Os terremotos que abalaram Síria e Turquia, já somam mais de 21.000 mortos. Mesmo assim, o Imperialismo estadunidense e seus asseclas não levantaram as sanções que acometem o povo sírio desde 2019, unilateralmente impondo um estrangulamento nunca antes visto sobre a Síria, em nome da “proteção” dos direitos humanos.
Os abusos imperialistas são tão absurdos, que até mesmo Ghada Eltahir Mudawi, vice-Diretora do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), pouco antes dos terremotos, apontou as consequências nefastas da guerra civil (impulsionada pelas forças imperialistas contra o governo de Assad) e as sanções unilaterais dos EUA e seus cúmplices. Tendo passado por 12 anos de conflito e crises humanitárias, o povo sírio enfrenta o pior ano até agora, com 15,3 milhões de pessoas — quase 70% da população da Síria — necessitando de assistência humanitária. “É difícil imaginar tais níveis de angústia”, enfatizou ela. O país está passando por um inverno rigoroso em meio a chuvas, inundações, temperaturas rígidas e um surto de cólera em andamento. Somente no noroeste, 1,8 milhões de pessoas vivem em acampamentos e locais superlotados em tendas com temperaturas abaixo de 0°C, com acesso limitado ou sem acesso à água, serviços de saúde e eletricidade. Algumas foram deslocadas várias vezes, enquanto outras viveram nas mesmas tendas por mais de uma década. É impossível estabelecer, por hora, como esta situação piorou após os terremotos.
Neste sentido, os esforços humanitários, até janeiro de 2023, contavam com apenas 78% do caixa necessário para o pleno funcionamento no noroeste da Síria — área mais afetada pelos tremores — e com um nível de financiamento igualmente baixo de 29% para todo o país. Apenas 1,4 milhões de pessoas foram alcançadas até o final de dezembro de 2022 através dos recursos disponíveis, deixando 2,8 milhões de sírios vulneráveis, sem abrigo de emergência adequado ou itens não-alimentícios para se protegerem frente às duras condições do inverno. É importante salientar que tais números ignoram o terremoto. Só saberemos a extensão real da devastação com a apresentação de novos dados no início do próximo mês.
Mesmo assim, a linha da vice-diretora é conciliadora, evita atacar diretamente as sanções e conclama o apoio de “doadores” — muitas vezes os mesmos países responsáveis pela calamidade — para ampliarem seus esforços humanitários, apoiando as ONGs e outros esforços na região. “É preciso haver mais apoio de doadores”, disse ela, observando que o Plano de Resposta Humanitária de 2022 tinha atingido o financiamento de apenas 47,2% de seu esforço total, o nível mais baixo de todos os tempos. Além disso, a epidemia de cólera continua a se espalhar pelo país com casos suspeitos em todas as 14 províncias. Duas milhões de doses de vacinas contra a cólera chegaram à Síria, sendo 1,7 milhões dirigidas ao noroeste do país (área mais amplamente afetada pelos terremotos). As imunizações se encerraram em Der Zor, Raqqa, Aleppo e Al-Hassakeh, com a campanha no noroeste do país planejada para o início deste ano. No entanto, ainda não se sabe como os esforços serão conduzidos devido aos tremores recentes.
Mudawi solicitou um forte apoio para permitir que esta resposta continue, inclusive através do financiamento de unidades de saúde, abastecimento de água e saneamento para tratar das causas básicas. Tendo em vista que, desde o congelamento da guerra civil, o Noroeste do país se encontra ocupado e, por tal razão, a infraestrutura governamental não chega à região.
“Não pode haver prosperidade para a grande maioria das pessoas na Síria dentro do atual contexto socioeconômico”, enfatizou, observando que a vida é cada vez mais difícil, especialmente com a queda acentuada da libra síria em dezembro de 2022. Com os elevados preços de gêneros básicos, 12 milhões de pessoas estão em insegurança alimentar e a capacidade das famílias para resistir às crises continua a diminuir. Todos os aspectos da vida cotidiana foram impactados pela grave escassez de combustíveis e pela redução do acesso à eletricidade, ambos causados pelas sanções imperialistas.
A aguda crise no setor de combustíveis está afetando as operações humanitárias, levando a menos missões de campo e mais atrasos nos projetos que afetam diretamente a população civil, tais como abastecimento de água e tratamento de esgoto, saúde e moradia. Os “apagões” elétricos e a falta de combustível limitaram severamente as operações das estações de bombeamento de água; o trabalho de manutenção crítica foi suspenso à medida que as autoridades lutam para garantir o transporte; e as classes populares, mais vulneráveis e marginalizadas, lutam ainda mais para ter acesso aos serviços essenciais.
Por hora ainda é impossível estabelecer a total extensão dos danos causados pelos terremotos. No entanto, com os dados obtidos da situação síria nestes últimos 12 anos de guerra, as sanções imperialistas parecem ganhar a disputa com larga folga. Os EUA são cínicos em sua abordagem. Ao passo que estrangulam qualquer possibilidade do Estado sírio reconstruir sua infraestrutura e auxiliar a população; apontam a incapacidade síria e fomentam o trabalho de ONGs estrangeiras na região que, como demonstram os dados, são incapazes de realizar a tarefa que um ente estatal é capaz. Além disso, como já sabemos, muitas dessas ONGs imperialistas são notórios agentes de desestabilização.