A França deu uma importante condecoração nacional para empresários da BlackRock americana. Como os fundos de pensão dos trabalhadores franceses são muito volumosos, o imperialismo está mirando firmemente neles. Já a imprensa diz que são apenas dois anos a mais de contribuição, isso não é importante. Só que esse fundo para a aposentadoria garante o menor índice de pobreza na velhice e nunca apresentou saldo negativo.
O motivo alegado por Macron para a reforma é de quer garantir que não fique deficitário no futuro e reduzir os custos para as empresas. Isso faz lembrar as desculpas apresentadas por Michel Temer para impor a reforma da Previdência aqui no Brasil, como parte do projeto “ponte para o futuro” que, na verdade, vemos hoje com certeza que o nome mais apropriado seria ponte para um passado distante.
Essa é a política neoliberal cujo objetivo é retirar benefícios sociais dos trabalhadores e transferir esses recursos para o capital. Felizmente na França os trabalhadores estão nas ruas, diferente do que acontece no Brasil, defendendo seus direitos em manifestações que dizem levar às ruas de 1,2 milhão a 3,5 milhões de trabalhadores impulsionados principalmente pela central sindical CGT.
Na França os trabalhadores já perderam a esportiva e estão pedindo a cabeça do Macron que aprovou por decreto as mudanças passando por cima do parlamento, aumentando ainda mais a temperatura política. Sua aposta foi muito alta e corre o risco de não terminar o mandato que tem menos de um ano.
O Chefe da filial francesa da BlackRock, gigante financeira americana, Jean-Français Cirelli, ex-assessor de Jacques Chirac e ex-líder do grupo energético francês GDF-SUEZ, foi condecorado com a posição de oficial da Legião de Honra, título que recompensa pelos méritos prestados ao país por militares ou civis, criado por Napoleão em 1857. O título foi dado em fevereiro de 2020. Isso foi uma bomba para os opositores das mudanças na previdência francesa.
Os sindicatos e em particular a CGT, maior central sindical da França, reagiu imediatamente pedindo maior mobilização contra a reforma da previdência. A deputada Martine Aubry, do partido La France Insoumise, denunciou a provocação em plena mobilização social contra a reforma. O mesmo aconteceu com Olivier Faure, presidente do Partido Socialista, que acrescentou que a BlackRock é o lado negro da Reforma.
Enquanto isso, Edouard Philippe do gabinete do primeiro-ministro e o responsável pela nomeação de Jean-Français, diz que a polêmica é sem sentido e com caráter populista; se tratou de recompensá-lo por “sua jornada e sua contribuição para o brilhantismo da França”.
A poderosa gestora de ativos é acusada de ter defendido o sistema de previdência por capitalização perante o Executivo francês, baseado no modelo dos fundos de pensão americanos e em detrimento do atual sistema de repartição.
O jornal The New York Times trouxe um destaque afirmando que a BlackRock se tornou um símbolo do fervor anticapitalista na França.
Jean-Paul Delevoye, o autor da Reforma da Previdência, renunciou alegando conflito de interesses e três meses depois ingressou na BlackRock no cargo de alto comissário para pensões.
Um artigo do jornal online Mediapart também revelou que a empresa ficou satisfeita com a ideia da reforma, por ser uma oportunidade de fortalecer o sistema de capitalização que não conseguiu se firmar na França.
A BlackRock desmentiu que tenha influenciado o projeto de reforma. Em seu comunicado diz que “de forma nenhuma tentou influenciar a reforma do regime de pensões por repartição em curso perante as autoridades públicas, ou qualquer outro ator do setor”. Só que o autor da reforma renunciou e passados apenas três meses foi admitido na BlackRock como comissário de pensões, seria por puro acaso do destino?
A empresa é a maior gestora de fundos do mundo e importante fundo de investimentos dos EUA. Foi criada em 1988, durante os anos de maior influência do neoliberalismo e está presente em cerca de 100 países, administrando cerca de 7 trilhões de dólares em ativos ao redor do mundo. Segundo a rádio France Info, a subsidiária francesa da BlackRock administra 27,4 bilhões de euros em fundos de clientes franceses.
A título de comparação, o PIB mundial em 2022 pela Austin Rating – 75% do PIB mundial é efetuado por apenas 15 países, e corresponde a pouco mais de 76 trilhões de dólares, o Brasil ficou em 12º lugar. Notamos que a BlackRock administra quase 10% do PIB mundial. Dá para verificar o tamanho gigantesco da concentração da renda mundial.
Em 2017 ela organizou um dia no Palácio do Eliseu para uma delegação de 21 gestores de fundos trazidos pela BlackRock e seu CEO, Larry Fink, segundo o jornal Le Canard Enchainé.
O canal Arte, da França, apresentou um documentário muito comentado nas redes sociais onde aponta que Larry Fink se encontrou várias vezes como o presidente Emmanuel Macron logo após sua posse, isso foi confirmado também pelo jornal Libération.
Como diz o ditado popular, para quem sabe ler um pingo é letra, fica evidenciado que a gigante mundial, BlackRock aumentará ainda mais os seus 7 trilhões de ativos para administrar às custas do empobrecimento dos trabalhadores franceses, se conseguirem concretizar essa barbaridade.
A decisão está nas mãos dos trabalhadores para determinar se terão sucesso ou serão derrotados. Até aqui, a situação está largamente favorável aos trabalhadores, embora Macron não mostre sinais de que vá retroceder, colocando em risco seu mandato. A luta será árdua de qualquer jeito. Aguardemos o desfecho dessa política.
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