Nesta terça-feira (5), o presidente venezuelano Nicolás Maduro apresentou um novo mapa da Venezuela, incluindo a região de Essequibo como um novo estado venezuelano.
Acompanhando a imagem, declarou em sua conta oficial do X (antigo twitter):
“Imediatamente ordenei publicar e levar a todas as escolas, colégios, Conselhos Comunitários, estabelecimentos públicos, universidades e em todos os lares do país o novo mapa da Venezuela com a nossa Guiana Essequiba. Este é o nosso querido mapa!”.
Ordené de manera inmediata publicar y a llevar a todas las escuelas, liceos, Consejos Comunales, establecimientos públicos, universidades y en todos los hogares del país el nuevo Mapa de Venezuela con nuestra Guayana Esequiba. ¡Este es nuestro mapa amado! pic.twitter.com/qliW31Lyb9
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) December 6, 2023
No mesmo dia, o presidente venezuelano apresentou um projeto de lei, determinando a criação do 24º estado. Trata-se da Lei Orgânica para a Defesa da Guiana Essequiba, através da qual também foi nomeado o general Alexis Cabello para governar a mais nova região, provisoriamente, o que deverá ser feito através de uma Zona de Defesa Integral, com sede em Tumeremo, no Sul da Venezuela. No mesmo sentido, foi anunciada também a criação de uma Alta Comissão para a Defesa da Guiana Essequiba, que será coordenada por Delcy Rodríguez, vice de Maduro.
Para além disto, Maduro ativou um Plano de Atenção social para a população da Guiana Essequiba, com os objetivos de realizar um censo, promover a entrega de carteiras de identidades a seus habitantes, além de criar de um escritório do Serviço Administrativo de Identificação, Migração e Imigração. (Saime) em Tumeremo.
Finalizando, o mandatário venezuelano autorizou a PDVSA, estatal petroleira venezuelana, e a Corporação Venezuelana da Guiana (CVG) a criar as divisões Pdvsa Esequibo e CVG Esequibo, bem como conceder licenças de operação para exploração e exploração de petróleo, gás e mineração.
As medidas anunciadas por Maduro mostram um escalamento nas tensões entre a Venezuela e o imperialismo, em especial os Estados Unidos, principal país do bloco, que tem na América do Sul seu “quintal”. Desde o último fim de semana, Maduro e representantes do imperialismo vêm aumentando o tom de voz ao se referir um ao outro.
No último sábado (3), ocorreu um referendo consultivo na Venezuela, em que mais de 95% dos eleitores (10.554.320) votaram sim para que o país anexe a região de Essequibo, objeto de disputa histórica entre a Guiana e a Venezuela, e a qual só continua sendo parte daquele país em razão do poder do imperialismo.
Se o referendo, por si só, já representou um aumento nas tensões entre o país sul-americano e o imperialismo, em especial o norte-americano, os eventos que se seguiram vêm intensificando mais ainda as relações. Mas antes de adentrar nos eventos que demonstram o aumento das tensões, cumpre situar o leitor.
Pois bem, o referendo fora composto de cinco perguntas, quais sejam:
- Você concorda em rejeitar por todos os meios e de acordo com a lei, a linha interposta fraudulentamente pela Sentença Arbitral de Paris de 1899, que visa privar-nos de nossa Guiana Esequiba?
- Você apoia o Acordo de Genebra de 1966 como o único instrumento jurídico válido para alcançar uma solução prática e satisfatória para a Venezuela e a Guiana em relação à controvérsia sobre o território da Guiana Esequiba?
- Você concorda com a posição histórica da Venezuela de não reconhecer a jurisdição da Corte Internacional de Justiça para resolver a controvérsia territorial sobre a Guiana Esequiba?
- Você concorda em se opor, por todos os meios legais, à reivindicação da Guiana de dispor unilateralmente de um mar pendente de delimitação, ilegalmente e em violação do direito internacional?
- Você concorda com a criação do estado Guayana Esequiba e o desenvolvimento de um plano acelerado de atenção integral à população atual e futura daquele território, que inclua, entre outros, a concessão de cidadania e carteira de identidade? Venezuela, em conformidade com o Acordo de Genebra e o Direito Internacional, incorporando consequentemente o referido estado no mapa do território venezuelano?
Os eleitores votaram majoritariamente sim para todas eles, sendo 97,83% para a primeira; 98,11% para a segunda; 95,40% para a terceira; 95,94% para a quarta e 95,93% para a quinta e última questão.
Uma demonstração de que milhões de venezuelanos deram seu apoio a uma reinvindicação nacionalista e anti-imperialista, afinal, o fato de o território de Essequibo pertencer oficialmente à Guiana decorre do histórico deste país como colônia da Grã-Bretanha que, através de tratados firmados nos séculos XIX e XX, estabeleceu o território como parte de seu império. Frisa-se que tais tratados nunca foram reconhecidos pela Venezuela. Ademais disto, deve-se ainda atentar para o fato que, atualmente, a Guiana é um país controlado por monopólios petroleiros imperialistas, tais como a ExxonMobil, conforme já noticiado por este Diário:
Já no dia seguinte ao referendo, domingo (4), o presidente Nicolás Maduro ratificou o caráter vinculante da consulta pública, formalizando a força de lei contida na decisão popular. “este referendo é vinculativo e acato a decisão do povo”, disse o mandatário, rechaçando a campanha de calúnias do imperialismo e de sua imprensa contra o povo venezuelano, que se seguiu ao referendo. Nisto, fez questão de denunciar o monopólio imperialista da ExxonMobil, sua atuação na Guiana, e o fato de não representar os interesses do povo Venezuelano:
“Aos que tentam ignorar o voto popular, para manchar o referendo; à direita que é pró-ExxonMobil e que apoia os interesses da Guiana e não os interesses da Venezuela: este referendo é vinculativo e cumpro o mandato do povo”.
Aproveitou ainda para denunciar a farsa do discurso demagógico da “democracia” por parte do imperialismo, que sempre chama de ditatorial a decisão de um povo, quando vai contra seus interesses:
“Se a voz do povo e o voto do povo não são vinculativos, o que é?”.
A iniciativa nacionalista tomada por Maduro é mais uma demonstração da crise generalizada do imperialismo. Nos últimos anos, inúmeros episódios políticos serviram para comprovar que o bloco imperialista como o todo está em uma espiral de crise da qual não consegue se desvencilhar de forma alguma, e que ruma a passos largos ao seu colapso. Limitando-nos aos últimos 3 anos, tivemos, em 2021 a catastrófica derrota dos Estados Unidos no Afeganistão, cujo exército imperialista foi expulso por famélicos guerrilheiros camponeses. Desde 2022, tanto os EUA quanto a Europa ocidental vêm sendo derrotados pela Rússia na Ucrânia. A cada dia que passa, a consumação da derrota no leste europeu parece mais provável. E, agora, há pouco mais de um mês, o imperialismo, e sua principal ponta de lança no Oriente Médio, o sionismo, sofreram duas impactantes derrotas para o Hamas e a resistência palestina (a ação do dia 7 e a trégua do dia 24).
Todo esse precedente mostra claramente a decadência do imperialismo, expondo-a para todos os países oprimidos do mundo. A Venezuela, através de Nicolas Maduro, vê a fraqueza dele, de forma que agora aproveita a janela de oportunidade para levar adiante essa reivindicação territorial do país sobre a região de Essequibo, que já é histórica, e possui um caráter nacionalista, outrora anti-colonial, e agora anti-imperialista, devendo ser apoiada por todos os povos oprimidos do mundo.