“Segundo o TSE, agora é proibido e passível de multas altas (sic) criticar políticos e suas falas em campanha. A liberdade de expressão está caminhando para o seu fim no Brasil”. Assim disse, extraordinariamente com razão, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) por meio de seu perfil no Twitter. A mensagem foi publicada no dia 11 de maio e criticava o funcionamento aberrante do Judiciário brasileiro, que hoje já conta com um vasto repertório de lambanças inventadas para instituir no Brasil o crime de opinião.
Nos últimos tempos, tornou-se comum que deputados e figuras bolsonaristas criticassem o Judiciário, em especial Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) mais empenhado em reprimir pessoas sob a justificativa de “combate às fake news” e defesa das “instituições democráticas”. O próprio Xandão, como ficaria conhecido o ministro, mandou prender provisoriamente mais de mil apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e tomou medidas coercitivas contra elementos como Daniel Silveira e Allan dos Santos.
Mas o tempo, leitor, se encarregaria de mostrar que tudo não passava de uma grande farsa. Por parte do Xandão, a farsa estava no fato de que o ministro não perseguia os bolsonaristas por ser antifascista, mas sim porque é um homem do PSDB – e que, portanto, quer os bolsonaristas a reboque dos tucanos, e não o contrário. A maior demonstração de que Moras não é antifascista coisa nenhum está no fato de que, até hoje, não mandou prender um único general envolvido no ato de 8 de Janeiro. Por parte de Nikolas Ferreira e companhia, a farsa se revelou agora, com o acirramento do conflito entre israelenses e palestinos. Isto é, com o verdadeiro banho de sangue do Estado nazista de Israel sobre o povo palestino.
Os deputados bolsonaristas – todos eles – já haviam passado o vexame de defender o Estado de Israel – uma posição ultra-pró-imperialista. Ou, como dizem os próprios bolsonaristas, uma posição “globalista”. Defender o Estado de Israel é defender os Estados Unidos. E defender os Estados Unidos é defender George Soros, a CIA, a Fundação Ford e todos aqueles que a extrema-direita brasileira diz combater.
Não bastasse esse vexame, agora os bolsonaristas se revelaram não apenas “globalistas”, mas também verdadeiros xandãomínions – isto é, idólatras do ministro Alexandre de Moraes. Agora que a Rede Globo e toda a direita brasileira se unificou em torno da defesa do Estado nazista de Israel, os bolsonaristas decidiram defender que os defensores da Palestina sejam calados com a força da polícia.
Os deputados bolsonaristas já haviam dado várias declarações neste sentido – isto é, de que quem apoia o Hamas deveria ser preso. Agora, no entanto, eles foram além. Nada menos que 27 parlamentares entraram na Justiça com uma queixa-crime contra João Caproni Pimenta, dirigente do Partido da Causa Operária (PCO), por saudar o grupo guerrilheiro palestino. Entre os signatários, estão Carla Zambelli, Bia Kicis, Nikolas Ferreira, Marco Feliciano e Zé Trovão. Na peça jurídica, os deputados chegam ao cúmulo de dizer que defender o Hamas não estaria enquadrado no direito da liberdade de expressão – em outras palavras, que a liberdade de expressão é “limitada”, fazendo coro a toda a campanha reacionária contra a liberdade de expressão que os bolsonaristas diziam combater.
Com a queixa-crime contra o dirigente do PCO, os bolsonaristas tiraram a máscara. Nunca foram a favor da liberdade de expressão – na verdade, sempre foram esses brucutus truculentos acostumados a reprimir os seus adversários. Se defenderam no passado a liberdade de expressão, tudo não passou de mera conveniência: agora que se sentem acobertados pelo conjunto da burguesia, se mostram inimigos mortais de qualquer direito democrático. Mais do que isso, se mostram verdadeiros amantes do Xandão que, oficialmente casados com o bolsonarismo, estão pulando a cerca com o autoritarismo do PSDB.
O pedido de abertura de inquérito foi feito pelos deputados junto à Polícia Civil. No entanto, bem que deveriam ser entregues diretamente ao gabinete do senhor Alexandre de Moraes. Xandão e os bolsonaristas, em essência, são a mesma coisa: capachos dos capitalistas que agem como policiais contra seus inimigos.