Na semana que se passou, resoluções concernentes à guerra criminosa que Israel trava contra a Palestina foram vetadas no Conselho de Segurança da ONU.
A primeira delas, proposta pela Rússia, apesar de condenar os ataques do Hamas, condenava também expressamente os bombardeios indiscriminados de Israel e propunha um cessar-fogo. Obviamente, foi vetada pelo conjunto dos países imperialistas. Assumindo posição profundamente equivocada, de capitulação perante o imperialismo, o Brasil se absteve da votação. Após, propôs resolução própria.
A resolução brasileira, em si, representou uma capitulação ainda maior do que sua posição de se abster.
O documento foi dividido em pontos, e seguiu a reboque da propaganda de guerra do imperialismo, atacando o Hamas em razão da ação heroica desatada pela resistência palestina no dia 7 de outubro, taxando o grupo de terrorista:
1. Condena veementemente toda violência e hostilidades contra civis e todos atos de terrorismo;
2. Rechaça e condena de forma inequívoca os hediondos ataques terroristas, perpetrados pelo Hamas em Israel a partir de 7 de outubro de 2023, e a tomada de reféns;
Contudo, não rechaçou o real terrorismo, ou seja, o terrorismo do Estado de Israel, que esmaga os palestinos de Gaza e da Cisjordânia com um terror diário há mais de sete décadas, e que agora se acentuou drasticamente com os bombardeios diários, que já ceifaram mais de 5 mil vidas, e feriram mais de 15 mil.
Em nenhuma parte do documento foi citada a palavra “bombardeio”. No que diz respeito ao direito dos palestinos, o governo Lula ficou limitado à demagogia humanitária da ONU:
6. Insta à revogação da ordem para que todos civis e pessoal da ONU evacuem todas as áreas ao norte de Wadi Gaza e realojem-se no sul de Gaza;
9. Solicita que sejam respeitados e protegidos, em conformidade com o direito internacional humanitário, todo o pessoal médico e pessoal humanitário exclusivamente envolvido em funções médicas, seus meios de transporte e seus equipamentos, bem como hospitais e outras instalações médicas;
Sequer pediu um cessar-fogo, como fez a resolução russa. Ao contrário, pediu “pausas humanitárias” e “corredores humanitários”:
7. Exige a realização de pausas humanitárias para permitir acesso pleno, rápido, seguro e desimpedido às agências humanitárias das Nações Unidas e a seus parceiros de implementação, ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a outras organizações humanitárias imparciais, e encoraja o estabelecimento de corredores humanitários e outras iniciativas para a entrega de ajuda humanitária à população civil;
Diz-se “ao contrário”, pois essas “pausas” e “corredores” servirão apenas para os interesses de Israel, quais sejam, forçar os palestinos para fora de Gaza, para que o sionismo tome aquela região de uma vez por todas. Caso isto aconteça, os palestinos nunca mais voltarão para lá.
Por fim, a resolução do governo brasileiro “enfatiza a importância de impedir o alastramento do conflito”:
10. Enfatiza a importância de impedir o alastramento do conflito na região e, nesse sentido, insta todas as partes a exercerem a máxima contenção, bem como todos aqueles com influência sobre elas, a atuarem com esse fim;
Ora, esta é a exata posição do imperialismo.
A última coisa que eles querem é que as ações genocidas de Israel conflagrem uma situação revolucionária na região, no mundo árabe/muçulmano.
O conteúdo dessa resolução foi divulgado no dia 16. Tratou-se de algo profundamente capitulador perante o imperialismo, por parte do governo brasileiro. E, ainda assim, foi rejeitada. Por quê? Pois, segundo os Estado Unidos, a resolução não deixou expresso direito de Israel à autodefesa.
Após, a diplomacia brasileira declarou que está trabalhando para elaborar nova resolução.
Contudo, conforme se constata nas declarações de membros do governo, e mesmo do presidente Lula, a posição não mudou: seguem taxando o Hamas de terrorista. Seguem condenando o “terrorismo”. Seguem dissociando o Hamas da luta do povo palestino por sua libertação nacional, da luta da Palestina contra Israel, contra o Sionismo.
Em suma, o governo Lula segue a reboque do imperialismo, dos Estados Unidos, de Israel.
Isto é um gravíssimo erro. Sem dúvidas o maior erro deste mandato de Lula. Talvez o mais grave erro de sua trajetória política.
Atualmente, se há um regime de tipo fascista no mundo que mais se aproxima da Alemanha Nazista, é o Estado de Israel. E não se trata de um raio em céu azul. É uma característica que vem da fundação do Estado e mesmo de antes, de sua ideologia, do sionismo.
Sendo sucinto, o sionismo é uma ideologia cujo tese central é a criação de um Estado nacional que seja exclusivo para judeus, que, no caso, são considerado uma raça, no sentido de etnia. Em outras palavras, uma ideologia de exclusivismo racial.
Por razões históricas, os sionistas entendiam que o Estado almejado por eles deveria ser erguido na história região da Palestina, majoritariamente habitada por Árabes.
Para resumir, ao contrário do que diz a propaganda Israelense, a fundação do Estado de Israel se deu através de uma limpeza étnica, com auxílio Império Britânico. Logo após a Segunda Guerra Mundial, milícias fascistas do sionismo expulsaram cerca de milhão de palestinos da região. Isto só foi possível com extrema violência.
E, quando se diz extrema violência, diz-se tortura, assassinato, destruição de centenas de vilarejos, estupros, queimar pessoas vivas, envenenar poços com doenças, destruir plantações etc.
No decorrer dos anos, mais foram sendo expulsos. Os que foram, nunca mais conseguiram voltar. Os que ficaram, vivem uma ditadura brutal.
Assim, a luta dos palestinos por sua libertação do jugo sionista é a que mais acabadamente expressa a luta de um povo por sua libertação nacional. De forma que o apoio a essa luta é praticamente unanimidade na esquerda, que é cheia de divergências entre si (mesmo que esse apoio seja inconsequente e muitas vezes da boca para fora).
Ainda não está exatamente claro por que razão Lula está assumindo posição tão equivocada na guerra de Israel contra a Palestina.
Contudo, é certo, que sua posição, de taxar o Hamas de terrorista, de condenar a ação do dia 7, de dizer que o grupo não representa os palestinos, de não condenar Israel, de não ROMPER com Israel, é uma posição que só faz beneficiar o Estado nazista de Israel e o imperialismo de conjunto.
E foi justamente o imperialismo, em especial os Estados Unidos que, através da Operação Lava-Jato, da direita tradicional e da imprensa burguesa brasileira colocaram Lula na cadeia e Bolsonaro na presidência.
A posição de Lula só faz fortalecer esses setores. Fortalece também a extrema-direita, afinal, o Hamas fez-nos o grande favor de nos mostrar que os fascistas e a direita civilizada, no final das contas, não são tão diferentes assim.
Além disto, o fato de Lula não estar assumindo uma posição abertamente pró-Palestina, mesmo que não revolucionária, também o desmoraliza mais ainda perante a esquerda pequena burguesa golpista, de forma que é mais um flanco exposto que será utilizado pelo imperialismo em futura ofensiva golpista.
Por fim, a posição profundamente equivocada de Lula o prejudica perante a sua base, perante a qual ele já vem se desgastando progressivamente desde o início do governo.
Assim, com o acúmulo de políticas equivocadas, chegará um momento em que não haverá ninguém para defender Lula e o seu governo, quando nove golpe for desatado.
E a posição do presidente em relação à Palestina pode muito bem ser o prego no caixão.
Assim, é fundamental que Lula e o governo rompam imediatamente as relações diplomáticas com Israel, e declare total apoio à Palestina e à luta de libertação nacional de seu povo e de todas as suas organizações, reconhecendo que o que foi instituído pelo sionismo é um regime de apartheid racial.