Levando cerca de 6 mil manifestantes à Paulista no último dia 4, o tema da defesa da Palestina revelou-se uma reivindicação não só muito popular, mas também, como está errado o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) em manter-se em uma posição centrista. Fosse seu plano facilitar a repatriação dos brasileiros ainda presos em Gaza por pressão velada de Israel, ou se cacifar como um interlocutor isento, o plano de Lula visivelmente falhou, dado o fracasso retumbante desses que poderiam ser dois objetivos para o centrismo adotado pelo Palácio do Planalto.
O imperialismo não mudou sua percepção, de que Lula é um inimigo que, tão logo as condições estejam dadas, precisa ser esmagado. Longe de torná-lo palatável e aceito, a posição do presidente petista evidencia fraqueza, sendo um flanco aberto para os ataques daqueles que já derrubaram o PT uma vez e cedo ou tarde, voltarão sua artilharia contra o principal líder da classe trabalhadora brasileira.
Além disso, desde a primeira manifestação em apoio à causa palestina, ocorrida no restaurante Al Janiah em outubro, grupos da esquerda pequeno-burguesa vem se aproveitando da vacilação do governo para atacar Lula, inclusive equiparando-o a Bolsonaro e ao governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Até mesmo ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, Lula foi associado em material de convocação de uma manifestação ocorrida no último dia 2 foi usado pela juventude do PSTU, o Juventude Rebeldia.
Após os ataques, os esquerdistas buscam agora eliminar a politização dos atos, abolindo os partidos, brasileiros e palestinos, como o Hamas e a Jihad Islâmica. Trata-se de uma reprodução da tática bem sucedida vista em junho de 2013, que foi ótimo para levar as grandes mobilizações da época para a direita, mas teve resultados desastrosos para o governo do PT e para o País. À época, a direitização das manifestações contra os governos de Minas, Rio e São Paulo impulsionou o surgimento daqueles que futuramente seriam os bolsonaristas.
A extrema-direita mobilizada foi o principal saldo político inconsequente dos esquerdistas, com dois anos de Temer e quatro de Bolsonaro como efeitos colaterais. Aparentemente, o oportunismo desses setores desorientados, além de desconhecer a noção de limites, é um tanto de desmemoriada.
É preciso dizer, contudo, que o PT tem também um papel importante nisso. Como em 2013, a capitulação também cumpre o papel de desmoralizar a imensa militância petista, facilitando a operação golpista arquitetada por PSTU, MES-PSOL e outras organizações da esquerda pequeno-burguesa.
A política centrista adotada por Lula termina por colocá-lo em uma posição incômoda, onde nem pode ser considerado pró-Palestina e nem pró-Israel, desmoralizando o presidente. É preciso superá-la com urgência e a exemplo do que fizeram outros chefes de Estado, posicionar-se ao lado da resistência palestina, rompendo relações diplomáticas com Israel e denunciando a política nazista de limpeza étnica promovida pelo sionismo contra os povos árabes da Palestina.
Ficar em cima do muro em um momento de crise é o caminho certo para o desastre. Vimos no passado quão danoso para o povo e para a classe trabalhadora isso pode ser. A manutenção dessa política centrista levará, inevitavelmente, o governo para uma crise, onde a iniciativa estará nas mãos das forças golpistas. Que o presidente Lula não cometa erros graves já cometidos e adote imediatamente a defesa da Palestina.