso é chamar uma “pausa humanitária” ao invés de um invés de cessar-fogo.
É importante deixar claro que quando a imprensa classifica alguém como terrorista, são todos aqueles que de alguma forma vão contra os interesses hegemônicos do imperialismo. Ou seja, países como Cuba, por exemplo, são classificados como financiadores do terrorismo no mundo. O Hamas após o levante contra a opressão do Estado de Israel – país que foi criado artificialmente pelo imperialismo para manter controle e domínio da região por questões puramente geoeconômicas – há mais de sete décadas, estão sendo considerados “terroristas”.
Simplificando, o governo brasileiro está capitulando totalmente diante da extrema-direita mais fascista que existe no mundo hoje. Não tem essa de Hamas terrorista, não tem essa de Israel se defendendo, não tem essa de dois estados convivendo em paz. Quando um governo dito de esquerda tenta de todos os meios agradar a burguesia imperialista, num caso como esse vai se chocar com a opinião gigantesca das massas nesse momento. São dezenas de atos em prol dos palestinos por todo planeta e por sinal muito grandes.
Outro ponto que cabe destacar é que ficar de joelhos para o imperialismo não garante absolutamente nada de bom. A capitulação não vai mudar o fato de que o extermínio em curso vai se modificar ou que os Estados Unidos iriam sentir algum tipo de comoção pela população palestina esmagada há mais de 75 anos. Sendo assim, vimos os votos no Conselho de Segurança da ONU na proposta feita pelo Brasil. Doze países votaram a favor, dois se abstiveram, no entanto o poder de veto dos EUA pesou mais forte e a proposta foi rejeitada.
Após a votação, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, argumentou que seu país ficou “desapontado” pelo fato de o texto não mencionar o direito de autodefesa de Israel.”Não poderíamos aprovar essa resolução assim. (…) E nossa diplomacia está sendo feita em campo”, disse a embaixadora, em referência à viagem que Joe Biden fez nesta quarta-feira a Israel. A rejeição dos EUA também veio depois de a Rússia propor mudanças para a versão do Brasil. O embaixador russo na ONU exigiu a inclusão de um pedido de cessar-fogo imediato, o que Washington é contra.
Mesmo com a posição alinhada com o imperialismo, os americanos vetaram. A Rússia, por exemplo, queria que se incluísse na proposta brasileira o crime que Israel cometeu na terça-feira contra um hospital na faixa de Gaza, matando 500 de acordo com fontes oficiais. Essa posição brasileira deixa o governo em uma saia justa com outros países que sabem realmente quem devem defender. Nos BRICS, por exemplo, essa atitude pode ser cobrada e até mesmo sofrer ações efetivas por parte de governos aliados.
Enquanto o governo Lula vinha fazendo uma boa política externa anti-imperialista, neste caso da Palestina e Israel foi uma verdadeira pisada na bola, se jogou aos pés dos EUA. Além de colocar o governo contrário a população oprimida e de esquerda mundialmente, esse tipo de afirmação do Itamaraty, abre brecha para a burguesia colocar os movimentos sociais e sindicais, partidos políticos brasileiros e etc. todos na mira do terrorismo. O MST, por exemplo, poderia ser facilmente classificado como movimento terrorista, os partidos comunistas e movimentos mais radicais pela luta por terra moradia não escapariam um.