Tem sido bastante interessante e ilustrativo o embate entre Lula e o atual Banco Central. Nas últimas semanas, Lula endereçou críticas a Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central nomeado por Jair Bolsonaro, questionou a dita “autonomia” da instituição e definiu como uma “vergonha” a política de aumento de juros praticada.
Os monopólios da imprensa capitalista, era evidente, caíram matando. Os banqueiros e seus funcionários, como, por exemplo, Henrique Meirelles e Armínio Fraga, saíram a campo para criticar o presidente e alertar para os perigos do risco inflacionário. Sérgio Moro, outro capacho do imperialismo, também pegou carona nas críticas e falou que, no lugar de picanha, o que Lula entregará vai ser inflação, ao final. Os representantes do imperialismo na imprensa, na política e na economia levantaram a bandeira da “independência” do Banco Central e ligaram a artilharia contra Lula.
Lula pôs em questão um dos dogmas dos neoliberais. A “independência” do Banco Central é um cavalo de batalha já tradicional dos banqueiros e especuladores internacionais. “Independência” aqui significa nada mais nada menos do que independência em relação ao povo, aos trabalhadores, aos explorados e oprimidos. Trata-se de um Banco Central que não presta contas ao povo. E, como não existe vácuo no mundo político e econômico, o terreno da luta de classes, não é difícil concluir a quem esse Banco Central se submete ― ao conhecido “mercado financeiro”, nome fantasia dos banqueiros e especuladores.
As críticas de Lula demonstram que o presidente eleito sabe que um Banco Central controlado pelos banqueiros é uma ameaça à sua política econômica e, no limite, uma ameaça à sobrevivência do seu governo. A crise econômica capitalista mundial e a polarização social e política obrigam o governante petista a colocar em prática uma política econômica que atenda, ao menos em parte, as demandas e necessidades dos trabalhadores, algo que está em contradição com a política neoliberal e pró-imperialista do Banco Central “independente.”
Mas uma coisa é certa. Recorrendo aos métodos institucionais tradicionais, Lula dificilmente conseguirá enfrentar os banqueiros encastelados no Banco Central. Já é possível ver que Lula não contará com o apoio de outros poderes institucionais. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, já afirmou que a autonomia do Banco Central foi um “avanço.” Nessa questão, como em quase todas as outras de seu programa, Lula não terá outro meio senão recorrer à mobilização popular, se quiser ser exitoso.
O embate em torno da independência do Banco Central é, no fim, uma expressão resumida do que o governo Lula tende a ser e a enfrentar ― um governo que tenderá a entrar em contradição com os ditames do imperialismo dentro do país e que, por isso, caso não queira ser derrotado, será obrigado a apostar na mobilização das organizações populares. Banco Central “independente” será uma arma da burguesia utilizada para sabotar o governo Lula. É preciso acabar com essa dita independência e submeter o Banco Central ao povo e seus representantes.