A resposta é fácil

 Bolsonaro ou STF: quem é pior?

A esquerda pequeno burguesa persiste no erro de que Bolsonaro não só seria o único mas o maior inimigo dos trabalhadores, ignorando o elefante no quarto, o imperialismo

Um dos maiores erros da esquerda pequeno burguesa, que vem sendo cometido constantemente desde pelo menos o ano de 2020, é o de que o único e maior inimigo de Lula e dos trabalhadores é o bolsonarismo. Essa tese é perigosa, pois é o que dá embasamento as alianças com a direita golpista, que hoje sabota o governo Lula. Um dos expoentes dessa tese é Bepe Damasco que escreveu um texto no Brasil 247 sobre a sabotagem operada pelo ministério da justiça contra Lula durante o dia do segundo turno das eleições de 2022. O texto semiliterário intitulado “Refletindo sobre 30 de outubro” é uma boa expressão dos erros dessa esquerda.

O colunista decreve os acontecimentos do dia 30 de outubro: “Imagina um ministro da Justiça que tem sob sua responsabilidade a polícia judiciária do seu país Aí, entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial, esse ministro, cumprindo decerto ordens de seu chefe, o presidente da República, manda mapear todos os locais onde o candidato da oposição teve mais votos na primeira volta.” A denúncia em si é importante, pois mostra como o aparato do Estado pode ser usado para adulterar os resultados das eleições, algo que é foi até proibido de ser comentado durante todo o ano de 2022. Contudo, ele se restringe ao ministério da justiça controlado por Bolsonaro, e não comenta os demais órgãos que também foram coniventes com toda a operação, principalmente o TSE e o STF.

O autor chega até a defender o TSE: “O chefe da justiça eleitoral convoca, então, o comandante da força policial das estradas e manda parar imediatamente com os bloqueios, mas não morde a isca de estender o prazo de votação, pois isso poderia ser usado como pretexto pela campanha do candidato fascista para melar a eleição. Esse país, claro, é o Brasil, e tudo isso aconteceu há cinco meses.” Aqui Bepe caiu no golpe de Alexandre de Moraes, toda a operação já havia sido realizada e o já estava até mesmo divulgada na imprensa, ai o TSE entrou em ação. É como no dia 8 de janeiro, quando as autoridades só apareceram após a invasão da sede do governo, indicando incompetência ou conivência.

O autor fecha a crônica exaltando a vitória de Lula: A vitória de Lula foi épica.”Só quem despreza o contexto em que ela se deu pode embarcar na onda conservadora que procura desmerecer a presidência de Lula, com base na diferença pequena de votos sobre Bolsonaro. Lula enfrentou e derrotou um Estado corrupto, que não hesitou em destroçar as contas públicas para comprar votos dos mais pobres, derramando Auxílio Brasil sem critério nem condicionantes e molhando a mão de taxistas e caminhoneiros.” Mais uma vez aparece a confusão de que Lula enfrentou apenas o bolsonarismo. Mas na realidade a vitória de Lula foi ainda mais épica do que Bepe apresenta, Lula, e o movimento dos trabalhadores, não derrotou apenas Bolsonaro, derrotou todo o bloco da direita unificada, inclusive o próprio imperialismo.

A esquerda pequeno burguesa se nega a denunciar o papel da direita tradicional, daquele setor ligado ao imperialismo, o PSDB, o STF, o setor que liderou o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma. Até o primeiro turno esse setor lutava contra Bolsonaro para tentar levar o candidato da direita a disputa. Contudo quando a luta se deu entre Lula e Bolsonaro todo esse bloco da direita imediatamente parou seus ataques. O todo-poderoso TSE não lutou contra nenhuma “fake news”, inclusive Lula e a CUT foram censurados em suas redes sociais no segundo turno com essa justificativa. Também houve a denúncia de milhares de empresas coagindo seus trabalhadores a voltarem, algo foi ignorado pelo STF. Entre o dia 02 de outubro e o dia 30 quase toda a direita estava fechada com Bolsonaro.

Vale lembra também como a direita tradicional não apoiou Lula no segundo turno das eleições. Os casos mais emblemáticos são o do Mato Grosso do Sul de Simone Tebet, onde Lula perdeu votos, o Rio de Janeiro, onde Lula não ganhou votos, e o Rio Grande do Sul onde o PT apoiou Eduardo Leite que por sua vez não apoiou Lula. A direita tradicional votou todos os anos do governo Bolsonaro nas piores medidas do governo, votou no golpe contra Dilma. Se escorar em Lula, pois perderam seu espaço para o bolsonarismo, mas a sua política segue sendo ainda pior que a de Bolsonaro. Na prática, o segundo turno se estabeleceu a única frente ampla que existe, a frente da direita contra os trabalhadores. Lula derrotou essa frente e não só o bolsonarismo.

Vale lembrar também que no dia 8 de janeiro não foram apenas os bolsonaristas os sabotadores do governo Lula. Uma grande parte do aparato de repressão, principalmente a Polícia Federal e o Ministério Público, ainda são controlados por lava-jatistas, ou seja, pelo imperialismo. Houve também o caso agora da armação de Sergio Moro para sabotar o governo Lula. Os bolsonaristas agem agora em bloco com a direita, assim como fizeram no governo Dilma, em uma luta contra Lula que em última instância tem o objetivo de derrubá-lo. A diferença é que agora o bolsonarismo é uma grande força política, então a direita tradicional consegue fingir que não atua com os bolsonaristas, o que não era possível em 2016.

O problema do combate apenas ao bolsonarismo segue sendo um dos principais erros da esquerda pequeno burguesa. Ele oculta também as principais reivindicações dos trabalhadores, atacar as privatizações é um ataque a Bolsonaro mas também a Tebet e ao PSDB. No caso da refinaria e das joias sauditas, por exemplo, essa esquerda repercutiu a Globo que falava sobre a corrupção pessoal de Bolsonaro e ignorou o fato milhões de vezes pior que foi a privatização de uma refinaria, algo que a Globo apoia. O mesmo foi feito durante toda a luta pelo fora Bolsonaro, a esquerda pequeno burguesa não tinha política própria, se pautou pela imprensa burguesa, como na CPI da Covid, uma armação para tentar alavancar direitistas para a eleição.

Por fim, é preciso ficar claro que a esquerda deve combater Bolsonaro, contudo esse não é seu maior inimigo. O imperialismo, que colocou Bolsonaro no governo, é por definição o inimigo final da classe operária. E ele não é um conceito abstrato. É o STF, os militares, o PSDB, os bancos, as petroleiras internacionais e as ONGs. É preciso combater estes por meio da organização e mobilização dos trabalhadores. Todos os ministros ligados a estes setores devem ser expulsos do governo Lula e substituídos por lideranças da luta dos trabalhadores. Não basta lutar contra o bolsonarismo, é preciso lutar contra toda a direita.

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