O desenvolvimento da cooperação entre o BRICS e os Emirados Árabes Unidos (EAU) foi discutido pelo presidente brasileiro, Lula da Silva, com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, o sheik Mohamed bin Zayed Al Nahyan, conforme referido na declaração conjunta após a visita do presidente do Brasil a Abu Dhabi em 15 de abril.
EAU são o segundo maior parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio. Esse país do golfo Pérsico, juntamente com a Argélia, Egito, Irã, Bahrein e Arábia Saudita, já havia declarado oficialmente seu desejo de se juntar ao BRICS.
O presidente brasileiro chegou a Abu Dhabi após sua visita oficial à China, onde as partes, em particular, concordaram em apoiar discussões ativas entre os países-membros do BRICS sobre o processo de ampliação desse formato.
As consultas em Abu Dhabi sobre o desenvolvimento da cooperação entre o BRICS e os EAU foi, portanto, uma contribuição do Brasil para a implementação dos acordos alcançados em Pequim.
Em um comunicado conjunto após as negociações se afirma que as partes concordaram em continuar aprofundando a cooperação em vários campos no âmbito do BRICS. Nos próximos anos, uma dessas áreas provavelmente será a saída do dólar das transações comerciais entre os países membros do BRICS.
Em Xangai, na sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o apelo do presidente do Brasil ao comércio bilateral e ao investimento em suas próprias moedas foi aplaudido por representantes empresariais dos dois países.
Mais tarde, em Pequim, em uma reunião com o premiê chinês Li Qiang, Lula da Silva também pediu um maior uso das moedas nacionais no comércio e na cooperação econômica para ajudar o Brasil a acelerar a reindustrialização e promover o desenvolvimento.
A autonomia monetária ajudará o Brasil a se livrar da influência dos Estados Unidos, acredita o pesquisador visitante do Instituto da China da Universidade de Fudan Liu Dian.
“O maior país em desenvolvimento da América Latina, o Brasil, tem sido tradicionalmente chamado de ‘quintal’ dos EUA. Ele está sob forte influência dos EUA e sua economia está sob pressão do dólar”, disse ele.
“Para Lula, o novo presidente do Brasil e líder das forças de esquerda do país, livrar-se do controle das grandes potências e alcançar a autonomia monetária se torna uma tarefa importante. Ele incentiva os países em desenvolvimento a usar moedas nacionais para pagamentos recíprocos. A área do BRICS poderia se tornar um exemplo do descarte do dólar nas operações comerciais“, acrescentou.
A China, por sua vez, está interessada em expandir a cooperação com o Brasil e a América Latina como um todo, de modo que o apelo brasileiro para a retirada do dólar das transações mútuas, inclusive dentro do quadro do BRICS, está em linha com a sua estratégia para aumentar o uso do yuan nas transações comerciais.
Entretanto, seria um erro simplificar o processo de desdolarização, salientou numa entrevista à Sputnik Liu Dian.
“O status internacional do dólar foi abalado, mas isso não significa que tenha perdido suas fortes posições. O mundo após o fim da hegemonia do dólar não terá necessariamente uma nova ‘supermoeda’. Os países em desenvolvimento provavelmente usarão suas próprias vantagens no crescimento econômico e na cooperação comercial para criar conjuntamente um sistema monetário internacional multipolar mais equitativo e eficiente”, afirmou ele.
“Nesse processo, a influência do yuan pode se expandir. Esse sistema deveria refletir melhor as necessidades dos diferentes países e dar um novo impulso à economia mundial através de uma cooperação equitativa.”
Em entrevista à Sputnik, Nikita Maslennikov, especialista do Centro de Tecnologias Políticas, prevê uma mudança radical no procedimento internacional de pagamentos e transações e no sistema monetário mundial em geral nas próximas décadas.
“Esta tendência começou a se formar depois que a economia mundial emergiu da crise de 2008-2009. Já então, atores importantes do mercado e economistas começaram a pensar que o valor do dólar era fortemente superestimado, que deveríamos nos mover em direção a um sistema multimoeda“, observou ele.
“Quanto mais moedas servirem ao comércio global, quanto mais centros monetários, melhor. A dinâmica nesse sentido acelerou ao longo do ano passado, especialmente na sequência da pressão das sanções sobre a Rússia. Levará cerca de 10-15 anos para construir um sistema monetário multipolar e multicomposto.”
Entretanto, há duas perguntas para as quais ainda não há respostas, acrescentou Nikita Maslennikov: “O que substituirá o dólar – uma composição de moedas, quaisquer outros ativos, por exemplo, o ouro, pacotes de energia?”
“Há muitas posições, mas nenhuma delas domina. O poder do yuan cresce dentro das relações bilaterais da China com muitos países. Isso é bastante rentável, porque reduz o custo para o comércio. O movimento em direção a um mundo monetário multipolar poderia ser muito acelerado pela digitalização das moedas nacionais”, disse Maslennikov.
“Mais de 50 bancos centrais estão projetando esse tipo de moeda ou testando a formação de moedas nacionais digitais, incluindo China, Rússia e Japão. A digitalização não só afetará as transações nacionais, mas, pela sua conveniência, pode mudar significativamente toda a arquitetura de pagamentos e transações internacionais.”
Mas, segundo o especialista permanece a questão sobre quais moedas digitais serão usadas principalmente.
De acordo com o China Daily, o yuan representou 2,19% dos pagamentos globais em fevereiro, em comparação com 1,91% um mês antes. Dados da plataforma de pagamentos global SWIFT mostram que a participação da moeda chinesa no comércio internacional mais do que dobrou, para 4,5%, no ano passado, principalmente devido ao crescimento do fornecimento de energia russa à China.
Na véspera da visita de Lula da Silva à China, o Banco Industrial e Comercial da China fez sua primeira transação diretamente em yuans no Brasil, após a assinatura de um acordo bilateral sobre o uso de moedas nacionais em transações comerciais e o estabelecimento de uma câmara de compensação para o yuan e real.
Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita fez um acordo com a China sobre pagamentos do petróleo parcialmente em yuans. Os EAU fornecem gás natural liquefeito (GNL) em yuans à China. Finalmente, foi feito o primeiro acordo para a França comprar GNL da China em yuans.
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